AA 2023-24

 

                                                                                                                                                                                             

                                                                                                                                                                                                               sebentas 2023

 

Quadro de Sumários

 

 

UNIDADE 1 Objecto e objectivos

Semiologia ou semiótica: um objeto próprio?

Semiologia ou semiótica?

Perspectivas e níveis de estudo

Funções e operação do sinal: uma primeira aproximação

UNIDADE 2 O significado

Comunicação e significado

O significado e sua descrição

O significante

O significado

O referente

UNIDADE 3 Famílias de signos

Pista

Ícones

Símbolos

Sinais em sentido estrito

Os sinais e a realidade

Número de sinais

UNIDADE 4 A descrição semiótica

1 Gramatica e seus componentes

2. Os componentes de uma semiótica

3. O princípio da oposição

4. Sistema e código

5. Sintagma e paradigma

6. A articulação

7. A organização global de significado

UNIDADE 5. A comunicação

O receptor: outra entidade teórica

O referente: não é uma 'coisa'

O canal: as limitações físicas do signo

O código. Segunda aproximação

O código como interface

Códigos como locais de negociação

As mensagens: códigos de intercalação

 

UNIDADE 6 As funções da comunicação

Função emocional ou expressiva

A função conativa ou imperativa referencial

A função de contacto

A função metassemiótica

A chamada função poética

UNIDADE 7 Teoria semiótica: De Saussure

langue e parole

signo linguístico: arbitrariedade e linearidade

signo: mutável e imutável

sincronia e diacronia

identidade e valor

relações: sintagma e associação

UNIDADE 8 A Semiótica universal de Pierce

Visão pansemiótica do mundo

1. As três categorias universais

2. Signo, Semiose e semiótica

3. Os representamen do signo

4. O objecto

5. Objectos reais e mentais

6. Objecto imediato e objecto dinâmico

7. Objecto e auto-referência

8. O interpretante e a semiose limitada

9. Definição de interpretante

10 Semiose ilimitada

11. A ideia da circularidade hermenêutica

12. Os três interpretantes

 

UNIDADE 9 A classificação dos signos

1. Primeira tricotomia

2. Categorias do pensamento e da natureza

3. Primeiridade

4. Segundidade

5. Terceiridade

6. Definição de Signo

7. Classificação dos signos

8. As fontes soviéticas

9. A matriz Saussureana

 

UNIDADE 9 Teorias semióticas: Hjelmslev e Greimas

 

nível profundo das estruturas narrativas

semântica fundamental

sintaxe fundamental

teoria da enunciação

elaboração teórica da enunciação

semântica discursiva

semiótica visual

 

 

           1a aula 10 de Outubro história da semiótica

 

 

Introdução

 

Conceitos básicos

O começo da semiologia é da procurar na antiguidade clássica. Quando os médicos referindo-se aos sinais patológicos e observando o paciente definiam o diagnóstico.

Def: Etimologicamente a palavra semiologia define a ciência que estuda o sistema de signos e os seus significados.

O termo foi usado pelos alunos de De Saussure quando publicaram o curso de linguistica geral do seu mestre. Este termo tomou relevância na Europa enquanto no mundo anglo-saxônio foi usada a designação de semiótica enquanto teoria dos signos afirmada por Charles Sanders Pierce. Portanto esta disciplina foi objecto de estudo de duas escola paralelas:

A Semiótica, se apresenta como uma ciência que investiga os diversos sistemas de signos, também contribui para enfrentar as questões que derivam da interpretação dos significados.

«A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenómeno como fenómeno de produção de significação e de sentido. Seu campo de indagação é tão vasto que chega a cobrir o que chamamos de cultura» (Santaella, 2017, p.1)

Os signos são elementos que compõem com um sistema semântico constituindo universos simbólicos que devem ser interpretados a partir de significados descodificados.

Ao longo de toda a historia da semiótica emerge o signo como elemento que plasma o conhecimento e o torna possível. A nossa disciplina que consta de duas ciências Semiótica e Semiologia oferece conceitos, teorias e métodos para organizar o conhecimento e para possibilitar a decodifica dos universos simbólicos que a cultura abrange. Por isso enfrentamos o estudo dessas duas ciências. Sem a história das teorias semiótica a partir de filósofos e semiólogos é difícil perceber a variedade das interpretações. Eis, portanto, uma síntese dos conceitos­ chave mas e das ideias que levaram do ponto de vista histórico ao surgimento da Semiótica

Capítulo 1: História da Semiótica

 

Periodo Grégo-romano antigo

Parménide

Segundo Parmênides, visto que o Ser é inexprimível (porque é imóvel, único e necessário), a experiência do real é ilusória e, portanto, a linguagem consiste em 'aplicar rótulos às coisas ilusórias. Mas, como tais coisas não existem, isso significa que a linguagem é uma ferramenta puramente funcional e convencional, que pode se explicar sem referência à realidade. Da sintaxe fenícia, ele não tinha apreendido que existem dois verbos homônimos, o ser enquanto predicado e com significado de existência, por outro lado, o ser usado como uma cópula para apresentar uma qualidade: pelo contrário, ele tinha visto a unidade original dos dois verbos em sua própria maneira na separação dos dois significados, atestada a ele pela comparação com o fenício, erro, incapacidade, indecisão, até mesmo duplicidade e simulação; e fez do significado único o dogma de sua lógica e conseguinte ontologia. Não há mais maneiras de ser; e, portanto, não há passagem de um para o outro (mudança de lugar e qualidade, multiplicidade temporal ou espacial ou simplesmente numérica). Ser, «tudo inteiro e homogêneo », opõe-se ao: análogo homogeneidade do não ser; e, portanto, não há passagem do primeiro para o segundo (morte) nem do segundo para o primeiro (nascimento), e estritamente falando, nem passado nem futuro, que com o presente eles ainda têm uma relação de mudança, que é nascimento ou morte de qualidade. O verbo o ser se expande, dessa forma, até regular toda a realidade, identificando-se com a 'verdade completa' anunciada no início (Capizzi, 1975, p. 64).

Heráclito

Heráclito, que parece ser o primeiro a proclamar, pelo menos implicitamente, a doutrina de que a linguagem existe 'por natureza'. Só os sentidos nos mostram o real, o múltiplo, e a linguagem serve justamente para nomear essa multiplicidade: são as coisas, os objetos que a determinam. Debate sobre a linguagem no pensamento pré-socrático

 Eraclito é um dos primeiros a tratar deste assunto. (Eraclito 1993:90-93). Por Ele cada conteúdo mental e cada visão se exprime num λόγος que indica seja o discurso que exprime o pensamento como também o pensamento que se manifesta no discurso. O sinal linguistico, ou seja o λόγος e o όνομα (nome) não é algo de puramente funcional que pode ser substituído por uma outra coisa semelhante. Mas é expressão e sinal da realidade-verdade da coisa à qual faltaria algo de essencial se ela não pudesse exprimir-se num λόγος e num όνομα. Tudo aquilo que não se pode exprimir não é nem real nem conceptual, portanto, aquilo que não é real não é nem pensável nem muito menos exprimível. A forma (είδος) de uma coisa é a mesma forma que assume a nossa visão daquela coisa (Giannantoni 1975: 36 ).

 

Empédocle

Empédocles de Agrigento parece compartilhar a concepção parmenídica da 'convencionalidade da linguagem'; mas o que mais importa nos primeiros pensadores gregos é antes de tudo a reflexão sobre sua natureza ambígua e equívoca (hoje diríamos “polissêmica”), sensacionalmente destacada com as aporias de Zenão, e sobre a necessidade de elaboração de uma linguagem exata. Entre outras coisas, não se deve subestimar que todos os primeiros filósofos são também e acima de tudo cientistas (Calabrese, 2001, p. 11).

Demócrito

Ainda sobre a convencionalidade da linguagem, embora demonstrada de maneiras diferentes, também apontam Demócrito, os sofistas e o megárico. Demócrito oferece uma explicação baseada em quatro argumentos empíricos. Os nomes são dados por convenção: se assim não fosse não teríamos a homonímia, para a qual só existe um nome para designar coisas diferentes; não teríamos nomes diferentes para designar a mesma coisa (é surpreendente pensar que esse argumento é central para as análises de Frege de Sinn e Bedeutung); não haveria possibilidade de mudar os nomes; finalmente, quarto argumento, mas muito mais fraco, haveria analogia na derivação de nomes (Calabrese, 2001, p.12).

Gorgias

Os sofistas, os primeiros teóricos ante litteram da comunicação de massa e da mensagem persuasiva, inventores da retórica, encontraram sua fé na convencionalidade da linguagem na diversidade que existe, em um nível material, entre nomes e coisas. Portanto, é impossível que o conhecimento deles seja comunicado por meio de nomes. Górgias afirma que 'a linguagem não manifesta coisas existentes assim como uma coisa existente não manifesta sua natureza a outro deles ”. Ou seja, a linguagem é um objeto autónomo diante de outros objetos e pode ser explicada por seu interior. A prova é que por meio dela se pode argumentar coisas opostas, independentemente da verdade de uma delas. Com argumento semelhante, mais de dois mil anos depois, Umberto Eco qualifica a semiótica como uma 'teoria das mentiras'.

Ippócrate

primeira abordagem metodológica do problema da semiose. Na verdade, os médicos gregos constroem um sistema de prognóstico (como analisar a doença e sobretudo suas consequências?) A partir não mais da analogia, como nos saberes mágicos, mas a partir da fenomenologia, dos dados da realidade como ela se apresenta. Em uma visão mágica do mundo, nos baseamos no princípio de que o que vemos deve ser rastreado até algo oculto, que apenas uma 'segunda visão' pode interpretar. Uma 'segunda visão' que é obviamente prerrogativa de alguns, eleita pela divindade que a concedeu. A relação entre o que se vê e o que se esconde funciona por analogia, ou seja, de forma casual. Em vez disso, no pensamento fenomenológico (que é por definição profano), a ideia de uma estrutura dupla do mundo é mantida, a aparência e a substância que estão escondidas lá, mas a capacidade de alcançar a segunda depende do método causal com o qual um, eles remetem certos fenômenos a outros que são sua matriz. A visão, portanto, deixa de ser o único sentido com o qual a realidade é apreendida. O médico também tira seus dados de partida dos sentidos do olfato, tato, audição e até paladar, e elabora um raciocínio que leva à provável identificação da origem, estado e curso da doença (passado, presente e futuro), com a possibilidade de intervir sobre este através dos meios adequados.

Em suma, os dados sensoriais da realidade são interpretados como signos (σημεία), ou seja, como seria melhor dizermos hoje, como sintomas. Mas isso só acontece enquanto esses dados se repetem, mostram uma certa regularidade. Nesse sentido, o raciocínio necessário é hipotético (hoje dizemos: abdutivo). Em suma, é um caso individual. Presume-se que faz parte de uma regra geral. O caso é tratado como sujeito a esta regra e o resultado é então indicado. Uma vez que o rapto tenha funcionado, porém, para os hipocratas também há uma verificação: eles continuam a aplicar o método e, se funcionar, deduz-se que a regra geral é válida e o que era um sintoma passa a ser um teste. O σημεΐον se transforma em τεκμήριον.

Considerações teóricas sobre o sintoma também são importantes. Na verdade, há indicações sobre as formas como o médico deve tratá-los, por exemplo, a frequência e a intensidade, as características do paciente e a combinação com outros sintomas. Extraordinário, então, é uma passagem do prognóstico em que também é feita referência à linguagem de descrição dos sintomas do paciente sintonizado pelo médico, e até mesmo à sua 'linguagem natural', ou seja, emoções e expressões somáticas.

Os sintomas, entretanto, têm um caráter polissêmico e polifuncional que os torna muito semelhantes a uma linguagem. De fato, no mesmo prognóstico e em epidemias afirma-se que um sintoma pode ter significados diferentes, assim como um mesmo significado pode se manifestar por meio de sintomas diferentes. Além disso, os sintomas podem, de tempos em tempos, indicar um futuro prognóstico diferente: serem qualificados como bons, ruins ou mortais dependendo de sua localização no caso específico. Insônia: o prognóstico funciona referindo-se a um sistema, mas somente e somente se aplicado a um processo.

Por fim, um último elemento de interesse é o papel atribuído ao médico, entendido como intérprete. Nesse sentido, já nos deparamos com uma definição sofisticada de semiose, uma vez que esta se define como um processo de significação, em que um signo se refere a outra coisa, mas apenas a respeito de um ponto de vista e de quem, no entanto, o expressa. , uma vez que o próprio médico (como intérprete) trabalha um material também discursivo (o diálogo com o paciente), já está presente uma dimensão pragmática da semiótica: ou seja, a relação entre signos e usuários de signos.

Enesidemo

Depois de denunciar a pretensão de encontrar as causas dos fenómenos, Enesidemo passa ao problema da inferência ou, para falar em linguagem antiga, ao problema dos ’signos’, ao qual dedicou análise especifica, talvez a primeira que tenha sido feita no âmbito do pensamento antigo. O núcleo essencial de seu pensamento é o seguinte: no momento em que pretendemos interpretar um fenómeno como um ‘signo’, colocamo-nos sobre um plano metafenoménico, enquanto entendemos o signo como o efeito (que se manifesta) de uma causa (que não se manifesta), ou seja, pressupomos simplesmente (indevidamente) a existência do nexo ontológico entre o signo e o fenómeno que ele significa daí a sua validade universal (Reale 2007:341).

Platão (427-347)

Os lugares para a reconstrução a doutrina semiótica de Platão são múltiplos: apenas para citar alguns, Republica 382e e Timeu 7ia-72b, onde Platão discute signos divinos; ou Teetetus 191a 195b, uma passagem na qual o paralelo entre o conhecimento da alma e o sinal (erros de digitação) deixado por um selo na cera é desenvolvido; ou Gorgias 52od-e, onde uma teoria do signo como inferência é desenvolvida.

O diálogo em que Platão desenvolve sua reflexão mais completa sobre os signos, porém, é certamente o Crátilo, cujo tema central é a natureza da linguagem.

Def de Signo

Nesse diálogo, Platão define o signo, em continuidade com a tradição grega anterior, como a revelação de um objecto não perceptível com os sentidos (significado ou essência da coisa nomeada);

no Cratilo, como em outros diálogos, de facto, o termo sêmaínõ (“quero dizer”) aparece como intercambiável com o verbo dêlóõ (“manifestar” ou “revelar”).

No Cratilo Platão se esforça para chegar a uma solução especulativa equilibrada e madura, partindo das posições opostas dos protagonistas do diálogo: Cratilo, defensor de uma doutrina naturalista dos nomes, para a qual estes são um produto não arbitrário capaz de apreender a natureza de as coisas nomeadas, e Hermogenes, que professa uma teoria convencionalista segundo a qual a concordância entre os falantes determina a correção do nome.

As duas posições são refutadas por Platão por meio de uma reductio ad absurdum. O naturalismo de Cratilo, de fato, leva à impossibilidade de verificar a exactidão do 'nome' do objeto a ser conhecido: ou o signo em questão é realmente o reflexo semântico da natureza do objeto a que se refere, pois o termo é totalmente correto. O conceito de imitação, que está na base da doutrina do signo de Crátilo, leva então a outras aporias, como a da reduplicação da realidade: se a mimese entre o signo e a realidade é perfeita, então duas realidades completamente indistinguíveis são simplesmente criadas e o signo perde sua função (Crátilo 423b-c).

O convencionalismo de Hermógenes, por outro lado, leva à admissão de que nenhum nome, uma vez escolhido arbitrariamente para nomear uma realidade, pode ser incorrecto; mas então, como qualquer um poderia fazer uma nova imposição do nome à coisa, substituindo um termo por outro, o risco inerente a essa posição é o de um relativismo absoluto, com tantas línguas quantas pessoas que falam.

Platão, consequentemente, elabora sua própria solução a partir de uma doutrina do nome como forma (eidos). A tarefa do nome é produzir um conhecimento das coisas, mas para isso é necessário que o nome tenha a forma correta; a forma do nome é a maneira como o próprio nome capta a natureza da coisa, reproduzindo a estrutura de relações e dessemelhanças entre a própria coisa e todas as outras realidades (a questão do nome, por outro lado, pode ser identificada com a vestimenta fônica que a reprodução assume em várias línguas). O conceito de 'expressão' de Hjelmslev: no nome, a forma da expressão varia (as diferenças presentes nas várias línguas), mas a do conteúdo (a forma / eidos, a forma como a estrutura da realidade é descrita) permanece a mesma. Desse modo, o significado do nome (expressão que pode traduzir o conceito platônico de dynamis  Cratylus 394b-c) capta a essência da coisa e produz uma convergência entre a dimensão semântico-linguística e lógico-dialético-ontológica dimensão.

Isso, no entanto, é para Platão apenas a teoria do signo ideal, que descreve o funcionamento de uma linguagem perfeita, o resultado de um conhecimento adequado.

Em geral, toda a teoria platônica pode ser interpretada como uma doutrina de signos e seus referentes metafísicos, as Ideias. De facto, os signos (estendemos a noção platônica aqui, porque o grande filósofo grego sempre se refere à linguagem verbal) são ferramentas para representar coisas que, por sua vez, nada mais são do que sombras nos olhos do homem prisioneiro da caverna. Isso significa que a relação entre nomes e Ideias é mediada, os nomes refletindo apenas algumas particularidades (por imitação) das Ideias. Se não fosse esse o caso, Platão aponta, nome e Ideias coincidiriam. O fato é que é bastante sugestivo observar como a concepção platônica do processo do signo envolve três termos em uma relação desse tipo:No entanto, se olharmos para suas origens e, ainda mais simplesmente, para o termo 'signo' - fundamental para a semiótica -, entenderemos facilmente como sua história é mais antiga e complexa.

Crátilo sintetiza, sem aparentemente resolvê-las definitivamente, as teorias semióticas a da antiguidade grega, baseada principalmente na disputa entre φύσις e νόμος, (ο θήσις), ou seja, entre natureza e convenção. A tese de Cratilo, de derivação heraclitiana e cínica, é que os nomes e sua 'lei' são por natureza, isto é, ligados à própria existência das coisas, das quais são o espelho fiel. A tese de Ermogene é, ao invés, que os nomes são atribuídos por convenção, isto é, devido ao acordo dentro de um grupo social e à estratificação do uso comum. Visto que as coisas não têm um nome por natureza, é evidente que os nomes têm um valor próprio e podem mudar com o tempo: arbitrariedade do signo linguístico: se todas as ações têm uma realidade objetiva e estável, e nomear é uma ação, então até nomear não depende apenas do homem, mas da maneira como a natureza quer que as coisas sejam nomeadas. A concepção de linguagem que deriva dessa tese também é extremamente interessante: se nomear é uma ação, ela se dá por meio de um instrumento, e esse instrumento é justamente o nome, o signo lingüístico. Mas Platão também refuta, ao mesmo tempo, a tese da naturalidade. Inicialmente o faz de forma mediada, afirmando que, se existe uma relação natural entre nome e coisa, também é verdade que a adaptação do nome à coisa sempre se dá por força de uma lei. Pela primeira vez, surge uma concepção de linguagem como um sistema estruturado e a distinção entre a coerência interna do sistema e a representação objetiva da realidade.2 No Sofista, a teoria do espelhamento (isto é, da correspondência entre nomes e coisas) é ainda rejeitada, também com base na consideração de que nomes únicos não significam se não forem inseridos no contexto do discurso.

Por outro lado, é evidente que nenhuma das duas concepções (ambas dogmáticas) pode concordar com Platão, em virtude de sua concepção socrática da verdade como um descartável da dialética, ou seja, como um conhecimento que pode fazer uso de signos, mas apenas sob a condição de chegar a um discurso interno e não a uma mera opinião. E, de fato, as várias e às vezes discordantes definições que Platão dá dos signos são consistentes com essa suposição. Por exemplo, às vezes o filósofo grego fala deles como sinais enviados pelos deuses, e que devem ser interpretados (correndo o risco de imprecisão); em outros casos, são marcas deixadas na consciência pelas coisas (e, portanto, imperfeitas); em outros lugares ainda se trata dos signos da escrita, que têm uma finalidade mnemônica (e, portanto, não fornecem certos conhecimentos, mas podem fazer perder a memória do discurso interior, como acontece com Thamon, rei de Tebas, quando Teuth o oferece os sinais alfabéticos); e, finalmente, podem ser indicadores que produzem inferência e, portanto, contribuem, mas não determinam, a razão da verdade.

Outro elemento de interesse de Cratilo é a distinção, que permanecerá por muito tempo firme nas elaborações seguindo Platão, entre a verdade dos nomes e a verdade dos enunciados. A verdade dos nomes depende de uma semântica ideal, que poderíamos chamar moderadamente extensional: de sua conexão não tanto motivada quanto pelo menos analógica com os significados representados pelos nomes na ausência das coisas correspondentes. Só que, na realidade, esse vínculo é muito subjetivo: não depende de uma essência universal da coisa apreendida através do significado e transferida deste para o nome, mas do ponto de vista com o qual quem estabeleceu um nome acredita que o tenha captou uma essência. Em suma, toda linguagem é fatalmente histórica e, no final, acaba sendo sujeita à aceitação coletiva de uma convenção, talvez pelo hábito do uso

Os aspectos que Platão tratou são os seguintes;

Platão usa o termo semeion no Timeu para expressar a maneira pela qual os sinais de adivinhação 'indicam o futuro ou o mal'. Portanto, referindo-se a um significado óbvio e que comunica suas verdades aos homens (Bettetini 2005, p. 1). O modelo platónico do signo tem uma estrutura triádica, na qual é possível distinguir os três componentes do signo:

As Ideias, para Platão, são entidades objectivas que existem seja na nossa mente, como também possuem realidade na esfera metafísica além do indivíduo.

Uma das questões levantadas é se a relação entre o nome, a ideia e a coisa é natural ou é a sociedade que com as suas convenções sociais estabelece o significado, que acaba por ser desenraizado do objecto tornando-se arbitrário (a estatua do pensador). As respostas platónicas são:

1) signos verbais, naturais, assim como convencionais são só  representações incompletas da verdadeira natureza das coisas;

2) as ideias são representadas por palavras que por vezes não manifestam a verdadeira natureza das coisas sendo simplesmente representações independentes:

3) Os signos permitem à mente de conceber cognições que são conceitos abstractos e inferiores às abordagens empíricas directas da realidade (Noth 1994:28).

As palavras transmitem e exprimem a verdade permitindo um conhecimento abstracto que è sempre inferior ao conhecimento directo das coisas

Na Grécia os signos foram descritos como omina, ou presságios a serem interpretados por oráculos.

O signo em si contem um significado ou seja uma percepção duma coisa escondida que quando for desvendada permite a cognição. Por Platão o verbo "significar" (semainein) é sinónimo de  revelar, manifestar (Noth 1994:28-29).

Aristotele (384-322 a.C.)

O pensamento aristotélico marca uma virada decisiva na história da semiótica. Aristóteles conscientemente usa a palavra 'signo' pela primeira vez no sentido moderno isto é, 'referência a outra coisa' e, de facto, fornece o primeiro arranjo orgânico da concepção da linguagem como um repertório de elementos que se relacionam com os elementos constitutivos de uma realidade única e universal.

Os termos sumbolon, semeion e tekmerion aparecem mesmo antes de Aristóteles, nas práticas de adivinhação, no entanto

Aristóteles distingue entre

1) signo incerto (semeion)

2) o signo certo (tekmerion)

e enquadra a teoria dos signos no Organum como matéria da lógica e da retórica. Em geral, definiu o signo como uma inferência silogística: se (a) implica (b), portanto (c) torna-se signo de (b). Na Primeira Analítica explica tal definição:

«As coisas que ocorrem na voz são símbolos dos afetos da alma, e os escritos são símbolos das coisas que estão na voz; E como os sinais gráficos não são os mesmos para todos, nem mesmo as formas fônicas individuais são as mesmas; alguns destes últimos são, no entanto, basicamente sinais, o mesmo para todos são os afetos da alma, e as coisas das quais esses afetos são imagens semelhantes, eles também são iguais para todos».

Além disso, Aristóteles descreveu o signo como uma premissa que conduz a uma conclusão:

«O signo [...] quer ser uma proposição bem certa ou necessária ou também corresponde a uma Opinião».

Chamou o signo linguístico de "símbolo" sumbolon e o definiu como um signo convencional das "afecções (paqhmata) da alma". Descreveu essas afecções como "retratos" das coisas (pragmata). O modelo do signo aristotélico é, portanto, triádico (Noth 1994, p. 28).

Aristóteles separa ’ονομα (um signo que convencionalmente significa uma coisa), o ρήμα (um signo mais complexo que também significa uma determinação temporal) e o λόγος (um signo amplo, que corresponde a um discurso inteiro). Além disso, ele também reconhece συνδεσμα, signos que não têm significado autônomo, mas dependem do contexto, como conjunções, artigos e todos os tipos de partículas.

O tipo de funcionamento da linguagem da maneira que descrevemos depende - e isso é uma novidade - do fato de que as afeições da alma e as coisas que elas representam são as mesmas para todos os falantes, mesmo que os signos não o sejam. Mas isso demonstra não apenas a generalidade do sistema linguístico, mas também sua relatividade com relação ao contrato pragmático existente entre os usuários (falantes e ouvintes) da linguagem. Aqui reside a noção tipicamente moderna da intersubjetividade necessária do ato comunicativo.

A teoria aristotélica dos signos mais conhecida é aquela desenvolvida no contexto de uma reflexão sobre a linguagem e seu funcionamento no De Interpretatione (16a, 3-8). Aqui, Aristóteles articula todo acto linguístico e denotativo identificando três elementos fundamentais:

1) a paixão da alma,

2) os sons da voz e

3) o objeto externo.

O primeiro termo indica a 'reação' da alma humana ao contacto com objectos reais; portanto, trata-se de entidades psíquicas que para Aristóteles são iguais para todos os homens, pois cada indivíduo reage de maneira idêntica e segundo mecanismos inalterados à relação com as realidades concretas que se inserem em sua esfera perceptiva. O segundo termo, definido por Aristóteles  é symbolum, pode ser descrito como a expressão fonética ou gráfica, que se refere ao estado de afecto da alma; portanto, uma espécie de significante. Por fim, os objetos reais (pràgmata) representam o dado empírico-experiencial concreto, que está na origem do processo cognitivo, possibilitado pelos afetos da alma; a relação entre objetos reais e afetos psíquicos é descrita por Aristóteles com uma palavra que se traduz por imagem (homoìómata) e, portanto, em termos de forte semelhança.

Essa doutrina afirma uma relação direta e motivada entre os traços cognitivos deixados na alma pelos objetos concretos e os próprios objetos; por outro lado, a relação entre os traços cognitivos e os sons que os expressam é arbitrária. Convém lembrar também a leitura do triângulo semiótico: através da definição do homem como um 'animal linguístico' - o que leva, portanto, a uma leitura 'semiótica'. de todas as formas de 'ação humana - através da comparação com outras obras aristotélicas (Historia animalium e Problemata) e da recuperação de um significado menos escolástico dos termos-chave usados ​​pelo Estagirita, a ideia de uma relação causal simples entre linguagem e realidade (coisas como causas dos afetos da alma), pensar a linguagem como uma estrutura dinâmica, organizada na relação de pathémata, sons, signos linguísticos e pràgmata.

No entanto, a doutrina dos signos em De interpretação representa apenas uma parte da reflexão semiótica presente nas obras aristotélicas, visto que se refere unicamente às espécies do gênero 'signo' representadas pelos signos linguísticos, enquanto Aristóteles também desenvolve uma teoria do signo como um dispositivo inferencial em outras obras de valor epistemológico e ontológico.

De facto, nas primeiras Analíticas, Aristóteles afirma que:

Quando, uma coisa sendo, outra é, ou quando uma coisa se torna, outra se torna anterior ou posteriormente, estes são sinais de devir ou de ser (Analytica priora 11, 70a, 7-9). O signo, portanto, é o que se encontra em uma relação, de anterioridade ou posterioridade, com algo que começa a existir ou a se tornar. A noção de signo que o estagirita assim elabora não é mais o que indicava o termo symbolum  o signo, neste caso, é denominado por Aristóteles sëmeîon e indica uma relação de implicação entre duas determinações, de tal forma que o dar-se de uma permite que um deduza a presença do outro também.

O signo, tanto como facto (pragma) quanto como premissa demonstrativa (Analytica priora n, 70a, 6-7), é, portanto, baseado no mecanismo lógico de implicação, tornando-se uma ferramenta central na teoria silogística aristotélica. O signo, de facto, actua como uma premissa no raciocínio silogístico particular que é o entimema, ou o silogismo retórico, mais curto que um silogismo normal por falta de uma das premissas e capaz de produzir apenas conhecimentos prováveis. Aristóteles desenvolve uma taxonomia de signos como uma prótase de entimema, relacionando os diferentes tipos de signos e as diferentes figuras do silogismo. Ao fazê-lo, o Estagirita distingue o tekmërion, que é o signo que permite produzir uma inferência absolutamente certa, do simples sëmeîon, em que a passagem das consequências às causas não pode ter o caráter de necessidade absoluta. Simplificando a análise aristotélica que se desenvolve nos primeiros Analíticos (Analytica priora Π, 70a, 12-24), mas da qual ecos e elaborações adicionais podem ser encontrados no primeiro livro de Retórica e nas Refutações sofísticas, pode-se dizer que um o signo produz uma inferência irrefutável (tekmërion) quando representa o termo do meio em um silogismo de primeira figura, ou quando, como o termo do meio, o signo é o sujeito da premissa maior e o predicado da menor (como no caso da inferência: “se a mulher tem leite deu à luz”, onde “ter leite” é o sinal que nos permite inferir com segurança o estado puerperal da mulher).

Aristóteles elabora uma teoria do signo separadamente na Analytica priori e na Retórica. Essa teoria deve ser colocada em referência direta à lógica do raciocínio. Na verdade, os signos tornam-se aquelas coisas que implicam outras, a priori ou a posteriori. Aristóteles dedica uma obra inteira aos problemas linguísticos, o De Interpretação. Neste tratado (mas também em Poética e Retórica), Aristóteles usa conscientemente pela primeira vez a palavra 'signo' no sentido moderno do termo, isto é, o de 'referência a outra coisa', e de fato dá o primeiro arranjo orgânico da concepção de linguagem como um repertório de elementos que refletem precisamente os elementos constitutivos de uma realidade única e universal (Calabrese , 2001, p. 20). Aristóteles diz:

«As coisas que são, que ocorrem na voz, são símbolos das afeições da alma, e os escritos são símbolos das coisas que estão na voz; e assim como os signos gráficos não são os mesmos para todos, nem mesmo as formas fônicas isoladas são as mesmas; alguns destes últimos são, no entanto, basicamente sinais, o mesmo para todos são as afeições da alma, e as coisas, das quais essas afeições são imagens semelhantes, também são as mesmas para todos»

esta posição contrasta com outra, nominalista: o nominalismo, afirma que é inútil admitir a existência de um reino de ideias e conceitos universais, independente do sujeito, as ideias são representações individuais que se colocam no lugar das coisas reais. Em Aristóteles, a linguagem desempenha um papel central no processo de conhecimento, que se expressa em discursos, nos quais a dimensão do verdadeiro-falso é central. O signo não está diretamente ligado às coisas, mas sua relação com elas passa pela mediação. de ideias, conceitos, colocados em nossa mente, derivados das coisas. Só os seres humanos produzem signos? Nem mesmo os animais, há uma abertura; os animais também produzem signos, mas são diferentes daqueles da linguagem humana: os dos humanos são convencionais, os dos animais são naturais e são desprovidos de convencionalidade e intencionalidade. Para Epicuro, os nomes não nascem por convenção, mas por natureza, os humanos emitem sons naturais. Não apenas animais, mas também humanos. Na Poética, o conceito de imitação (μιμεsis) é fundamental. Este consiste na representação analógica de fatos, cliques por meio de uma narração, e que produz uma paixão no ouvinte (melhor: o cancelamento das paixões). Resumindo: a linguagem, como diria Greimas, faz com que o receptor faça as coisas. E é por isso que Aristóteles se detém no exame das formas como essa dimensão pode se expressar no discurso, que não por acaso se estrutura em diferentes funções, como as vicissitudes, a descoberta, a catástrofe, a transformação da felicidade. à infelicidade e vice-versa., e tem a obrigação da verossimilhança.

Estóicos (ca. 300 a.C. - 200 d.C.)

Estudaram os signos não linguísticos e fundaram as bases da semiótica. Ligaram o significado ao significante e ao objecto

«o significado é a mesma coisa que é revelada e que aprendemos como algo que subsiste dependendo do nosso pensamento» (Sexto Empírico)

A primeira investigação sistemática sobre a lógica das proposições deve-se à filosofia do Pórtico, como há muito se reconhece. Esta abordagem da reflexão dialética fez com que no centro da lógica estóica estivesse a relação de implicação através dos signos, graças à qual se torna possível passar de um dado elemento ao conhecimento de coisas até então desconhecidas (como acontece em particular no caso de um real condicional). A inferência de signos torna-se assim o modelo no qual não apenas a lógica é desenvolvida, mas também a teoria do conhecimento no estoicismo.

A reflexão estóica sobre a linguagem leva à definição de um modelo triádico. O estoicismo, de fato, distingue no processo comunicativo um significante (sëmaînon), um objeto real (tynchànon, ou 'aquilo que por acaso existe') e um significado (semainómenon) que também é definido como lektón (traduzível de forma preliminar como 'o que é dito').

O aspecto mais interessante da semiótica estóica é representado, como é fácil adivinhar, pela categoria do semainómenon / lektón, ou seja, o significado / o que é dito,

Segundo o testemunho de Sexto Empiricus, que apresenta as indicações mais claras sobre o triângulo semiótico estóico (Adversus mathematicos vin, 11-12), o lektón é uma realidade incorpórea (ao contrário do significante, uma expressão fônica e o objeto concreto, referente do processo comunicativo) e não representa - ao contrário das paixões aristotélicas da alma - um dado imediatamente cognoscível ou invariável de cultura para cultura. A partir dessas indicações, o lektón pode ser definido, como o elemento que permite ao significante designar o concreto referente (o objeto real), ou seja, o conteúdo cognitivo-mental expresso pelo significante. A doutrina estóica, de fato, enfatiza (sempre de acordo com Adversus mathematicos, VIII, 70) a estreita relação entre o lektón e as representações racionais (logikai phantasiai): o indivíduo primeiro ele forma algum conhecimento racional do objeto e então comunica esse conhecimento linguisticamente, tornando-o o significado (lektòn) de um significante.

A noção de lektón está, portanto, também no centro da doutrina estóica do signo como um dispositivo inferencial. Novamente Sesto Empirico (Pyrrhoneae Hypotyposes, n, 104-106) nos informa que para os estoicos o signo é uma proposição, que atua, em uma implicação de natureza condicional, como um antecedente capaz de revelar o conseqüente (tal como: 'se p, então q '). O lektón é, portanto, uma proposição que implica outra.

A definição de um signo em termos tão claramente inferenciais leva a reflexão estóica a desenvolver uma taxonomia de signos baseada no grau de certeza que ocorre na implicação. Assim, distinguimos os sinais comuns, que não produzem uma determinada inferência, dos próprios, cuja implicação é sempre verificada (uma distinção semelhante em alguns aspectos à aristotélica entre tekmërion e SEMION), e da mesma forma distinguimos os sinais comemorativos de o indicativo. A definição da natureza e do funcionamento da implicação condicional torna-se assim um tópico de acalorado debate na lógica estóica, um problema para o qual várias soluções serão dadas (Sesto distingue a doutrina da implicação de Philo Megaric, a de Diodorus Cronus, a da synártêsis atribuível a Crisipo e o da éfase). O mesmo testemunho das hipóteses de Pyrrhoneae, em qualquer caso, identifica a forma correta da implicação na inferência, que de um antecedente verdadeiro vem a um consequente verdadeiro.

O signo para os estóicos, portanto, é uma ferramenta lógica e epistemológica que permite, por meio de um processo de implicação, estabelecer a inferência necessária (caráter 'analítico') de um dado conhecido para outro desconhecido, produzindo assim um aumento autêntico de saber. (caráter 'sintético'); para a doutrina estóica, de fato, não pode haver sinal se os dois lektos de implicação são em si evidentes e, portanto, não há aumento genuíno no conhecimento (a inferência 'se é dia, há luz', por exemplo, é feito de proposições autoevidentes e, portanto, não constitui realmente um caso de signo).

Um modelo triádico do signo é também a base da teoria do signo dos estóicos. Para eles, o signo consiste em três componentes básicos, a saber:

 

Enquanto significante e objecto são entidades materiais o significado é uma entidade ideal, não corporal

A teoria estoica do signo está igualmente ligada à lógica.

Os estoicos interpretavam a cognição de um signo como um  processo silogístico de indução. O signo estoico segundo Sextus Empiricus (Adv. math. II. 245). é a proposição antecedente  numa válida premissa maior que serve para revelar o consequente.

Além disso, os signos são classificados em comemorativos, quando se referem a observações associadas anteriormente ao signo, e indicativos, quando indicam factos não evidentes, Fundamentados na filosofia estóica, os escolásticos distinguiram três ciências: a philosophia naturalis, a philosophia moralis e, em terceiro lugar, a scientia de signis. Esta última foi também chamada scientia rationalis e equivalia à lógica (Noth 1994:29-30).

Epicuristas (ca. 300)

Contra os estóicos, os epicuristas pretendiam desenvolver um modelo diádico do signo, onde só entram em composição o significante (semainon) e o objeto referido (tugcanon). 0 significado imaterial do signo (lekton) não é reconhecido como componente semiótico do signo.

Na base o modelo epicurista coloca uma epistemologia materialista, na qual o objeto físico é considerado como a origem das imagens (eidola) que emanam da sua superfície, na forma de verdadeiros átomos. Na cognição do receptor, esses átomos icônicos reaparecem como uma nova imagem chamada fantasia. A imagem emitida do objeto e a imagem captada pelo observador descrevem, portanto, os dois componentes do signo.

Por outro lado, os estóicos consideravam que a cognição não é só um processo inteiramente mecânico; o reconhecimento de um signo, para eles, presumia a capacidade de antecipação (prolepsis) por parte do receptor. Uma tal antecipação, porém, só é possível se na mente do receptor onde já existem previamente imagens mentais ou conceitos capazes de antecipar a imagem.

Considerando esse aspecto do processo semiótico, o modelo estóico do signo contém, em verdade, uma terceira dimensão semelhante aos modelos triádicos do signo. Essa ideia de uma imagem mental antecipando uma cognição actual, aliás, está bem de acordo com as teorias modernas da ciência cognitiva, ao passo que a base materialista da teoria epicurista parece hoje uma mera curiosidade da história da epistemologia.

Os epicuristas também atacaram um outro aspecto da semiótica estóica: a teoria da natureza inferencial do processo semiótico. Semiosis, para os epicuristas, não pressupõe combinações lógicas, porque mesmo um cão que segue a pista de um outro animal está apenas interpretando signos, sem conhecer as regras de indução. Tais reflexões zoossemióticas, em conjunto com especulações sobre a origem gesticular da língua, constituem a parte mais interessante da contribuição dos epicuristas à história da semiótica. O epicurista romano Lucrécio, por exemplo, no seu poema De Rerum Natura, foi um dos primeiros a dar uma explicação evolutiva dos sistemas semióticos humanos: ele afirma que a origem

da língua humana, dos gestos infantis e do comportamento animal não se fundamenta em convenções intelectuais, mas tem suas bases na natureza e na utilidade (utilitas) (Noth 1994:30-31).

A filosofia epicurista, por outro lado, tal como surge tanto das fontes doxográficas como dos textos de Epicuro e da escola epicurista (entre os quais o De signis de Filodemo, escrito no século I aC), fundamenta a estrutura do conhecimento em sensação direta: o conhecimento é produzido apenas por meio da sensação, que quase sempre reflete fielmente o mundo. Isso graças aos simulacros, espécie de signo icônico representado por fluxos atômicos que vêm das realidades materiais e reproduzem sua natureza, tornando-a conhecida pelo homem (Calabrese, 2001, p. 34). Dentro desta epistemologia, o epicurismo identifica algumas situações em que uma atividade conjectural é necessária: um primeiro caso é 'o que aguarda confirmação', enquanto um segundo diz respeito 'ao que não cai nos sentidos' (Epicuro, Epístola a Herodotum 38). Os processos conjecturais são melhor compreendidos referindo-se à subdivisão epicurista dos objetos em quatro categorias, a saber:

1. realidades evidentes (cujo conhecimento é imediato);

2. realidades absolutamente obscuras (que nunca serão conhecíveis pelo homem);

3. realidades sombrias per se (que requerem o uso de sinais e demonstrações para serem conhecidas);

4. realidades que aguardam confirmação, ou que estão, por razões espaciais e temporais, imediatamente além da capacidade do homem para o conhecimento imediato (Adversus mathematicos VIII, 316-319; Epístola a Herodotum 38). O conhecimento inferencial e conjectural é praticado, como é claro, nas duas últimas aulas. A inferência de “o que aguarda confirmação” refere-se ao quarto tipo de realidade (um objeto distante é visto de forma confusa e, portanto, é necessário conjecturar sobre o que é); a inferência é 'resolvida' pela evidência direta do objeto (quando isso se torna claramente visível). A inferência sobre 'o que não se enquadra nos sentidos' relaciona-se com o terceiro tipo de objetos; a conjectura, neste caso, é baseada no método de 'atestação não contrária', ou seja, a inferência que não é contradita por nenhum evento experiencial e cuja negação, por outro lado, é contradita por um evento experiencial, é aceitável (a caso típico é a demonstração da existência do vazio).

A doutrina epistemológica do epicurismo também se refere a uma nova teoria triádica do signo linguístico, onde a noção central é a de proleps, ou o conhecimento 'antecipado' de uma realidade após um certo número de experiências; o prolessi, portanto, constitui uma espécie de conceito de tipo geral para uma classe de realidade e opera como um elemento de mediação entre palavras e coisas (semelhante neste ao lektón estóico); o signo linguístico se refere aos prolixos e, por meio disso, às coisas.

Como já foi observado, as doutrinas sobre as técnicas de demonstração e sobre as provas por signos, desenvolvidas no mundo grego nos períodos clássico e helenístico, preparam os materiais essenciais para a reflexão semiótica no mundo romano. Mesmo na cultura latina, de fato, o interesse pelas questões semióticas se esgota na reflexão sobre a estrutura dos signos como sistemas de inferências, capazes de produzir raciocínios válidos (absolutamente verdadeiros e simplesmente plausíveis). Estas investigações semióticas desenvolvem-se na reflexão retórica, ou nos trabalhos dedicados a definir e ensinar as técnicas do discurso persuasivo, de extrema importância no ordenamento jurídico romano. Os escritos da reflexão retórica romana que nos fornecem as ideias semióticas mais interessantes são a Rhetorica ad Herennium (texto do século I aC atribuível ao retórico Cornifico); algumas obras ciceronianas (como De Inventione, escrito por volta de 85 AC) e ΓInstitutio oratoria de Quintiliano (aprox. 95 DC). Em todos esses textos podemos encontrar reflexões sobre as formas de raciocínio e os diferentes graus de certeza que elas podem produzir.

Mas em Lucrécio existe outro elemento de modernidade, porque Lucrécio introduz o conceito de utilitas que põe em causa a dimensão do uso. É o uso e a experiência próprios que fazem com que os nomes sejam elaborados e compartilhados por toda a comunidade.

Aurélio Agostinho (354-430)

A história da semiótica antiga atinge seu apogeu com a obra de Aurélio Agostinho. E. Coseriu o considerava «o maior semioticista da Antiguidade e o verdadeiro fundador da semiótica».

Os tratados nos quais Agostinho desenvolveu suas ideias semióticas são: De Magistro (389), De Doctrina Christiana (397) e Principia Dialecticae (ca. 384).

Agostinho concordou com a teoria epicurista que definiu o signo como um fato perceptivo que representa alguma coisa atualmente não perceptível. Na sua definição do signo, porém,

Agostinho seguiu mais os estóicos e acentuou o papel da interferência mental no processo de semiose: Agostinho continuou, também, a distinguir os signos naturais dos signos convencionais. Para ele, os signos naturais são aqueles produzidos sem a intenção de uso como signo, mas nem por isso conduzem à cognição de outra coisa. A fumaça como índice de fogo é um dos exemplos daquilo que entendia por signo natural. Os signos convencionais, por outro lado, são aqueles que «todos os seres vivos trocam mutuamente para demonstrar sentimentos da mente» (ibid. II, 1,3).

Outra ideia interessante na semiótica agostiniana é a distinção entre signos e coisas. Em Doutrina cristã 1,2,2 Agostinho deu respostas à seguinte questão: «O que é uma coisa e o que é um signo?: Uso a palavra 'coisa" num sentido estrito para referir-me ao que nunca foi usado como signo de outra coisa, como madeira, pedra, gado ou outras tantas coisas desse género».

Mas Agostinho também sabia que signos não são uma classe de objetos ontologicamente diferente das coisas, e continua:

«Todo signo é, ao mesmo tempo, alguma coisa, visto que se não fosse alguma coisa não existiria. Porém, não são todas as coisas signos ao mesmo tempo».

Apesar dessa separação fenomenológica entre coisas que são signos e coisas que não são signos, Agostinho via as duas esferas do mundo ligadas pelo processo de semiose. Por isso, concluiu que «as coisas são conhecidas por meio dos signos» (1,2,2).

Uma dimensão inovadora na semiótica de Agostinho foi o facto de ter estendido os estudos semióticos dos signos verbais aos signos não-verbais. Eco, Lambertini, Marmo e Tabarroni (1986: 65) resumiram esse aspecto da doutrina agostiniana dos signos do seguinte modo:

Com Agostinho, esta «doutrina» ou «ciência» do signo toma uma forma na qual os sintomas, as palavras da língua, os gestos miméticos de atares junto ao som de clarins militares e as estridulações das cigarras, tudo isso se torna objeto de estudo. No ensaio de uma tal doutrina, Agostinho previu linhas de desenvolvimento de um interesse histórico enorme.

Last, but not least, a dimensão teológica da semiótica agostiniana merece ser mencionada. Na interpretação de Agostinho, todas as coisas percebidas como signo são, ultimamente, signos naturais que revelam a vontade de Deus na criação terrestre. Tais ideias continuaram a ser desenvolvidas na semiótica exegética medieval, no quadro da teoria dos sentidos múltiplos do mundo e dos textos (Noth 1994:33). Nessa linha, nas obras agostinianas o funcionamento do signo é repensado: entendido como verbum, não se explica mais a partir de uma relação de equivalência, como acontecia em Aristóteles (ou seja, não é um 'símbolo' vinculado de forma arbitrária a uma certa afeição da alma e através dela a uma coisa), nem é simplesmente um elemento que revela o ser da coisa (como em Platão); Agostinho fundamenta o signo como verbum da linguagem na capacidade de significação, ou melhor, como referência à coisa denotada, elaborando o modelo a partir da relação de implicação, antes de Aristóteles e dos estóicos. Agostinho pensa o signo como um fenómeno eminentemente verbal-linguístico e explica seu funcionamento referindo-se à capacidade do signo linguístico de se referir (significar) a seu referente (a coisa concreta).

A primeira reflexão semiótica agostiniana, alimentada pela lição estoica, pode ser encontrada em De dialectica.  Neste escrito, o futuro bispo de Hipona identifica os quatro elementos que constituem as partes da dialética, a saber,

1) o verbum,

2) o dizível,

3) a dictio

4) e a res.

De particular interesse são a segunda e a terceira noções, o dizível e a dicção. O dizível é definido, no quinto capítulo do De dialectica, como 'aquilo que da palavra é compreendido e está contido na mente'; esta expressão, portanto, pode ser traduzida com a categoria de sentido (a significatio do De magistro e do lektón stoico), ou seja, com o que é transmitido pelo significante e coincide com o conteúdo racional-mental expresso na linguagem. Já o dictio é definido nas mesmas páginas do De dialectica como o termo que indica 'a palavra (verbum) e o que se passa na mente por meio da palavra'; trata-se, portanto, da palavra falada com função denotativa, na qual o significante e o significado estão presentes. A novidade da semiótica de Agostinho se condensa: a dictio, palavra única dotada de um valor de signo, é uma expressão verbal que atua como signo para se referir à res.

O signo assim concebido é analisado e dividido em diferentes tipos dentro da De doctrina christiana. A abordagem do problema dos signos, dentro de um contexto hermenêutico em que Agostinho quer delinear as características da sabedoria necessária à vida de fé do crente, leva Agostinho a distinguir as coisas (res) dos signas; com uma abordagem decisivamente semiológica, Agostinho define as coisas como res que não pode actuar como signos, enquanto signo é aquilo que traz à mente (in cogitationem) outra coisa, além da impressão sensível que o próprio signo produz:

signo é algo que, mais do que a impressão que produz nos sentidos, faz com que outra coisa venha à mente por si mesmo (De doctrina cbristiana i, 2, 2 e 2, I, 1).

Na subdivisão dos signos elaborados no De doctrina Christiana, aquele entre signa própria e signa translata (De doctrina cbristiana 2, 4, 5) é de particular importância: os primeiros são os signos que remetem às coisas para as quais foram criados, enquanto os últimos são aqueles em que as coisas significadas pela signa própria tornam-se sinais para se referir a outra coisa. Agostinho dá assim uma definição dos mecanismos alegoréticos próprios da prática comunicativa bíblica, cuja correta decifração é indispensável para o crente compreender a mensagem salvífica da Revelação, e abre espaço na reflexão semiótica para uma investigação hermenêutica que será central para a experiência. herança cultural do mundo medieval.

Agostinho, porém, não atribui à linguagem e ao processo semiótico assim descrito uma verdadeira potência cognitiva. De magistro e De Trinitate oferecem evidências decisivas nesse sentido. No primeiro escrito, o bispo de Hipona discute com seu filho Adeodato sobre o objetivo que deseja alcançar falando e afirma que se usa a palavra para ensinar ou aprender. O diálogo, a partir dessas observações, entretanto, chega ao resultado oposto; linguagem e sinais, observa Agostinho; não permitem o conhecimento verdadeiro, mas no máximo a lembrança do que já é conhecido, pois apenas o conhecimento prévio do objeto permite sua identificação através do signum correspondente (como mostra o caso do termo bíblico sarabarae, que ninguém sabe exatamente que o que são porque ninguém nunca os viu). A palavra então age como a luz do sol, de acordo com uma metáfora platônica que Agostinho usa aqui: assim como a luz torna as coisas visíveis, a palavra ajuda a lembrar o que aprendemos por meio dos sentidos e o que conhecemos de maneira inteligível graças à iluminação da palavra divina, mestre integral à iluminação da Palavra divina, a mestra interior que guia verdadeiramente o homem. De Trinitate também chega às mesmas conclusões ·. o verbum permite-nos recuperar o que já sabemos (De Trinitate h, il, 18) e o que o homem aprende graças à relação com o eterno Verbum, Filho do Pai e lugar de toda a verdade, na relação de amor com o divino e na analogia entre a mente humana e a substância trinitária de Deus (De Trinitate 9, 9, 14).

 

Idade Média e Renascimento

A doutrina ontológica de Boécio (476-525 DC), por outro lado, descreve cada res sensível como o produto de um id quod est e um quo est ou esse: o quo est, identificável com um princípio formal, é inerente a um substrato material produzindo a realidade na sua totalidade como uma substância material-corpórea, isto é, id quod est (De hebdomadibus . Regula 1). Ao fazer com que essas duas teorias 'reajam' juntas, o mundo medieval começa (com clareza por volta dos séculos 11 a 12, nas obras de mestres como Bernardo de Chartres) a identificar, segundo a doutrina de Prisciano, a substância que o nome significa com  'id quod est e qualidade igualmente significados pelo nome com o quo est. Compreendemos, portanto, como essa doutrina confere, na mistura de semântica e ontologia, uma primazia semiótica à forma, entendida como elemento que conduz a substância à existência, e a torna o que é; desta forma, o mecanismo de referência do signo é baseado no conhecimento das qualidades determinantes da res e, portanto, em um processo de definição cognitiva.

Anselmo (1033-1109)

A dialética entre semântica de significatio e semântica de supositório, por outro lado, já pode ser apreendida no debate sobre termos paronímicos ou denominativos em Anselmo d’Aosta. A palavra termos representa, na doutrina aristotélica das categorias, os termos que, derivados de um termo abstrato (como a expressão 'branco' de 'branquidade'), significam sempre apenas uma determinada qualidade. Esta doutrina está em contraste com a definição de Prisciano do nome, e os autores medievais, mesmo sob a influência das teorias boetianas, atribuíram aos nomes denominativos tanto um valor abstrato referente à forma, quanto um valor concreto (capaz de se referir à substância ) Assim, surgiu o problema de qual era o significado primário desses termos, se o que significava a forma ou o que se referia à substância. No De grammatico Anselmo oferece uma primeira solução para a questão: ele distingue duas funções no nome, a significatio que se refere à qualidade e a appellatio que se refere, ao invés, à coisa como uma substância existente, e sublinha como no denominativo termos, a significatio é dada como função antes do nome e a apelação apenas como uma segunda função.

A dialética entre significatio e appellatio refere-se à dicotomia entre a semântica de significatio e a de supositio  a primeira função do nome, de fato, é baseada no conhecimento e na definição de qualidades próprias da realidade significadas pelo signo, enquanto X apela opera de acordo com o mecanismo do suposto, para o qual o signo se refere formalmente ao seu denotado, isto é, o signo significa o mesmo objeto concreto ao qual pode ser corretamente associado (De Rijk, 1982, p. 167: a eficácia do signo mede-se pelo fato de que o signo 'conta' o estado de coisas da realidade).

No início do século 11, a verdadeira lógica e semântica medievais começaram. Sant’Anselmo d'Aosta elabora uma doutrina da verdade destinada a demonstrar a existência de Deus. Ele está convencido, de fato, que a fé pode ser confirmada pela razão, ainda que a sua origem seja anterior à própria razão. Em suas obras (Monologion, Proslogion , De veritate) as provas da existência de Deus são assim articuladas, o que constitui um momento de considerável interesse semiótico. Em Proslogion, Anselmo sustenta a diferença entre linguagem e realidade com um exemplo de fé: se pela linguagem se pode dizer que Deus não existe, não se pode pensar nele de acordo com a realidade. Esta é a chamada 'prova ontológica', importante porque distingue entre uma verdade referencial e uma verdade proposicional. Este último é limitado a uma pura 'afirmação de existência', que tem valor independentemente da essência das coisas. No diálogo De veritate, a dicotomia entre signo e referente é mais desenvolvida, em bases aristotélicas, distinguindo entre a verdade da significação e a verdade da proposição. As coisas determinam a verdade da proposição, mas não constituem sua verdade. Isso, na verdade, é Dado por sua própria lei lógica interna, enquanto a verdade da significação nunca é certa, porque depende da realidade ontológica, com a qual não pode ser consistente. A verdade da significação, que pode ser dita em termos 'semânticos' modernos, aplica-se apenas ao discurso humano, que reflete as coisas mais ou menos, enquanto o verbum divino é consubstancial com a Natureza, e é Um e indivisível. A existência de Deus consiste na discussão sobre a linguagem divina, que Anselmus considera verdadeira e própria respectivamente à natureza, algo igual ao logos platônico ou ao verbum agostiniano. A diferença entre a linguagem divina e a linguagem humana reside no fato de que a primeira é consubstancial à natureza, é a imagem exata dela e, por isso, é perfeita; O segundo, ao contrário, permite apenas 'pensar sobre as coisas' e, portanto, é necessariamente imperfeito, o que é suficiente para a verdade da significação da qual começamos a falar. Na verdade, a mesma razão de verdade que descobrimos em um signo vocal é aplicável a todos os outros signos que são feitos para afirmar ou negar algo, como escritos, linguagem ou gestos [...].

Todas as palavras com as quais dizemos as coisas mentalmente, isto é, das quais usamos para pensá-las, são semelhanças ou imagens das coisas das quais são palavras; Agora, toda semelhança ou imagem é mais ou menos verdadeira de acordo com sua maior ou menor fidelidade às coisas que representa

Abelardo (1079-1142)

Também no século XI o debate entre nominalistas e realistas se desenvolveu, mais uma vez de grande interesse também para uma história das idéias semióticas. Abelardo admite uma significação que parte da realidade, uma vez que o locutor isola aspectos do fenómeno individual que percebe. Mas, a partir desses aspectos, produz uma abstração generalizante: uma ficção (figmentum) que é um conceito confuso, que então se torna por convenção um nome.

Para Abelardo, o significado é a primeira e fundamental função do signo (Logica ingredientibus, ed. Geyer , p. 307); o signo, portanto, refere-se principalmente ao conhecimento da coisa que o intelecto produz e, posteriormente, à realidade concreta. Isso equivale a dizer que, embora a causa comum da imposição do termo seja em primeira instância uma realidade (significado de rebus) e só mais tarde uma referência a um certo conceito (significado de intellectus), este tem maior valor. ., porque o signo se refere ao conhecimento intelectual, que por sua vez resolve a atividade comunicativa que o próprio termo é chamado a produzir. O significado é contrastado pelo nominatìo, que é a referência denotativa ao existente que pode ser comparado ao apelado anselmiano. Abelardo pode assim resolver o problema da significação de realidades inexistentes: se a realidade concreta não existe mais, de fato, o significado continua a poder ser dado como conhecimento conceitual da própria realidade, embora seja a única nomeação a falhar .

Nesse sentido, como vimos em Anselmo, Abelardo parte da ideia de uma ambiguidade entre signos e proposição e concede à proposição um valor de verdade dentro dela, enquanto o valor de verdade do signo é função da ideia a ser expressa. Segue-se que o signo é uma instituição intencional e convencional, que não tem relação com as coisas reais (relação cujo estudo, de fato, pertence à metafísica). Na Logica ingredientibus, Abelardo enfatiza a convencionalidade do processo de significação, que ocorre no intelectu e não depende Das coisas; É o exemplo clássico do que não existe, como as rosas no inverno, que não impede a significação. A importância pode assumir várias formas. Abelard reconhece cinco. A primeira forma é por determinação e consiste na atividade de referência (a compreensão se dá de fato por meio da contextualidade do discurso). A segunda é por geração e ocorre gerando conceitos a partir de palavras. A terceira é por repressão, isto é, por negação (negar um termo constitui significado). A quarta é por associação e funciona no caso de inferência ou conotação. Finalmente, o quinto é por imposição, ou por meio do gesto intencional e arbitrário de atribuição de sentido (por exemplo, invenção, instituição e imposição efetiva).

Porém, propriamente falando, para Abelardo a significação consiste no emparelhamento de um som com um conceito, e isso acontece por significar (dar ao som um intellectus), nomear (nomes são dados a conceitos) e designar ou denotar (definições são dadas a Conceitos). Em conclusão, a diferença que Abelardo percebe entre descrições e definições é muito aguda. Os primeiros funcionam por meio de diferenças específicas, de gênero, espécie e acidentes, apenas de acidentes; O último apenas por meio de diferenças específicas e de gênero

Rumo à 'lógica moderna'

As teorias semânticas dos séculos 11 e 12 e a teoria dos universais são ilustradas e comentadas por John de Salisbury. Em universais, no Metalogicon , Salisbury rejeita qualquer solução realista e confirma seu valor abstrato e puramente intelectual. O século XIII marca o ponto de máximo desenvolvimento da lógica. De Alano di Lilla a Pietro Ispano, de Guilherme de Shyreswood a Lamberto de Auxerre, até Guilherme de Occam, a 'lógica moderna', como os próprios autores a chamam, começa a tomar forma. Pietro Ispano , no Summulae logicales e nas Suposições fixa a categoria de suppositio, dividido em suppositio materialis (isto é, relação semântica entre dictio e vox) e suppositio formalis (isto é, relação entre nome e conceito). A suposição é puramente uma relação de subordinação ou superordenação entre dois conceitos, isto é, a relação pela qual um termo proposicional representa outro. Portanto, ele difere substancialmente da significação (isto é, a referência do sinal ao seu denotado). Guilherme de Shyreswood especifica ainda quatro propriedades dos termos significado e suppositio, que já vimos, e copulado e appelatio. O copulado é uma suposição referente a adjetivos, particípios e advérbios (os 'acidentes' de uma substância), enquanto o suposto real diz respeito a substantivos (substâncias). Finalmente, o appelatio é a capacidade real do signo de se referir a deuses denotados, enquanto o significado é mais precisamente a capacidade de um signo de apresentar alguma forma ao intelecto. De grande importância é o interesse pelo conceito estóico (retomado por Prisciano) De Sincategorem, isto é, de um elemento verbal que tem um efeito relacional sobre as categorias da fala e que corresponde a partículas modificadoras (conjunções, preposições, etc.). Sempre de interesse semiótico são as investigações dos Modistas, filósofos estudiosos das chamadas 'gramáticas especulativas', que tiveram grande fortuna entre os séculos XIII e XIV.8 Essas gramáticas baseiam-se, na verdade, na análise dos modi signifìcandi, entendidos como universais de significação. , em contraste com a pesquisa descritiva clássica (por exemplo, de Prisciano e Donato). Os modistas distinguiam o modi essendi (as propriedades do ser, o nível ontológico) de modi intelligendi (o nível conceitual) e modi signifìcandi (o nível semântico-linguístico). Somente nesse sentido eles poderiam conceber a gramática como uma ciência signifìcandi (o nível semântico-linguístico). Só nesse sentido poderiam conceber a gramática como ciência, concluindo que os modi signifìcandi são aqueles que permitem a transformação de um vox (significante) em sermo (signo) dando-lhe um signifìcatum. Heidegger leu todo o processo à maneira husserliana: 'As formas de significação (modi signifìcandi) estão, portanto, ligadas ao fio comum do dado (modus essendi), que por sua vez não é tal exceto como conhecido {modus intelligendi)'. Recentemente, os modistas começaram a receber um papel bastante importante na formação das teorias lógicas da Idade Média tardia. Por exemplo, foi descoberto que Dante Alighieri (1265-1321) está em dívido com os Modistas, que em De vulgari eloquentia (sua principal obra linguística), mas também na Epistola a Cangrande della Scala (sobre a forma de interpretar a Comédia), No Convivio e no De monarchia , refere-se à noção de universal como sinal das várias expressões da realidade, a ser entendido como a estrutura geral da linguagem dada aos homens por Deus com o próprio ato da criação, enquanto as diferentes línguas (depois de Babel) São formas acidentais e historicamente determinadas. Os signos da linguagem são para Dante, como para o Modistas, convencionais. Mas nem todos os signos: os poéticos, de fato, respondem ao princípio nomina sunt consequentia rerum (tanto que não são traduzíveis de uma língua para outra). Tudo isso depende da polissemia da linguagem poética, que reúne quatro sentidos diferentes em uma mesma palavra: o literal, o alegórico, o ético e o analógico.

Roger Bacon (1215-1294)

A teoria geral dos signos foi tema para muitos escolásticos. Roger Bacon (1215-1294), por exemplo, escreveu um tratado sob o título De Signis (Noth 1994:34-35). Um pensador muito original no contexto da 'semiótica medieval' é, sem dúvida, Ruggero Bacone (1214-1292). Suas teorias, que também fazem referência explícita à doutrina agostiniana, destacam pela primeira vez o problema do aspecto pragmático do signo, ou seja, de sua relação com o público. No De signis (1267) e no Compendium studii teologiae (ca 1290), Bacon argumenta que a significação pode ser entendida de duas maneiras: como uma relação entre o signo e o intérprete do signo, e entre o signo e o objeto de referência . Desde o primeiro ponto de vista, deve-se deduzir que a estabilidade do significado dos signos é temporária. Na verdade, se um signo é sempre e apenas um signo para alguém, isso significa que os signos funcionam para um ato de imposição de alguém e que é válido para alguém, mas também pode variar com o tempo, ou deixar de existir. A prova é que há palavras que caíram em desuso, ou termos que mudaram de sentido na história, ou finalmente neologismos. Em princípio, portanto, também pode-se dizer que a linguagem é um sistema aberto ao infinito, pois qualquer pessoa tem a possibilidade de criar novos termos por imposição. Na prática, essa abertura é antes limitada, devido à existência de padrões e estruturas, que devem ser respeitados no trabalho de imposição linguística (criação). Em todo caso, permanece o princípio de que a significação depende mais do que qualquer outra coisa dos falantes, e não dos caracteres intrínsecos dos signos.

Em alguns casos, entretanto, existem sinais 'motivados'. Bacon, de fato, propõe uma classificação de signos muito sutil, que parte da subdivisão canónica entre signos naturais e signos dados. Os signos naturais, por sua vez, podem ser inferências (necessárias ou prováveis), como a fumaça que sinaliza a presença do fogo, ou semelhanças, como as imagens, que nos mostram imediatamente objetos e conceitos sensíveis. Os sinais dados são distinguidos em sinais voluntários, como a linguagem humana, gestos, indicadores, ostentações e involuntários, como os sons dos animais, ou as reações emocionais dos homens. As interjeições são colocadas na fronteira entre os dois grupos de sinais dados. Para concluir, é notável a observação de Bacon de que o signo tem a curiosa propriedade de poder ser dado, mas continuar a funcionar conceptualmente como se fosse natural: isto é, através do mecanismo primário de inferência.

 

Tomás de Aquino (1225-1274)

Na obra de Tomás de Aquino a concepção do signo ainda está ligada ao modelo do significado intencional, em continuidade com o ensinamento agostiniano, desenvolvido à luz da tradição boeciana. Apesar de uma certa complexidade e incerteza semântica associada ao uso do termo signum nas obras de Tomás, é possível encontrar uma definição tomista bastante clara de signo:

o signo é aquilo que por meio de algo manifesto nos leva ao conhecimento de algo oculto (Commentum 4, dist. 1, q. 1, art. 1 ad 5).

Este mecanismo semiótico é o mesmo que opera também nos signos sacramentais (Summa Theologiae ma, q. 60, a. 2): através do sacramento, dado sensível, o homem alcança a compreensão de uma realidade espiritual, à qual de outro modo teria acesso. seria proibido (Ghisalberti, 1999, p. 67). A capacidade do signo de passar do conhecido ao desconhecido repousa em um processo de significação por meio do qual o verdadeiro referente do dispositivo signo torna-se os conceitos do intelecto; os conceitos, por sua vez, atuam como imagens das coisas, de modo que, pela mediação das primeiras, o signo produz a significação das últimas (Eco , 2007, pp. 330-1).

O maior expoente do aristotelismo cristão é São Tomás de Aquino. O problema do sinal, porém, é interpretado, como é frequente neste período, com propósitos religiosos precisos quanto à leitura da Escritura e da história sagrada. Por exemplo, na Summa teologicae (i-n, 101-103) Tomás insiste muito no fato de que os sinais das Escrituras não são equívocos, isto é, para serem interpretados em um sentido alegórico, mas estritamente unívoco, referencial. Se o autor escreve que algo aconteceu, é um sinal de que algo realmente aconteceu. Mas esse algo por sua vez não é um acontecimento, um verdadeiro referente, mas um sinal que faz parte da linguagem divina, um sinal disposto pelo Senhor para que possamos ler nosso dever e sua vontade, e cujo referente está, portanto, na mente de Deus. Portanto, as Escrituras são apenas uma 'semia substituta', feita de signos que remetem a outros signos, acontecimentos, que sempre têm Deus como ponto de referência. Mas essa estrutura de dupla 'referência' (da escrita ao evento aos referentes divinos) constitui um dos temas semióticos fundamentais (na verdade, não muitos) do pensamento de São Tomás. Tanto é assim que também é retomado em um texto mais teórico, o Quaestiones quodlibetales. Tomás de Aquino distingue o sentido literal do alegórico, e especifica melhor que o último pertence apenas às Escrituras, e não à linguagem, mas no sentido de que por 'alegoria' devemos entender diretamente os fatos contados, e não a história dos fatos. Aqui, então, os eventos das Escrituras são os únicos sujeitos à famosa teoria dos 'quatro sentidos' (literal, alegórico, ético, analógico) e constituem uma espécie de 'linguagem eventual'. Quanto às palavras - ainda que pertencentes às próprias Escrituras - estamos diante de uma atividade regida por leis retóricas, que Tomás chama de parabolismo (tropos, figuras), e que continuam a pertencer ao chamado 'sentido literal', ainda que expressas em tom poético . Na Summa há mais um esclarecimento: quando gestos, ações, objetos aparecem no Antigo Testamento, são sinais alegóricos que se referem a eventos do Novo Testamento, enquanto as mesmas coisas expressas no Novo Testamento são aspectos parabólicos, diretamente poéticos.

Uma demonstração da natureza não alegórica do Novo Testamento é, aliás, fornecida pela teoria tomista dos sacramentos, que para Tomás são do mesmo tipo de sinais, embora tendo a particularidade de serem sinais eficazes. Em outras palavras: um sacramento é o testemunho da presença da graça divina, mas também faz o que diz que faz (na comunhão a hóstia consagrada é realmente o corpo de Cristo, na confissão os pecados são verdadeiramente cancelados pelo sacerdote que absolve o pecador). Em termos modernos, somos o que chamamos de performativos. Sua natureza é convencional: na verdade, agem em virtude de uma lei instituída por Deus, que atribui um sentido efetivo às coisas escolhidas arbitrariamente entre as inúmeras possibilidades e que atuam como causas instrumentais. Obviamente, surge imediatamente o problema da falseabilidade desses sinais especiais (os sacramentos ainda são válidos se forem celebrados por alguém que não acredita, que troca os objetos prescritos com outros, que anula seu rito?). E aqui Thomas introduz o problema da intencionalidade do emissor de uma mensagem, bem como as condições de felicidade necessárias para a sua compreensão exata.

Mas com isso estamos dentro da questão mais geral e complexa da interpretação, da qual Aquino trata, assim como na Summa, no Expositio in librum Arìstotelis perì hermeneias. Em termos semióticos, pode-se dizer que Tomás está inclinado para a identificação da significação e da interpretação. Na verdade, em primeiro lugar ele distingue entre o significado dos termos e o significado das proposições, e atribui apenas a este último o traço de verdade ou falsidade (em suma: é declarado para uma semântica intensional, onde os termos individuais são universais, correspondendo às coisas e, portanto, de Possivelmente inserir em uma semântica extensional). Por outro lado, o problema da referência é claro em Tomé. 141 signos são convencionalmente ligados a conceitos (ou mesmo “paixões da alma”), e estes são, em vez disso, relacionados por semelhança (ou analogia) com as coisas.

Guilherme de Occam (1290-1349)

Com Roger Bacon e em particular com Guilherme de Ockham, a semiótica da suppositio torna-se um modelo de referência para a descrição do funcionamento do signo, embora mesmo nesses casos haja incertezas terminológicas e oscilações doutrinárias. Ockham acredita que o signo e o conceito mental se referem diretamente à coisa: a primeira (unidade elementar da linguagem oral ou escrita) significa diretamente as coisas às quais impõe um nome; a segunda (parte da linguagem mental) é um signo natural da coisa, assim como o lamento de um paciente se refere sem qualquer outra mediação à dor pela doença e, portanto, a significa naturalmente. Ockham admite alguma subordinação do signo ao conceito, ou seja, da linguagem oral / escrita à mental: o signo oral está sempre associado ao signo mental, que é o signo natural do objeto, ao contrário do signo oral, que é convencional e decorre da tributação. Desse modo, segundo Ockham, sem um conhecimento prévio como imagem ou noção mental da coisa, o signo não pode produzir um conhecimento de seu referente: o signo age efetivamente e dá à luz algo na mente do homem somente se o signo natural, que é o conceito (Eco, 2007, p. 341). Subordinação que, no entanto, não implica que o signo signifique primeiro o conceito e por este a coisa, mas apenas a derivação da capacidade significativa do signo oral e escrito da relação com um conceito; a significação desses signos está, entretanto, diretamente relacionada às coisas (Ghisalberti, 1999, p. 70).

Ockham qualifica a significação direta dos signos (mentais ou escritos) como suppositio: o signo representa outra coisa, está no lugar de algo, isto é, está no lugar da coisa real, dentro de uma proposição.

A doutrina de Ockham, assim como as demais semióticas que explicam a função do signo por meio da suposição, distingue três tipos diferentes de relação entre signo e referente. É possível identificar, em primeiro lugar, um suppositio personalis: isso ocorre quando o termo representa a realidade extra-mental a que se refere (como no caso da proposição 'o homem é branco'). Em alguns autores, é ainda subdividido de acordo com se a denotação dos referentes pelo termo no supositio é única e determinada (como no caso da proposição 'Sócrates é um homem': suppositio discreta) ou é multívoca (como nas proposições que incluem quantificadores do tipo 'Algum homem é branco': suppositio communis). Um segundo tipo de suposição é a material (suppositio materialis), neste caso o termo 'supõe' não para uma realidade concreta, mas para uma entidade linguística, como na proposição 'o homem é bissílabo', onde o termo é analisado em qualidade da expressão da linguagem. Por fim, suppositio pode ser simples (simplex) quando o termo se refere a um conceito universal, como no caso 'o homem é uma espécie'.

Occam, um nominalista puro com respeito aos conceitualistas medievais, muda substancialmente os termos do debate lógico em torno do signo. Embora partindo de uma adesão substancial ao pensamento aristotélico, na Summa logicae e no Commentarti ele constrói um sistema lógico-filosófico mais sofisticado e complexo. Vamos começar com as definições. Occam dá ao signo uma definição totalmente aristotélica do signo. O sinal é para ele:

«Tudo isso, uma vez aprendido, faz com que alguém conheça outra coisa. Para ser pedantes, no entanto, devemos saber que 'sinal' pode ter dois significados: em certo sentido, significa tudo o que, uma vez aprendido, torna algo conhecido, embora não nos dê um conhecimento primário dessa coisa [...] mas Um conhecimento real e posterior a um conhecimento habitual da mesma coisa. [...] Caso contrário, com 'signo' entende-se o que torna algo conhecido e é capaz de representar essa coisa ou de ser adicionado em uma frase a tal sinal: de que tipo são os termos e verbos sincategoremáticos e Aquelas partes do discurso que não têm significado definido, ou o que pode ser composto de tais termos, como discurso. Os termos categoremáticos têm um significado definido e preciso. Portanto, este nome, 'homem', significa todos os homens, e este nome, 'animal', significa todos os animais, e este nome, 'brancura', toda brancura».

Em seguida, reproduz Aristóteles com ainda mais precisão, distinguindo entre o signo natural, que é o conceito (intentio animce) e que é produzido pelas próprias coisas, e o signo convencional, que é arbitrariamente estabelecido para significar várias coisas, que é a palavra (por sua vez distinta Em oral e escrita, o que é um sinal da primeira):

Eu então digo que as palavras são signos subordinados aos conceitos ou intenções da alma, não porque, tomando esta palavra signo no sentido próprio, as palavras significam precisamente os conceitos da alma em primeiro lugar e adequadamente, mas porque as palavras são forçadas a significar Aquelas mesmas coisas que significam os conceitos da mente.

Consequentemente, o conceito significa algo principal e naturalmente, e a palavra secundariamente significa aquela coisa em si; De modo que, tendo sido instituída a palavra para significar algo que é significado pelo conceito mental, se esse conceito mudasse de significado, imediatamente também a palavra, sem uma nova convenção, mudaria de significado [...].

O sistema occamiano, resumido no primeiro livro do Commentarli (sive qucestiones) in iv sententiarum libros, também denominado Ordinatio, é esquematicamente o seguinte: a ciência formula suas proposições não sobre coisas materiais, mas sobre conceitos (distinção entre referente e significado); Conceitos são simplesmente sinais de coisas únicas, uma espécie de dispositivos mnemônicos que precisamos catalogar e classificá-los agrupando os indivíduos em rubricas mais gerais. E esses são sinais naturais. Mas, para atender às necessidades comunicativas, são necessários signos linguísticos, convencionais e institucionais, que são signos de signos, porque se referem a conceitos em forma de significantes. O processo de formulação de signos e conceitos é idêntico, segundo uma semântica totalmente extensional De acordo com esta formulação, o conceito de signo tem dois significados: um sentido mais genérico torna o signo tudo o que, conhecido, causa a memória de outro. Algo diferente mas igualmente conhecido, ou a identificação de uma coisa desconhecida; Um significado mais específico vê como um signo todo termo da linguagem que se refere a objetos e é seu substituto em uma proposição (ou mesmo toda proposição, uma vez que é composta de tais signos). Occam reconhece três tipos de sistemas de signos: um tipo mental (e natural), que consiste na relação entre intelecto e realidade, e dois tipos convencionais (arbitrários) que reproduzem exatamente o primeiro e se identificam na linguagem verbal e escrita. A correspondência entre a linguagem mental e a linguagem verbal permite que a análise da segunda traga à luz a organização da primeira: A linguagem oral é formada por vocais que se organizam no oratio. Pode ser de diferentes tipos: indicativo, imperativo, optativo, interrogativo. Apenas o indicativo Yoratio serve à ciência, porque expressa uma realidade e pode ser chamado de verdadeiro ou falso. O funcionamento da linguagem mental é obviamente análogo; Entretanto, os signos da linguagem mental (conceitos) têm origem e natureza particulares, o que significa que também funcionam de maneira peculiar. O conceito é um signo natural que torna conhecido o objeto que representa sem qualquer mediação. O conceito é singular se significa uma única realidade, universal se significa diferentes realidades. Todos os conceitos são conhecimento intuitivo das coisas e as representam diretamente. Sinais convencionais (palavras escritas ou orais) São propriamente signos de conceitos; Entretanto, quando as palavras são usadas especificamente como sinais de linguagem, elas também significam objetos diretamente. Uma distinção fundamental é feita por Occam entre os termos (incomplexa) que compõem as proposições {complexa) ', em primeiro lugar encontramos o categoremata e o sincategoremata, o primeiro com um significado definido, o último com um significado indefinido dependendo de sua localização na fala: A linguagem oral é formada por vocais organizados no oratio. Pode ser de diferentes tipos: indicativo, imperativo, optativo, interrogativo. Apenas o indicativo Yoratio serve à ciência, porque expressa uma realidade e pode ser chamado de verdadeiro ou falso. O funcionamento da linguagem mental é obviamente análogo; Entretanto, os signos da linguagem mental (conceitos) têm origem e natureza particulares, o que significa que também funcionam de maneira peculiar. O conceito é um signo natural que torna conhecido o objeto que representa sem qualquer mediação. O conceito é singular se significa uma única realidade, universal se significa diferentes realidades. Todos os conceitos são conhecimento intuitivo das coisas e as representam diretamente. Os sinais convencionais (palavras escritas ou orais) são propriamente sinais de conceitos; Entretanto, quando as palavras são usadas especificamente como sinais de linguagem, elas também significam objetos diretamente. Uma distinção fundamental é feita por Occam entre os termos (incomplexa) que compõem as proposições {complexa) ', em primeiro lugar encontramos o categoremata e o sincategoremata, o primeiro com um significado definido, o último com um significado indefinido dependendo de sua localização na fala: L Outra distinção diz respeito a termos unívocos e equívocos. Único é um signo convencional sujeito a um único conceito, ainda que seja um signo de várias coisas. O termo equívoco significa várias coisas, mas também está sujeito a vários conceitos: pode ser predicado de várias coisas das quais não é possível dar uma única definição nominal. Finalmente, pode ser casualmente ou intencionalmente equívoco: casualmente, quando um nome é imposto ao mesmo título a vários indivíduos por meio de vários conceitos, intencionalmente quando é imposto a várias coisas em títulos diferentes e está subordinado a vários conceitos Próximo a uma teoria do discurso - Como a que vimos lidando com funções (indicativas, imperativas, optativas, interrogativas) e sua natureza proposicional em vez de terminística - e ao lado de uma teoria da significação, que vimos também inclui a conotação, embora de uma forma ainda não Moderno, há também uma teoria lógica da linguagem. Occam de fato chama de suppositio a propriedade do signo categoremático de estar no lugar de outra coisa (obviamente quando é o sujeito ou predicado de uma proposição). São indicados três tipos principais de suposições: a pessoal, que consiste no uso normal do termo para designar indivíduos ou espécies; O material, que consiste na propriedade de significar a si mesmo ('o homem é uma palavra'); O simples, que consiste na referência que um termo mental faz a um conceito ('o homem é um conceito'). Em outras palavras, o uso de um termo produz uma inferência, que pode ser de natureza referencial, metalingüística ou metamental.

As suposições pessoais dão origem a um outro sistema analítico. Por exemplo, nomes próprios e demonstrativos são termos categoremáticos que possuem suposições discretas, uma vez que sua referência é variável dependendo da posição em um determinado discurso. Todas as outras categoremáticas têm suposições comuns. Por sua vez, o último pode ser determinado ou confuso. Os determinados ocorrem quando um caso inequívoco é inferido da proposição que os contém, os confusos são válidos de forma mais genérica. Mas eles podem ser posteriormente distinguidos como distributivos e confusos no sentido estrito. Essas suposições que nos permitem ir do geral ao particular são distributivas (por exemplo: 'todos os homens são mortais').

Outro caráter lógico da teoria occamiana é a definição de um critério de verdade das proposições. Cada proposição pode, em princípio, ser verdadeira e falsa, e é distinguida por uma forma canônica básica, que é a sequência sujeito-verbo-predicado. Neste caso, é denominado categórico. Mas também existem proposições hipotéticas (quando duas categóricas são ligadas por sincategorematicamente especial como se, quando, etc.). E há proposições modais e não modais, dependendo se uma modalidade é expressa (necessidade, contingência, possibilidade, impossibilidade). Quanto ao critério de verdade, Occam o atribui a proposições categóricas não modais, e afirma que uma condição necessária e suficiente para a verdade de uma única proposição afirmativa é o fato de sujeito e predicado se referirem à mesma coisa, mas para uma proposição que desce em direção O particular também deve referir-se a algumas das suposições do sujeito e, para uma proposição que remonta ao universal, o predicado deve referir-se a todas as suposições do sujeito. Conseqüentemente, um critério de verdade é construído para proposições negativas e complexas.

A semiótica occamiana é, como podemos ver, o tratamento medieval mais completo sobre a teoria dos signos e, embora não seja totalmente original, influenciará todo o pensamento posterior por muito tempo por alguns séculos, tanto do ponto de vista de uma teoria da significação como da filosofia da linguagem.

Hobbes (1588-1679)

Na doutrina materialista de Thomas Hobbes o problema do signo linguístico é muito importante, a começar pela sua função. Em Hobbes, surge a teoria da linguagem universal - a linguagem adâmica, ou edênica - que teria sido interrompida pelo próprio Deus com o episódio da torre de Babel. Mais importante, porém, do que essa ideia (apenas sugerida), é a teoria hobbesiana do funcionamento da linguagem. Por um lado, portanto, os signos são pura notamina, rubricas de registros mnemônicos; Por outro lado, são ferramentas de comunicação. Hobbes, portanto, distingue entre o uso público e privado da linguagem. O uso privado lança mão de 'marcas' para registrar a experiência, o público de signos reais. Hobbes também distingue quatro funções que a linguagem cumpre: uma função de registro de causas e efeitos, uma função comunicativa, uma função afetiva e uma função estética. Estamos quase em Jakobson e suas funções discursivas. Hobbes considera a linguagem fundada em uma convenção, justamente por sua utilidade, que é permitir operações. Por exemplo, a geometria é uma linguagem de extrema utilidade porque estabelece preliminarmente os significados dos signos e suas regras de conexão: 'A forma como a linguagem serve para lembrar a ligação entre causas e efeitos, consiste em fixar nomes Suas conexões '. (Deve-se lembrar que por 'nome' Hobbes não significa a parte gramatical, mas essencialmente uma unidade significativa de maior ou menor extensão, que pode ser expressa com uma palavra ou com um discurso inteiro). Embora defensor do convencionalismo, Hobbes pensa que a linguagem tem uma relação com a realidade e que depende dela. Os nomes são, na verdade, universais relativos, isto é, comuns a diferentes objetos únicos que se parecem, ao passo que a coisa nomeada é sempre única e particular. Os nomes são, portanto, universais impostos a inúmeras coisas em virtude de sua semelhança ou de possuírem qualidades idênticas.

Quanto aos signos, Hobbes os considera inferências que extraímos dos dados da experiência. Sinal, de fato, é algo que deve ser observado para antecipar ou seguir o significado. Em suma, é uma 'presunção' do consequente na presença de seu antecedente, ou vice-versa. Quanto mais frequentemente sua conexão era observada, mais certo era o sinal. Hobbes atribui a interpretação dos signos (concebidos como casos individuais) a todos os animais. Porém, somente o homem é capaz de compreender a fala (conexão de signos) e formar o pensamento. Além disso, Hobbes acrescenta um terceiro tipo de signos aos fundados na antecipação do futuro ou na lembrança do passado (consequente do antecedente, antecedente do consequente): são os signos imediatos, que são os signos das paixões.

No contexto de uma tipologia de signos, Hobbes distingue entre signos naturais e signos arbitrários. Os signos naturais são aqueles em que as relações de antecedência e consequência independem da vontade humana, como nuvens para chuva ou chuva para nuvens. Porém, nós os reconhecemos como signos e os usamos como se a natureza falasse connosco. Os signos arbitrários são aqueles estabelecidos pelos homens como bem entendem e por acordo explícito ou tácito, por exemplo, emblemas, símbolos de autoridade e, obviamente, nomes.

Voltando à diferença entre privado e público, e ligando-a àquela entre signos naturais e arbitrários, deve-se dizer que isso deve ser colocado em conexão com a ideia hobbesiana de conhecimento prudencial em oposição ao conhecimento científico. O conhecimento prudencial deriva da experiência e da formulação de um sistema de expectativas baseado na memória e na estatística e, obviamente, baseia-se sobretudo em signos naturais. Hobbes o considera útil, mas absolutamente não autêntico, uma vez que não nos diz nada sobre a ligação entre antecedente e conseqüente; Não dá certeza sobre a repetição futura dos fenômenos observados; Não nos garante a uniformidade do curso da natureza. A ciência, por outro lado, não procede da experiência de conexões naturais entre os fatos, mas dos nomes que são dados arbitrariamente às coisas, de suas definições, das consequências lógicas que são extraídas de suas combinações.

Locke (1632-1704)

John Locke, embora pouco adequado para o estudo da lógica e da análise linguística, deixou o texto mais amplo e consciente sobre a teoria dos signos no Ensaio sobre a inteligência humana. Bem no final do quarto e último livro, Locke ainda dá uma definição disso como uma ciência E depois da filosofia natural, e pratikh,

Ou ética, ele apresenta uma terceira ciência: semiotikh. Porém, para além das definições gerais e introdutórias, todo o Ensaio Lockeano constitui um verdadeiro tratado de semiótica, uma vez que a investigação do conhecimento humano parte do pressuposto de que ele forma um sistema de signos, tal como as palavras são signos. No que diz respeito às ideias. No entanto, a novidade do pensamento lockeano não reside aqui, porque tal ideia é bastante antiga, como é a concepção convencionalista de palavras (indiferença do som em relação ao significado). A novidade está em ter eliminado a 'coisa' do processo significativo, atribuindo também às ideias um caráter arbitrário, dependente da maneira como uma dada sociedade em uma dada época segmenta a realidade para seus próprios fins cognitivos. A oposição às concepções metafísicas anteriores é evidente: até agora, de fato, pensava-se que a relação entre o mundo externo (coisas) e suas representações mentais era de analogia ou identidade. A ideia é, nessa perspectiva, no máximo. Forma da coisa em si (daí o título de 'teoria formística' do conhecimento). De acordo com Locke, em vez disso, a relação entre ideia e referente externo é constituída pela nominalidade. E Locke de fato distingue entre a essência nominal 'e a essência real': esta última é caracterizada simplesmente pelo intelecto ou imaginação humana, sem relação com o caráter natural desta última.

Vejamos as principais passagens do convencionalismo de Locke, tendo em mente que é particularmente ao longo do terceiro livro (dedicado às palavras) que ele se expressa:

Podemos, assim, conceber como as palavras, por sua natureza tão adaptadas a esse fim, passaram a ser utilizadas pelos homens como signos de suas ideias. Segundo Locke (como para Hobbes), os signos (da linguagem) desempenham uma função De memorização, e também de função comunicativa; Mas Locke vai ainda mais longe, ou seja, pressupõe a existência de um código comum, tacitamente respeitado, entre remetente e destinatário. Segue-se que, por um lado, a linguagem é entendida como uma instituição social e, por outro lado, cada sujeito é perfeitamente livre para inovar contínua e livremente o código, ou para instituir novos usos criativos dele: Uma visão tradicional da antropologia e da pesquisa etnográfica.

O primeiro, um lugar a partir do qual olhar para realidades ainda 'etnicamente' conotadas, o segundo uma prática empírica de validação da antropologia no contexto de conhecimentos específicos. Ambos, novamente, ligados a um forte paradigma cognitivo, apesar da vocação reflexiva muito marcada, com práticas representativas não nominalistas, com uma visão global realista. Minha abordagem teórico-metodológica parte do conceito de ostraka, meus objetos de estudo desetnizados, deslocalizados, desrealizados. O risco actual de misturar a antropologia angolana com o exótico (em vez de manter distância), sem correr o risco de transformar a cultura numa perspectiva conceptual),

A moderna teoria do signo

A tradição escolástica de estudos do signo continuou até a Renascença, quando chegou ao apogeu na obra monumental do português João de São Tomás, também conhecido como Jean Poinsot (1589-1644). O seu Tractatus de Signis, escrito em 1632 .

Entre os temas predominantes da semiótica escolástica estão as doutrinas do realismo e do nominalismo, as doutrinas das suposições e dos modos de significação. A distinção entre denotação e a conotação: provém da semiótica desenvolvida nesse período,

quando também uma teoria da representação começou a estudar as funções semióticas de signos, símbolos e imagens.

O signo como instrumento cognitivo

João de São Tomás também foi um dos filósofos a considerar o estudo do signo no campo da lógica. A definição de signo dada por ele em sua Ars lógica interessa tanto sob o ponto de vista do passado quanto do futuro da semiótica:

«Omnia instrumente, quibus ad cognoscendum et loquendum utimur, signa sunt» (Todos os instrumentos dos quais nos servimos para a cognição e para falar são signos).

Tal definição contém dois elementos de grande interesse para a teoria dos signos. O primeiro é a definição do signo como instrumento e, portanto, como um meio, constituindo um esboço

da ideia de semiose como mediação, desenvolvida mais tarde por Peirce.

O segundo elemento importante da definição de João de São Tomás é a afirmação de que os signos não são apenas instrumentos de comunicação, mas também de cognição. Repare-se que essa interpretação contraria ao que Platão havia postulado quando distinguia entre acesso direto às coisas por cognição direta -sem uso de signos - e cognição indireta por intermediação sígnica. Na presente definição, ao contrário, o uso dos signos verbais, assim como os processos da cognição do mundo, são definidos como processos de semiose. Essa visão semiótica da cognição é bem peirceana e de grande interesse no contexto do diálogo entre a semiótica e o paradigma das ciências cognitivas.

Na cultura da Idade Média até a Renascença, havia modelos semióticos não só para a interpretação daqueles signos humanos, ou naturais, ou animais que a semiótica moderna ainda estuda, mas também modelos ainda mais ambiciosos, criados para servir de chave semiótica para a interpretação de todo o mundo natural. Os mais importantes desses modelos pansemióticos do mundo são o modelo dos quatro sentidos exegéticos na Idade Média e o modelo das assinaturas das coisas, na Renascença (Noth 1994:36).

Um autor desse período, Leonino de Pádua, por exemplo, escreveu: «Lógica est doctrina principaliter de signis» (Noth 1994:35).

Essa divisão triádica das ciências, aliás, reapareceu em 1890 no famoso Essay de Locke, no qual ele descreveu a ciência dos signos como lógica, no quadro de uma tríade científica, ao lado da fisica (ou "filosofia natural") e da ética - à qual Locke se referia o termo grego praktikh.

.

Outro semioticista a acentuar a instrumentalidade dos signos foi Karl Buhler , autor do modelo órganon da língua, que é a base da teoria das funções de linguagem de Jakobson (Noth 1994:36).

Renascencia e Humanismo

A visão 'pansemiótica' do mundo

Raimundo Lullo (1273)

Obviamente, o desperdício cultural não surge do nada. A ideia de que o mundo natural é a expressão 'signo' de uma vontade superior, organizada de acordo com um plano e uma coerência, e que se pode aprender e praticar sua 'leitura' já está presente no pensamento medieval, mesmo que em um forma diferente. Ramón Lullo escreveu seu Ars magna em uma chave hermenêutica já em 1273. É um sistema muito complexo de classificação e notação dos conhecimentos naturais e intelectuais, elaborado, como era frequente no pensamento medieval, a partir de uma tipologia de tais conhecimentos que, devido a regras combinatórias, poderia levar à obtenção de qualquer verdade. Claro, desde que suas bases já estivessem cadastradas; mas com a vantagem de representar uma formidável mnemônica.

Lúllo é um caso particular no quadro do pensamento medieval, mas não é por acaso que o autor catalão se deparou com muitas experiências culturais heterogêneas durante suas longas viagens pela África e pela Ásia, o que o torna de alguma forma também um precursor de trabalhos humanísticos. Os séculos XV e XVI, no entanto, têm um cenário radicalmente diferente. O novo enciclopedismo não se baseia mais em uma tipologia de cultura de carácter notacional (isto é, tratar todos os temas pré-existentes como vozes de dicionário e, em seguida, colocá-los em uma hierarquia ordenada). Agora, a atitude é considerar o mundo natural como produto de uma inteligência divina superior, ou seja, como um sistema completo, diante do qual o indivíduo se coloca com a consciência do seu limite, mas também com a consciência de poder 'decifrar’ os segredos do mundo, ainda desconhecidos. O mundo - em termos modernos - é uma espécie de texto produzido por uma entidade superior, e produzido com sua própria lógica interna. Cada parte, cada objeto do mundo está, portanto, relacionado ao sistema e constitui um sinal dele, desvendado pelo intelecto humano, embora seja secreto.

Antes de tudo elabora, tirando-a e modificando-a de Santo Agostinho, a ideia de 'ignorância erudita' (De docta ignorantia, 1440), ou melhor, de fraqueza intelectual humana face à perfeição do mundo, mas que pode traduzir-se em sabedoria atitude humilde para o trabalho de decifrar os sinais do sistema mundial. O erro é sempre possível, é claro, precisamente porque esse sistema de signos é criptografado, mas o conhecimento também é sempre possível. Isso é demonstrado pelos antigos, que eram capazes de encontrar verdades mesmo sem ter a única fé verdadeira, e eles a infectaram expressa de maneiras bizarras, mas ainda úteis para nós e a descoberta do 'grande enigma do universo' (De ludo globi, 1463).

A, João Pico da Mirandola  pertence o conceito de muita sorte, o de Magia natural, que corresponde precisamente à visão de um mundo criado como uma 'semiosfera' real, como um sistema coerente em que todos os elementos convergem na unidade, e na qual cada um se refere a um significado misterioso. Alcançar este último também é possível para seres humanos limitados, talvez investigando o segredo, ou, na verdade, os aspectos mágicos ou herméticos do sistema lógico da natureza. Acusado de heresia, Pico a Mirandola se defendeu distinguindo a magia diabólica, tendendo a explorar o conhecimento para mudar com o pecado a ordem das coisas, da magia natural, que em vez disso quer investigar o livro da natureza. As ideias sobre a organização 'secreta' e 'sígnica' do mundo derivam da publicação de obras da antiguidade, os clássicos.

A semiose hermética

O fato é que a ideia de uma organização oculta do universo avança impetuosamente entre o final dos séculos XV e XVI e durará até o início do século XVII. E também leva ao nascimento de interpretações da figura do mundo que às vezes são verdadeiramente bizarras no seu esoterismo.

A evolução da ideia pansemiótica de mundo passa por alguns personagens-chave do século XVI, como Cornelio Agrippa 1486-1535, autor de De occulta philosophia em 1510, em que o teólogo, astrólogo e alquimista alemão constrói um sistema simbólico de correspondências entre o macrocosmo (o universo, derivado de uma vontade divina superior ) e vários microcosmos (astral, corporal, material). Também passa por uma série infinita de tratados esotéricos, que se baseiam no mesmo princípio: quiromancia, cartomancia, astrologia.

Uma chave particular para a ideia pansemiótica é encontrada no final do século XVI em Giordano Bruno (1548-1600). O filósofo retoma de forma científica o conceito de correspondência entre a totalidade do universo e os vários microcosmos que o compõem, modificando as hipóteses de Copérnico sobre a astronomia em um sentido quase futurista: o mundo é um infinito, que passa a coincidir com Deus igual ou pelo menos com a mais importante de suas características, precisamente o infinito, tanto que na fórmula principal do pensador Nola, 'Deus e a natureza’, as duas entidades são quase indistinguíveis. A tarefa do filósofo é alcançar a plenitude da verdade por meio do conhecimento do mundo, que é, portanto, ao mesmo tempo, adesão ao divino. Portanto, é essencial organizar a série de conhecimentos, para que o espírito também tenha a forma sistêmica do cosmos. Nesta perspectiva. Bruno retoma as hipóteses medievais de Lúlio, atualizadas neoplatoonicamente de acordo com os ditames do seu panteísmo, e elabora uma técnica complexa para articular o mundo das ideias e alcançar o conhecimento.

Bruno abre uma rica temporada de tratados que procuram investigar os mistérios do mundo, embora pressupondo ser um sistema para o qual é necessário identificar a chave de leitura e interpretação. A forma privilegiada é entender o sistema como construído a partir de listas de elementos que aparentemente não são significativos, mas que possuem um conteúdo secreto que pode desvendar o significado. É a forma do simbolismo: cada entidade refere-se secretamente a um significado estabelecido univocamente. A tradição do simbolismo é de origem platônica e, portanto, deve-se à redescoberta humanística de clássicos não aristotélicos. Os pensadores do século XV acrescentam a ideia de que também existem 'escritas simbólicas' específicas, que recorrem a modelos visuais em que existe uma analogia ou imitação entre signo e referente, mas precisamente o signo se transforma em símbolo. A linguagem ideal consiste numa forma enigmática, de natureza visual, que contém em si uma série de significados fundamentais. A ideia de sistema-mundo produz, como já foi dito, uma concepção sistêmica do conhecimento por meio de 'signos', que derivam daquele e que são recolhidos e memorizados por meio de um método mnemónico. Às vezes, são conceitos que, além de funcionar por meio de mecanismos simbólicos, são também regido por sistemas de relações internas e por definições. Isso é por inúmeros tratados sobre artes individuais, que assumem a fisionomia de códigos específicos reais.

Um capítulo separado, portanto, merece os tratados sobre artes e pintura de Leonardo da Vinci. As artes, pintura, arquitectura, escultura, são realmente entendidas como um sistema de preceitos práticos e teorias interdefinidas em uma visão geral da 'linguagem' de cada uma delas. A maneira como Leonardo e outros é de encontrar sistemas de correspondência (como o entre literatura e música ou entre pintura e música, com a ideia de um princípio rítmico comum ou de uma arquitetura retórica comum).

 

Racionalismo

O Racionalismo de Port-Royal

No século XVII muitas ideias de interesse para o futuro da semiótica se desenvolveram sob o racionalismo francês (Noth 1994:40).

1.1 O futuro do mentalismo semiótico

O modelo racionalista de signo concebido em Port-Royal foi importante para o futuro da semiótica porque antecipou precisamente um modelo diádico que exerceu grande ascendência na semiótica do nosso século, o modelo de Saussure.

Para este o significante de um signo verbal qualquer é também um som

ou uma marca de lápis sobre um papel branco; é uma “imagem acústica” ou visual da palavra falada ou escrita (Noth 1994:42).

Construtivismo radical

É importante registrar, neste contexto, que o mentalismo semiótico de Port-Royal antecipou uma das correntes das ciências cognitivas – hoje conhecida pelo nome de “construtivismo radical” – que descreve o processo da comunicação como autopoiético, ou seja, um processo que é gerado por si mesmo. Teóricos desse construtivismo postulam que os signos percebidos por um observador nunca podem vir de fora da sua própria mente. Assim, todo o processo semiótico se dá num sistema fechado e exclusivamente mental; os signos não circulam entre fonte e recepção, limitando-se, assim, a uma auto-referencialidade.

Port-Royal estava longe de um construtivismo tão radical, mas é oportuno ressaltar que sua concepção de signo também não estabelece vínculos com uma mente exterior, limitando-se a uma conexão entre duas ideias numa mesma mente (Noth 1994:42).

René Descartes (1596-1650)

O interesse de René Descartes (1596-1650) pela dimensão semiótica é bastante limitado. Nas obras do pensador francês é possível identificar um duplo sentido de signo, o primeiro de derivação tomista e o segundo de origem agostiniana. A primeira definição de um signo, nos Meteoros e nas Paixões da alma, é aquela própria do pensamento tomista, ou seja, o signo é 'quantum in se, aliquid manifestum importante, quo ad nos, quo manuducimur in cognitio-nem alicuius occulti '(Comentário 4, dist. 1, q. 1, art. 1 a 5). A segunda definição, por outro lado, de que encontramos evidências no Discurso sobre o método, é a de De doctrina christiana, segundo a qual 'signum est quod praeter speciem quam ingerit sensibus facit aliquid aliud in cognitionemcome' (ver também Armogathe, 1999, pp. 263-6).

René Descartes (1596-1650), na sua teoria das ideias inatas, postulou a prioridade do intelecto sobre a experiência. Do ponto de vista semiótico, a consequência maior dessa teoria foi o facto de ela ter delineado a teoria dos signos sem verdadeiro elo de contato com o mundo aparente, o processo semiótico foi descrito em categorias mentais (Noth 1994:40). Cartesio atribui à linguagem a faculdade de distinguir o homem do automa e do animal em virtude da capacidade humana de utilizar em modo criativo as palavras e os signos (mentais). Enquanto uma maquina precisa de ser guiada com inputs, o homem apresenta processos criativos porque possui ideias inatas espontâneas que formam a estrutura real do mundo (Calabrese 2001:83). O signo se apresenta com uma estrutura triadica constituída por um aspecto material (os sons e as palavras), um aspecto mental que é aquele directamente ligado ao significado, e os fenómenos da realidade que as palavras representam sem ter com eles relação directa. Todavia não há relação directa entre palavras e coisas, e a linguagem vai ser considerada como uma instituição arbitraria. Na linguagem o aspecto linguistico material varia, mas a estrutura do pensamento permanece a mesma em todos pois tem caracter universal

O modelo do signo diádico

Ao invés da tríade, o racionalismo optou por um modelo diádico de signo, cuja definição mais famosa, na época, se encontrava na Gramática geral e na Lógica da escola semiótica de Port Royal. A Gramatica pode perceber os os traços universais da actividade linguistica humana. A linguistica é a manifestação da actividade do pensamento igual por todos os homens. A linguagem espelha o pensamento e formula expressões orais e vocais. E a   gramática estuda a correspondência entre significado mental e significante material porque possui uma estrutura dedutiva a priori  análoga ao pensamento fundada sobre a lógica. A linguagem enquanto sistema de signos representa a estrutura superficial mas o pensamento é a estrutura profunda. E não se pode conseguir através dos signos que o significam. Uma formulação dessa definição na Lógica de Antoine Arnauld e Pierre Nicole é:

«Mas quando olhamos apenas para um determinado objeto como se representasse outro, a idéia que temos dele é uma idéia de um sinal, e esse primeiro objeto é chamado signo. É assim que costumamos ver mapas e tabelas. Assim, o signo encerra duas idéias: uma da coisa que representa, a outra da coisa representada e sua natureza consiste em excitar a segunda pela primeira» (1992:46).

A “ideia da coisa representada” corresponde ao significado do signo; “a coisa que representa” se refere ao significante, que é o suporte material do signo. Mas ao contrário da escola Stoica a semiótica de Port-Royal  descreve o significante como imaterial, como ideia de uma tal coisa. Nesse caso, o signo verbal – o significante – não seria a expressão acústica da palavra pronunciada, mas a representação ou o modelo mental daquele som e daquela articulação no momento da recepção. Como esse significante mental indica um significado que é igualmente mental, o processo semiótico fica completamente confinado à mente, desde a recepção até a compreensão final do signo (Noth 1994:41).

O signo reconcilia o mundo da natureza com o mundo da cultura. A realidade non existe se não por interação social. A ontologia fundamental á a maneira como as coisas aparecem e são relativas à maneira como os indivíduos as percebem e as circunstancias as apresentam.

 

Empirismo

Antes de passar a Locke e o empirismo britânico, è necessário ao menos mencionar mais um tema e alguns filósofos semióticos desse período que, apesar de importantes na história da semiótica, não podem ser discutidos em detalhes neste rápido panorama da semiótica. Na modernidade, que vai do final do século XVI ao final do século XIX, uma virada semiótica, um dos grandes temas da reflexão sobre a linguagem se dá pela evidência da diversidade linguística. Leibniz levanta o problema da relação entre sinais, linguagem e conhecimento. Ele está bem ciente do fato de que a diversidade das línguas lembra de alguma forma a evolução da linguagem, o fato de que as línguas mudaram ao longo do tempo a partir de uma língua primitiva. A linguagem da ciência deve ser precisa, não pode suscitar dúvidas e deve ser absolutamente clara. propõe uma ferramenta de comunicação universal mediada por simbolismo artificial. É o que ele chama de recurso universal ou mesmo arte combinatória. Ou seja, um sistema de símbolos estritamente definidos e, portanto, que não dão origem a mal-entendidos usados ​​para se referir aos elementos simples dos objetos de uma ciência. é uma proposta que foca mais do que o nível da semântica, da diversidade semântica, do significado entre as línguas, do nível da sintaxeTais filósofos são G. W. Leibniz (1646-1716) e Francis Bacon (1561-1626) e o tema é a procura de uma língua universal por George Dalgamo e John Wilkins, entre outros. Leibniz não só estudou uma grande variedade de signos e assuntos semióticos, mas sobretudo as regras para combiná-los tendo em vista um sistema racional de signos. Leibniz pensa a um sistema de signos não só para representar o inteiro conhecimento, e se constrói uma espécie de alfabeto dos pensamentos humanos também para gerar novos conhecimentos e assim elabora uma forma mecânica de apurar a validade dos conceitos. Na origem das palavras há sempre experiências sensíveis o uso das palavras é que determina a sua utilidade. Os campos onde os signos se usam são na actividade giuridica , na matemática, na criptografia, na cartografi, nos hieroglíficos, na linguagem animal, na araldica, na numismática, na etimologia e na linguistica comparativa. A função do sistema dos signos é:

1) cognitiva: dar coerência ao conhecimento e constituir o mundo possível que é uma realidade virtual sustentada por uma lógica coerente.

2)comunicativa: permitir a expressão humana.

Leibniz

Gottfried Wilhelm Leibniz está diretamente relacionado a Locke, tanto por razões históricas e por razões filosóficas (constitui a resposta racionalista às propostas empiristas de Locke). O problema semiótico leibniziano deve ser enquadrado dentro dos limites rigorosos de toda a sua abordagem teórica. De fato, se por um lado encontramos a necessidade racionalista de construção de uma linguagem universal, por outro também encontramos a de uma análise empírica das linguagens históricas. Mas essa aparente ambiguidade é resolvida inteiramente no contexto da nova lógica de Leibniz, fundada isto é, na combinatória. Com Leibniz, de facto, saímos da lógica semântica tradicional que necessariamente teve que incluir problemas de interpretação de signos, para entrar na lógica sintática, independente da gramática e da linguagem articulada, que pode assim ser fundada empiricamente. Em outras palavras: Leibniz pensa em um sistema de signos não só para representar todo o conhecimento, construindo uma espécie de 'alfabeto' do pensamento humano, mas também para gerar novos conhecimentos, a fim de obter uma forma mecânica de verificar a validade. conceitos. O sistema leibniziano de signos toma forma como notação matemática, constituindo assim a primeira lógica entendida como sistema formal e simbólico. No que diz respeito aos problemas semióticos modernos, Leibniz se questiona sobre a definição do signo e o entende como algo que percebemos em um determinado momento, e que então consideramos como conectado a outra coisa, em virtude de uma experiência anterior, nossa ou de outros. Dito isso, é mais fácil mergulhar nas teorias da linguagem de Leibniz, em sua maioria resumidas no terceiro livro dos Novos Ensaios.

O primeiro tema tratado é o tradicional da arbitrariedade do signo: E reconhece-se que não é porque haja alguma conexão natural entre certos sons articulados e certas ideias (pois, neste caso, haveria apenas uma língua entre os homens), embora para uma instituição arbitrária, em virtude da qual uma determinada palavra foi deliberadamente tomada como o sinal de uma certa ideia.1 Mas este princípio não é totalmente aceito: Eu sei que, nas escolas e em toda parte, é dito que os significados algumas palavras são arbitrárias (ex instituto), e é verdade que não foram de forma alguma determinadas por uma necessidade natural; eles eram, por outro lado, e por razões naturais, em que a escolha entra. E talvez existam línguas artificiais totalmente escolhidas e totalmente arbitrárias, como se acredita o chinês. Mas as línguas, que sabemos ter sido tiradas de línguas conhecidas, são por escolha e, ao mesmo tempo, misturadas com o que é a natureza e o acaso nas línguas que elas pressupõem.  Leibniz, portanto, se inclina para uma tripartição de signos a dependendo da sua relação de motivação com os seus significados. As ligações de sinal podem ser determinadas

1) por escolha (e, portanto, arbitrariedade),

2) por acaso (e, portanto, arbitrariedade inconsciente, acordo tácito) e

3) pela natureza (motivação).

No entanto, esta tripartição não é absoluta, tem um valor muito relativo, porque o próprio Leibniz, argumenta que na origem das palavras existem sempre experiências sensíveis, que então em certos casos com o uso eles não seriam mais sentidos como tais, e em outros ainda o seriam. O problema da arbitrariedade é, portanto, transferido para outro nível, não o da questão da representatividade das coisas pelos signos, mas o da metodologia de definição dos termos. A função metalinguística das definições permite a eliminação da realidade empírica. Com base nisso, Leibniz tende à fundação de uma ciência universal por meio da articulação de um sistema lógico-semiótico. Os campos em que Leibniz examina o uso dos signos são diversos: o ordenamento jurídico, no qual, desde os primeiros trabalhos, propõe o uso de símbolos especiais para a regularização do direito; matemática, em que a ideia de characteristica universalis se desenvolve; e depois a criptografia, a cartografia, o estudo dos hieróglifos, a linguagem animal, a heráldica, a numismática, a etimologia, a linguística comparada e até os sistemas educacionais. Também de interesse semiótico é a distinção funcional dos sistemas de signos, que para Leibniz podem ter uma função cognitiva (dar coerência aos modos de conhecer) ou comunicativa (permitir a expressão entre os homens). Do ponto de vista cognitivo, é importante sublinhar que, por meio da combinatória, é possível aumentar o conhecimento e, portanto, pode-se dizer que os signos são constitutivos do pensamento. Por fim, por meio dos signos, é possível construir o que Leibniz chama de mundo possível, e que é uma hipótese de realidade virtual, desde que apoiada em uma lógica de coerência (um dos mundos possíveis é também o mundo real, que o filósofo prussiano considera o melhor de todos do ponto de vista ético). Estabelece-se assim uma das regras para se chegar à verdade necessária, que é obviamente de ordem lógica e não ontológica, pois consiste precisamente na coerência das relações de signos concretizadas.

Francis Bacon, um cético semiótico, estudou os meios linguísticos de "falsificar" as coisas no seu tratado Idols oft he marketplace (Novum organum I, 43).

Em paralelo, no mesmo século, surgiu o termo semiótica para designar a teoria geral dos signos. A partir dessa tradição, ampliaram-se, nos séculos XVII e XVIII, os domínios da semiótica para uma ciência geral do conhecimento da natureza humana, denominada como semiótica moralis. Uma síntese dessa tradição da semiótica pode ser encontrada na obra de Christian Wolff (1679–1754).

Deve-se constituir uma linguagem  real de signos que supere as ambiguidades e dificuldades da linguagem comum. Um sistema de signos deve

1) atribuir a cada signo um conceito

2) relacionar as distinções entre signos e conceitos

3) relacionar signos e conceitos

Primeiramente os signos se referem às coisas, só num segundo momento se referem aos conceitos.

O modelo desta linguagem ideal é a álgebra.

Locke

Em 1690, John Locke, em seu Essay concerning human understanding, definiu a semiótica, sob o nome de semeiotiké, como um dos três grandes ramos dos estudos do conhecimento humano ao lado da física e da ética. Semiótica, para Locke, era um sinônimo da lógica; a semiótica deveria tratar principalmente das palavras, por serem os signos mais relevantes. John Locke é a principal figura da história da semiótica de sua época. Já o consideramos no contexto da história terminológica da semiótica e no contexto da relação entre a semiótica e as demais ciências. Porém, apesar da enorme importância das suas ideias, o aspecto inovador da sua obra não é tão grande quanto poderia parecer. Locke  descreveu os signos como “grandes instrumentos de conhecimento" e distingue duas classes de signos: as ideias e as palavras. As ideias são os signos que representam as coisas na mente do contemplador; as palavras não representam nada "senão as ideias na mente da pessoa que as utiliza". Palavras, portanto, são os signos das ideias do emissor. Porém, se as palavras fossem apenas signos de ideias e as ideias fossem apenas signos de coisas, a comunicação humana não seria realmente possível. Locke, entretanto, não admitiu que as palavras são também signos "das ideias na mente das outras pessoas com as quais nos comunicamos". Como ideias são signos- e palavras são signos de ideias - , palavras, na definição de Locke, são signos de signos, ou, como diríamos hoje, metasignos.

A separação categórica entre dois níveis semióticos – ideias e palavras - implica problemas sérios do ponto de vista da semiótica geral : Hoje sabemos que as ideias - ou significados ligados às palavras - em muitos aspectos não são independentes das palavras que as designam. A significação das palavras não vem (ou não vem apenas) da percepção das coisas, como Locke sugeriu, mas também do sistema da linguagem que gera as diferenças entre as palavras. Esta ideia é central para a semiótica linguística desde Saussure. A imagem que Saussure (1916:131) usou para descrever a relação entre palavra e ideia foi a imagem da relação indissociável entre o recto e o verso de uma folha de papel; no recto temos o significante de Saussure ou a palavra de Locke, no verso temos o significado ou a ideia. Não se pode separar o recto do verso de uma folha sem que se perca o conjunto. Uma metáfora que corresponderia ao modelo de Locke seria o símile de um sanduíche: a fatia de baixo é a ideia, que permanece mesmo se a fatia de cima - a palavra-for retirada (Noth 1994:45).

 

Bacon (1561-1626)

Com Francisco Bacon, começa, do lado empirista, uma profunda reconsideração dos problemas linguísticos que levará à verdadeira fundação consciente da semiótica com John Locke. As motivações para as análises semióticas do empirismo (mais tarde desenvolvidas em quase todo o século XVII inglês) surgem de um interesse renovado pela ciência em todos os seus ramos. Isso naturalmente leva os cientistas-filósofos a refletir sobre o fato linguístico em seu modo simples de funcionamento, a partir da observação. Outra é a consideração básica do ceticismo herdado do século XVI em relação à linguagem como uma ferramenta eficaz para conhecer e comunicar os dados da realidade. No De dignitate et augmentis scìentiarum, Bacon parte do exame dos órgãos, do método e De comunicação. Em primeiro lugar, os nomes aristotélicos são interpretados como rótulos impostos às coisas para actuar como mediação entre o homem e a realidade. Tomando o problema da linguagem em termos empiristas, Bacon pode, portanto, prosseguir em sua análise do ponto de vista da comunicação. E segue-se que as palavras são examinadas em primeiro lugar como signos. Tanto é assim que o autor passa a diferenciar signos puramente arbitrários, como palavras, de signos analógicos (chamados de símbolos, mas se assemelham a ícones peircianos): no entanto, em outros lugares ele mostra ser um Convencionalista, especialmente no que diz respeito ao debate renovado entre, natureza e convenção, de origem antiga. A querelle tradicional se concretiza em duas questões: a origem da linguagem e a relação entre nomes e coisas. Bacon confirma a Sua posição convencionalista se mostra cética quanto à reconstrução da linguagem edênica, a suposta linguagem como original e natural: não sendo possível reconstruí-la, é preciso deter-se nas linguagens como são, constituídas por elementos convencionais que não são intrinsecamente racionais (tanto que são portadores de um ídolo) A congruência dos signos com as coisas depende, no mínimo, apenas de sua função como instrumento capaz de distinguir as coisas. Também em Bacon, a ênfase no caráter funcional da comunicação é fundamental, até porque ela independe da substância em que ocorre. O convencionalismo da relação entre palavras e coisas fica então claramente expresso na proposta de estabelecimento de uma gramática filosófica, diferente da literária, 'que examina o poder e a natureza das palavras, enquanto traços e marcas da razão. Devem ser destacados dois aspectos fundamentais do pensamento semiótico de Bacon. A primeira é que o filósofo inglês se torna o proponente de uma metodologia da ciência baseada no raciocínio indutivo. Mas isso o leva a pensar na linguagem como o próprio instrumento de indução. O signo, de fato, torna-se uma forma de fixar a observação dos fenômenos, e é a sanção de um raciocínio já realizado. A proposição, então, com seu caráter inferencial, é o próprio tipo de indução.

Ao contrário de outras grandes 'defesas' da indução ocorridas na antiguidade, a de Bacon inclui também as formas de erro do raciocínio indutivo, pois introduz a noção de subjetividade. No pensamento como na linguagem, a subjetividade produz mal-entendidos, falsidades, erros. Bacon aponta quatro tipos de erros: os ídolos da tribo, que dependem das atitudes biológicas da espécie humana; Os ídolos da caverna, que são constituídos das deficiências dos indivíduos; Ídolos de mercado, que são causados ​​por percepções distorcidas de socialização em grupos étnicos; Os ídolos do teatro, devido aos hábitos e atuações dos grupos sociais na cena coletiva.

No entanto, é a primeira vez que surge uma reflexão sobre o papel subjetivo e não eminentemente objetivo da linguagem. E pode-se dizer também que, por meio dessa reflexão, nasce um sociosemiótico muito tímido.

Hobbes (1588-1679)

Thomas Hobbes elaborou uma definição diádica e materialista do signo verbal ao escrever que "os nomes são signos das nossas concepções e não das coisas mesmas". Se os signos não podem-se referir ao mundo, mas apenas a outros conceitos dele derivados, o processo de semiose irá se desenvolver numa rede de tramas mentais, que Peirce, mais tarde, denominaria “semiose ilimitada". Hobbes evidenciou ainda um modelo associacionista bastante unilinear de semiose ao salientar que, na associação dum acontecimento antecedente com um evento consequente, um è signo do outro.

Hobbes definição do signo

«o evidente antecedente do consequente, e ao contrário, o consequente do antecedente, quando as mesmas consequências foram observadas antes; e quantas mais vezes foram observadas, menos incerto é o signo».

O signo é um gesto emitido com a intenção de comunicar, ou seja, para transferir uma representação própria ou um estado interno para um outro ser. Naturalmente, presume-se que, para que a transferência tenha êxito, uma determinada regra (um código) habilite tanto o emissor quanto o receptor para entender a manifestação do mesmo modo.

Neste sentido, são reconhecidos como signos as bandeiras e os sinais de trânsito, as insígnias, os marcos, as etiquetas, os emblemas, as cores heráldicas, as letras do alfabeto. Neste ponto, os dicionários e a linguagem culta. Nos  países de língua inglesa, o termo signo leva logo a pensar na gesticulação dos surdos-mudos (chamada de sign language) e não nas manifestações verbais (Noth 1994:43).

Berkeley  (1685-1753)

George Berkeley radicalizou a teoria diádica do signo no quadro do seu nominalismo e idealismo ontológico. A matéria do mundo, para ele, não participa do processo de semiose; as nossas sensações do mundo são "ideias impressas nos sentidos" e não existem a não ser na mente de quem as percebe. O "ser" delas è o ser percebido: Esse est percipi (Berkeley, 1710: 3).

Uma das consequências dessa visão tão radical do mundo está no fato de que todos os processos que se desenvolvem no mundo são interpretados como processos de semiose. Em vez de promover relações entre causas e efeitos, Berkeley vê apenas  relações entre "signos" e "coisas significadas”. Assim, o barulho que ouvimos não é causado pelo movimento dos carros na rua mas é somente um signo deles. Dessa forma, todo o mundo natural aparece permeado de signos, tal como diria Peirce mais tarde (Noth 1994:44).

Também na Metaphysica (1739) de Alexander G. Baumgarten encontram-se os conceitos de semiotica e semiologia philosophica. O filósofo e fundador da estética moderna entende esses conceitos como o campo de estudo dos sistemas de signos da língua, da escrita, dos hieróglifos, da heráldica e da numismática, entre outros. Em 1764, Johann Heinrich Lambert publicou a sua obra Semiótica ou a doutrina da designação das idéias e das coisas, como o segundo volume de seu Novo organon.

Mesmo para Giovan Battista Vico, um dos maiores filósofos italianos, surge o problema da diversidade das línguas. Rejeitando a ideia de que as línguas são simplesmente convencionais e que, portanto, a diversidade das línguas deriva de diferentes convenções que os vários grupos humanos estabeleceram na relação entre o signo e seu conteúdo.

 

Iluminismo

Temas e ciências vizinhas

Os grandes temas semióticos do século XVIlI foram discutidos nas áreas da epistemologia, da hermenêutica e de uma nova ciência que, junto com a semiótica, começou apenas nesse século a estabelecer-se explicitamente, a estética.

O tema principal da epistemologia semiótica foi o papel dos signos nos processos da percepção e a génese dos signos. A hermenêutica - arte geral da interpretação - enfatizou o papel dos, signos no processo de compreensão dos textos. A estética teve como temática principal o papel dos signos naturais e artificiais ou arbitrários na percepção do belo.

A estética foi primeiramente estabelecida por Alexander Gottlieb Baumgarten num livro de 1750.

0 termo grego aisthsis, do qual estética è derivado significa "percepção dos sentidos". De acordo com esse sentido, Baumgarten definiu a estética como a ciência da cognição perceptiva (scientia cognitionis sensitivae), em contraposição à lógica, definida como "ciência do conhecimento racional". É interessante ver que a especialização da ciência geral da percepção inaugurada por Baumgarten ligava-se diretamente a um ramo da lógica que ele denominava "semiótica". Na sua definição, essa semiótica devia tratar de signis pulchrae cogitatorum et dispositorum: dos signos belos na cognição e na disposição (Noth 1994:46).

Vico (1668-1774)

Antes de começarmos a tratar dos protagonistas da filosofia semiótica da Idade das Luzes, é necessário introduzir brevemente algumas informações sobre um pensador do século XVIII, cuja obra constituiu uma significativa contribuição para o passado e o futuro da semiótica, embora suas ideias não mantivessem a essência do programa principal dos iluministas: a confiança no progresso e na razão, desafiando a autoridade e a tradição

O que o napolitano Giambattista Viço, em sua obra Nuova Scienza de 1725, tem em comum com os iluministas da segunda metade desse século é a base evolucionista e não-cartesiana dessas ideias. As diferenças residem não apenas nos métodos estremamente especulativos, mas também na sua simpatia pelos ritos e mitos arcaicos, assunto que só viria a despertar interesses maiores nos séculos XIX e XX.

Os temas de maior relevo semiótico na Nuova Scienza são a

Vico acreditava em uma "história ideal e eterna", na qual a humanidade teria passado por três fases de desenvolvimento:

Essas três fases ocorrem em ciclos que podem resultar em fases de retrocesso a estágios anteriores do desenvolvimento (Noth 1994:47).

Era divina

Para Vico, durante a era divina, os homens acreditavam que tudo fosse deus ou criado por um deus. Seria, pois, a época da semiose ritual, marcada por «atos religiosos mudos ou cerimónias divinas». Antes de desenvolvera linguagem articulada, os homens se comunicavam por meio de hieroglíficos, ou expressavam-se por meio de gestos ou objetos físicos que tivessem relações naturais com as ideias. A linguagem falada ter-se-ia se desenvolvido, então, a partir da onomatopeia e das interjeições; era "uma linguagem com significações naturais".

Era heroica

Durante a época heróica, o modo dominante de comunicação deu-se por meio de emblemas visuais, brasões, insígnias e outros signos de posse material. Ideias abstractas foram expressas  na forma antropomórfica de heróis míticos. O significado de herói, por exemplo, era expresso pelo herói mítico Aquiles. Ambas as eras foram períodos de sabedoria poética e as pessoas que nelas viveram foram autênticos poetas. Para Vico, portanto, poesia, metáfora e mito são formas arcaicas de pensamento.

Era dos homens

 A terceira era - a era dos homens - foi também a idade da razão e da civilização. Os signos, agora arbitrários, literais e abstractos, fazem com que entrem em declínio a poesia e a imaginação.

Porém, seria erróneo pensar que somente essa era teve acesso à verdade. Vico postulou que as mitologias antigas não são meras ficções ou mesmo distorções da realidade, mas expressões poéticas precoces das sabedoria humana. A consequência é que a primeira ciência a ser aprendida deveria ser a mitologia ou a interpretação das fábulas, pois[...] todas as histórias dos gentios tiveram seu começo em fábulas.

Condillac e o sensualismo francês

Na Idade das Luzes os filósofos franceses desenvolveram uma outra forma de empirismo conhecido pelo nome de sensualismo.

Um novo elemento, na semiótica dessa época, foi a tentativa de interpretação genética do processo da semiose. O sensualista Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780), por exemplo, foi o autor de Essai sur l’origine des connaissances humaines, obra em que descreve a semiose como um processo genético que começa em níveis primitivos e chega até níveis mais complexos. 0 mais primitivo deles, o ponto de partida para o conhecimento, é a sensação, a experiência sensual imediata; os níveis seguintes, pela ordem, são percepção, consciência, atenção, reminiscência, imaginação, interpretação, memória e reflexão.

O fundamento básico dessa interpretação psicogenética da cognição está na convicção de que "o uso dos signos é o princípio que revela a fonte de todas as nossas ideias" Condillac distinguiu também três categorias de signos:

Na génese da cognição, considerando a escala que vai das sensações ás reflexões, o signo só aparece ao nível da reminiscência apenas nesse estágio que começam a surgir os signos causais (ou acidentais) e naturais. Antes de se chegar à reminiscência a cognição se processa pré-semioticamente. Tal divisão è uma das primeiras tentativas de se estabelecer, na história da semiotica  o limiar dos signos, como reconhecerá U. Eco, mais tarde, no âmbito das pesquisas de uma semiótica genética.

A divisão entre signos naturais e institucionais constituirá, também o limiar entre a semiótica animal e a semiose humana. Alem dessas questões, a semiótica sensualista discutiu, sobretudo, a origem da língua e as fases do seu desenvolvimento (Noth 1994:48).

Diderot: a comunicação não-verbal e estética

Nos estudos genéticos da semiose humana surgiram ideias sobre a diferença entre a comunicação verbal e não verbal.

O enciclopedista Diderot (1713-1784) tratou desse assunto nas suas obras Lettre sur les aveugles (1749) e Lettre sur les sourds et le muets (1751).

As ideias que desenvolveu foram revolucionárias se comparadas com aquelas desenvolvidas pelo racionalismo cartesiano Diderot afirmou que a linguagem dos gestos não é só mais expressiva como também mais lógica que a linguagem verbal. A razão desse argumento surpreendente prende-se à linearidade temporal dos fonemas na expressão verbal, que acarreta uma estrutura unidimensional. Já a linguagem dos gestos é tridimensional, como a realidade do mundo.

Diderot concluiu que a representação tridimensional corresponde necessariamente mais à realidade do que as demais representações unidimensionais, como a linguagem. Portanto, podemos concluir que, para Diderot, a linguagem provoca uma distorção da realidade.

O argumento da superioridade da comunicação não-verbal insere-se numa teoria semiótica mais geralmente desenvolvida no âmbito da estética do século XVIII: a teoria da mimese, da representação por signos icônicos, mais próximos ao mundo representado.

Argumentava-se, nessa época, que os signos icônicos e os signos naturais são meios de representação semiótica e esteticamente superiores aos signos arbitrários. Assim, o mais icônico e natural dos signos é também o mais belo (Noth 1994:49-50).

A semiótica genética da «Sociedade dos Observadores do homem»

Os «observadores»

Outras ideias semióticas do século das luzes vieram de um grupo de filósofos da época da Revolução Francesa chamado os ideólogos. O programa desses filósofos, porém, não foi nada ideológico, no sentido que hoje atribuímos a esse termo. Ideologia, para eles, era "o estudo das origens das ideias", constituindo uma ciência sem preconceitos metafísicos e religiosos.

Em 1795, o Instituto Nacional da França promoveu um concurso entre os intelectuais da época sobre o tema A influência dos signos na faculdade de pensar (Noth 1994:50).

O ideólogo Marie-Josef De Gérando (1772-1842)

Escreve que um apontamento para os observadores que viajam no hemisfério austral é útil viajar a fim de aprender sobre os estágios da humanidade. Concebe a Etnologia com os ideólogos da Sociedade dos Observateurs como estudo e compreensão da diferença é este o momento em que se define a noção de povo selvagem

1 - ir a viver entre eles

2 - residir entre eles por períodos prolungados

3 - comparar os seus costumes a fim de melhor compreender o Homem

4 - conhecer as fases da história humana 

De Gerando foi premiado com o seu tratado Des signes et de l’art de penser. Nessa obra, Ele desenvolveu a semiótica sensualista propondo um modelo semiogenético que distingue dois limiares semióticos entre três níveis no processo da semiose.

No nível mais baixo aparecem apenas as sensações, que ainda não são reconhecidas come signos mas como condição prévia a existência das representações. O limiar entre as sensações, que ainda não são signos e aquelas que pertencem ao primeiro nível dos signos. corresponde a um estado de conexão da sensação com a ideia. Há signos em dois níveis de semiose: signos prelingúísticos e sígnos linguísticos. Entre os primeiros e os segundos, como passagem temos os signos indicativos e naturais. Assim, o cheiro de uma rosa(sensacão pura) evoca a ideia da sua cor e da sua forma. Degérando afirmava que os signos nesse nível ainda não são capazes de comunicar e usa a metáfora dos "signos mudos" para deixar claro que tais signos são causados por factores externos.

A diferença entre os níveis está no facto de que os signos paralingúísticos e naturais chamam a nossa atenção para eles mesmos quando evocam ideias, ao passo que os signos linguísticos desviam a atenção para as ideias que evocam. Tal referência à atenção para o signo contém os rudimentos de uma distinção mais profundamente elaborada pela teoria fenomenológica dos signos elaborada por Husserl que, posteriormente, influenciaria Jakobson e a semiótica da escola de Praga no século XX (Noth 1994:50-51).

Def. De signo

Um signo é, portanto segundo De Gerando «qualquer sensação que acarreta uma ideia em nós por causa da associação que existe entre elas»

 

Diferentes signos

Símbolos

Há signos chamados 'símbolos' que representam objetos e relações abstratas, como as fórmulas lógicas, químicas, algébricas, os diagramas.

Há signos onde existem correspondências ponto por ponto entre expressão e conteúdo. Os  signos de terceira categoria, mesmo sendo emitidos por seres humanos e com a intenção de comunicar, parecem obedecer ao modelo dos signos de primeira categoria: p q. Não são naturais como os primeiros, mas são chamados de 'icônicos' ou 'analógicos'.

Desenhos

O signo (e a fala comum permite chamá-lo de 'desenho') « qualquer procedimento visual que reproduz os objetos concretos, como o desenho de um animal, para comunicar o objeto ou o conceito correspondente ».

O  diagrama corresponde a regras precisas e codificadas de produção, enquanto o desenho parece mais 'espontâneo'; e o fato de que o diagrama reproduz um objeto abstrato, enquanto um desenho reproduz um objeto concreto (Noth 1994:35).

Emblemas

O uso comum, todavia, chama de signos também aqueles desenhos que reproduzem algo, mas de forma estilizada, de modo que não importa tanto reconhecer a coisa representada, quanto um 'outro' conteúdo pelo qual a coisa estilizada está. A cruz, a meia-lua, a foice e o martelo estão pelo cristianismo, islamismo, comunismo.

Significação.

Produzir factos físicos - ou ter a capacidade de produzir classes de factos físicos - que estão em substituição de outros factos ou entidades, físicas ou não, que os humanos não são capazes de produzir no acto da significação.

Alguns afirmam que o termo 'signo' condiz com as entidades linguísticas convencionadas, emitidas ou emissíveis intencionalmente com o fim de comunicar, e organizadas num sistema descritível segundo categorias precisas.

Por exemplo, chamam-se de 'símbolo' todo elemento que representa uma outra coisa.

O termo 'signo' «para as unidades que, como os signos da linguagem, são duplamente articuladas e que devem a sua existência a um acto de significação »

Semiótica do racionalismo alemão

Wolff

A semiótica do iluminismo alemão começou com a teoria dos signos de          (1679-1754), elaborada num capítulo intitulado De Signo, parte de sua obra Philosophia prima, do 1720. A sua definição e tipologia do signo, entretanto, têm mais ligação com o passado do que com o futuro da semiótica (Noth 1994:51).

Lambert

Na obra de Johann Heinrich Lambert (1728-1777), autor do primeiro tratado de teoria geral do signo intitulado Semiótica (1746), encontramos também um esclarecimento sobre as fronteiras entre o pré-semiótico e o semiótico: abaixo desse limiar há sensações que não podem ser repetidas voluntariamente; acima, há produção de signos com cognição simbólica, único estágio que permite a reiteração das sensações necessárias para atingir clareza na cognição. Sem a reiteração, as sensações ficam irremediavelmente obscuras e indistintas. Esse é um tema típico da semiótica do iluminismo: o papel dos signos na clarificação das ideias obscuras. Para resolver a questão, Lambert indicou a cognição simbólica como "instrumento indispensável do pensamento". Na sua investigação semiótica, Lambert distinguia quatro tipos de signos:

1) naturais,

2) arbitrários,

3) meras imitações e

4) representações.

"Representações", para ele, são signos que representam por variados graus de similitude ou, como diríamos hoje, "iconicidade".

Nas várias línguas, signos arbitrários e naturais fundem-se com mais uma categoria semiótica, que Lambert denominou "signos necessários". Lambert explorou nada menos do que 19 sistemas sígnicos: de notas musicais, gestos, hieróglifos até signos químicos, astrológicos, heráldicos, sociais e naturais. Os critérios de investigação usados por ele são

1) arbitrariedade,

2) a motivação,

3) a necessidade,

4) a sistematicidade e

5) a autenticidade dos signos.

Sob essas diretrizes, os sistemas sígnicos alcançam graus diferenciados de aproximação à realidade. O grau mais alto coincide com os signos científicos, que não só representam conceitos, mas também indicam relações de tamanha afinidade a ponto de assegurar que "a teoria das coisas e a teoria dos signos são permutáveis". Com base nessa ideia otimista de homologia entre signos científicos e coisas está o ideal perseguido por Leibniz e outros pensadores desde o século precedente: a possibilidade de uma linguagem científica e universal, pela representação isomórfica das coisas do mundo. No desenvolvimento desse ideal, Lambert postulou que os signos científicos deveriam estar fundamentados numa teoria semiótica sem signos arbitrários, pois os signos são mais perfeitos na medida em que contêm sinais de seu próprio sentido. A arbitrariedade deveria, pois, ser banida de uma linguagem científica universal ou os signos arbitrários deveriam ser aproximados aos naturais e necessários (Noth 1994:51-52).

Ciência e Arte

Gottfried Herder (1744-1803)

Nesse ponto, a época iluminista da semiótica nos leva a uma constatação surpreendente: a iconicidade - a correspondência entre sígno e mundo - era o critério semiótico principal para duas fases de expressão cultural tantas vezes consideradas contrárias, a ciência e a arte. Em ambos os setores os iluministas viram a possibilidade de se atingirem níveis mais altos de perfeição por meio de signos que representem coisas por aproximação icônica (Noth 1994:53-54).

Esse ponto de vista aproxima arte e a ciência como irmãs gémeas. Para concluir a apresentação da semiótica iluminista, não se pode deixar de fazer uma referência ao filósofo alemão Gottfried Herder (1744-1803), que explicitamente enfatizou as afinidades entre poesia e linguagem científica ideal. Numa passagem de 1768, Herder esboçou uma visão do futuro da semiótica que faz pressentir o período romântico e que é, em si mesma, um exemplo da aplicação da «linguagem poética ao discurso científico, sem necessidade de mais comentários:

«Existe um simbolismo comum para toda a humanidade - um grande tesouro no qual o conhecimento que pertence a toda a humanidade está guardado. A maneira autêntica de falar, da qual ainda não tenho conhecimento, é a chave para esse tesouro escondido. Quando a chave for conhecida, vai abrir o tesouro e trazer luzes para dentro dele, mostrando-nos, assim, os seus valores, isto seria a semiótica que, agora, só podemos entender nos registros das nossas enciclopédias filosóficas: o deciframento da alma humana através da linguagem» (Herder, 1768:13).

Racionalismo alemão

Leibniz

Gottfried Wilhelm Leibniz está diretamente relacionado a Locke, tanto por razões históricas e por razões filosóficas (constitui a resposta racionalista às propostas empiristas de Locke). O problema semiótico leibniziano deve ser enquadrado dentro dos limites rigorosos de toda a sua abordagem teórica. De fato, se por um lado encontramos a necessidade racionalista de construção de uma linguagem universal, por outro também encontramos a de uma análise empírica das linguagens históricas. Mas essa aparente ambiguidade é resolvida inteiramente no contexto da nova lógica de Leibniz, fundada isto é, na combinatória. Com Leibniz, de facto, saímos da lógica semântica tradicional que necessariamente teve que incluir problemas de interpretação de signos, para entrar na lógica sintática, independente da gramática e da linguagem articulada, que pode assim ser fundada empiricamente. Em outras palavras: Leibniz pensa em um sistema de signos não só para representar todo o conhecimento, construindo uma espécie de 'alfabeto' do pensamento humano, mas também para gerar novos conhecimentos, a fim de obter uma forma mecânica de verificar a validade. conceitos. O sistema leibniziano de signos toma forma como notação matemática, constituindo assim a primeira lógica entendida como sistema formal e simbólico. No que diz respeito aos problemas semióticos modernos, Leibniz se questiona sobre a definição do signo e o entende como algo que percebemos em um determinado momento, e que então consideramos como conectado a outra coisa, em virtude de uma experiência anterior, nossa ou de outros. Dito isso, é mais fácil mergulhar nas teorias da linguagem de Leibniz, em sua maioria resumidas no terceiro livro dos Novos Ensaios.

O primeiro tema tratado é o tradicional da arbitrariedade do signo: E reconhece-se que não é porque haja alguma conexão natural entre certos sons articulados e certas ideias (pois, neste caso, haveria apenas uma língua entre os homens), embora para uma instituição arbitrária, em virtude da qual uma determinada palavra foi deliberadamente tomada como o sinal de uma certa ideia.1 Mas este princípio não é totalmente aceito: Eu sei que, nas escolas e em toda parte, é dito que os significados algumas palavras são arbitrárias (ex instituto), e é verdade que não foram de forma alguma determinadas por uma necessidade natural; eles eram, por outro lado, e por razões naturais, em que a escolha entra. E talvez existam línguas artificiais totalmente escolhidas e totalmente arbitrárias, como se acredita o chinês. Mas as línguas, que sabemos ter sido tiradas de línguas conhecidas, são por escolha e, ao mesmo tempo, misturadas com o que é a natureza e o acaso nas línguas que elas pressupõem.  Leibniz, portanto, se inclina para uma tripartição de signos a dependendo da sua relação de motivação com os seus significados. As ligações de sinal podem ser determinadas

1) por escolha (e, portanto, arbitrariedade),

2) por acaso (e, portanto, arbitrariedade inconsciente, acordo tácito) e

3) pela natureza (motivação).

No entanto, esta tripartição não é absoluta, tem um valor muito relativo, porque o próprio Leibniz, argumenta que na origem das palavras existem sempre experiências sensíveis, que então em certos casos com o uso eles não seriam mais sentidos como tais, e em outros ainda o seriam. O problema da arbitrariedade é, portanto, transferido para outro nível, não o da questão da representatividade das coisas pelos signos, mas o da metodologia de definição dos termos. A função metalinguística das definições permite a eliminação da realidade empírica. Com base nisso, Leibniz tende à fundação de uma ciência universal por meio da articulação de um sistema lógico-semiótico. Os campos em que Leibniz examina o uso dos signos são diversos: o ordenamento jurídico, no qual, desde os primeiros trabalhos, propõe o uso de símbolos especiais para a regularização do direito; matemática, em que a ideia de characteristica universalis se desenvolve; e depois a criptografia, a cartografia, o estudo dos hieróglifos, a linguagem animal, a heráldica, a numismática, a etimologia, a linguística comparada e até os sistemas educacionais. Também de interesse semiótico é a distinção funcional dos sistemas de signos, que para Leibniz podem ter uma função cognitiva (dar coerência aos modos de conhecer) ou comunicativa (permitir a expressão entre os homens). Do ponto de vista cognitivo, é importante sublinhar que, por meio da combinatória, é possível aumentar o conhecimento e, portanto, pode-se dizer que os signos são constitutivos do pensamento. Por fim, por meio dos signos, é possível construir o que Leibniz chama de mundo possível, e que é uma hipótese de realidade virtual, desde que apoiada em uma lógica de coerência (um dos mundos possíveis é também o mundo real, que o filósofo prussiano considera o melhor de todos do ponto de vista ético). Estabelece-se assim uma das regras para se chegar à verdade necessária, que é obviamente de ordem lógica e não ontológica, pois consiste precisamente na coerência das relações de signos concretizadas.

A semiologia de Ferdinand De Saussure.

No seu curso de linguistica geral postulava a existência de uma teoria geral dos signos, a Semiologia da qual a linguistica seria uma parte privilegiada.

Assim sendo esta ciência parecia como um vasto campo que inclui todos os outros sistemas de signos e códigos que constituem o mundo em que vivemos:

1) Os códigos linguisticos: são sistemas que reforçam a linguagem verbal, por exemplo gestos, entoação da voz

2) Os códigos epistemológicos: referentes aos códigos científicos e são usados na tradição oral, e nas artes de adivinhação.

3) Os códigos estéticos: são estudados pela semiótica da narrativa e da literatura, a semiótica dos mitos e do pensamento mágico, a semiótica do sinais, do cinema, das artes plásticas arquitectónicas.

4) os códigos sociais: dizem respeito à interpretação e à identidade, ética, cortesia, mito, ao uso da indumentária, aos jogos etc.

A escola semiótica de Pierce.

O projecto semiótica de Pierce   consiste numa teoria onde se definia quadros lógicos de representação da experiência humana e das categorias do pensamento enquanto De Saussure coloca o cento sobre o signo, Pierce destaca a função lógica abrangendo a totalidade do conhecimento num projecto de filosofia problemática.

Para Pierce o signo é uma entidade que estabelece relação entre três dimensões:

1) Representamen: algo que está em lugar duma outra coisa,

2) do objecto,

3) e do seu interpretante

                         Objecto                                                        Signo

#

                         Signo

representamen                      interpretante            Significante            significado

Quando procuramos entender as questões que envolvem as ideias entre indivíduos, depara-­se com barreiras provenientes dos diferentes significados atribuídos às mesmas palavras. Isto implica enfrentar as palavras a nível semântico. É portanto necessário, definir a linguagem como a língua (langue) mas produzida pela ação da fala ou do discurso (parole). O motivo das diferentes parole deve ser atribuído às diferentes individualidades que intervém a compor o universo social.

Semiotica da cultura

A forma como gostaríamos de entender este termo semiótica da cultura) é uma forma fraca, exclusivamente perspectiva, que aspira a definir-se não por uma especificidade de objeto (como se a cultura fosse o objeto daquele ramo particular da semiótica que é a semiótica da cultura), mas por uma pertinência específica: culturalmente considerando o significado (no quadro da vida cultural, para ecoar Saussure). Na verdade, não acreditamos que a cultura seja algo de natureza substantiva, que seja o conjunto de certos conhecimentos (usos, tradições, linguagem, memória) ou que tenha traços definidores; se alguma coisa, acreditamos que é mais semelhante a um efeito de significado, a uma resultante que aparece como resultado de uma série de operações de observação ou a uma hipótese regulatória que é útil para falarmos sobre nós mesmos, para nos atribuir identidades, para nos explicar o mundo. Algo que não podemos prescindir de pensar discursivamente sobre nós mesmos e falar sobre nós mas cuja natureza é difícil de conhecer e discutir (melhor - teologicamente - buscar 'provas', manifestações e pensar sobre elas). Em suma, algo que é vivido e praticado sem muita consciência e intencionalidade, e cuja existência se afirma atribuir uma identidade, ou algo que é traçado ex post, pelo observador que conecta uma série de manifestações coerentes.

Durante este trabalho iremos continuamente passar de um destes níveis para o outro: de um lado a cultura para os sujeitos que a vivem sem a consciência necessária, de outro a cultura para os sujeitos que a observam e que, com o seu olhar, eles constroem, eles definem.

Claro que nos situaremos principalmente neste segundo nível, mas não poderemos deixar de ter em mente que a maneira como falamos, como analistas, de cultura não é a mesma que essa ideia está presente nos sujeitos que fazem, praticam, vivem essa cultura todos os dias.

Três textos exemplares

Para começar a definir o ponto de vista cultural que queremos assumir e sugerir, nestas primeiras páginas utilizaremos três textos (nem todos e sempre semióticos) que consideramos 'exemplares':

- a introdução à Arqueologia do Conhecimento de Michel Foucault (1969);

- o primeiro capítulo da Era Neo-Barroca de Omar Calabrese (1987);

- um estudo sobre as praças folclóricas russas por Jurij Lotman (1976, agora em Lotman 1980).

De forma particularmente clara, concisa e com um pouco de léxico técnico (o que nos permite utilizá-los como referências de partida), os três textos expressam a abordagem antissubstancialista e metodológica que gostaríamos de atribuir ao estudo semiótico da cultura. Como uma lente, a semiótica da cultura é, em nossa opinião, aquela perspectiva particular que serve para enfocar certos problemas específicos; as características dessa perspectiva são a generalidade, a capacidade de criar correlações entre conjuntos de valores e séries de traços de forma morfológica, a perspectiva funcional. A abordagem geral é a indicação central que extraímos de Foucault; o formalismo rigoroso é um dos principais temas de Calabrese, que nos convida a ver a ligação entre morfologias e valorizações; a perspectiva funcional é a espinha dorsal do ensaio de Lotman.

Mas vamos dar uma olhada mais de perto no que esses autores dizem. Oferecemos pouco mais que um resumo, deixando-os, tanto quanto possível, a palavra.

Vamos começar com Foucault.

No início da Arqueologia do conhecimento, Foucault, colocou-se à frente da evolução do conhecimento histórico (que nos anos 1900 deixou de ser apenas história política, história de guerras, batalhas e tratados de paz, para fazer aprenda mais sobre eventos longos, períodos longos, história material: história das fomes, história das rotas marítimas, história da seca, história da alimentação), ele se pergunta se os critérios podem ser definidos para periodizações de civilizações, como eventos e épocas díspares podem ser conectados, se é possível reconstituir totalidades ou apenas concatenações de fases, ou superposições de camadas, e questões sobre os vários tipos de 'sistemas de relações' que em realidades complexas como as culturais podem ser identificar: hierarquias, dominâncias, estratificações, determinações causalidades circulares únicas.

O sentido em que a quebra de um pacto causa uma guerra não é o mesmo que o sentido em que a decadência de uma rota marítima determina uma mudança na nutrição, que por sua vez motiva o aparecimento de uma doença. Como, então, é possível criar sistemas de relacionamento homogêneos? Que limites devem ser assumidos?

Diante da heterogeneidade do mundo, segundo Foucault,

o problema é constituir séries: definir seus elementos para cada uma delas, fixar seus limites, destacar o tipo de relação que lhe é específica, formular sua lei e, ainda, descrever as relações entre as séries. diferente, para assim constituir séries de séries, ou 'quadros' (Foucault 1969, p. 11).

Foucault propõe, em suma, ordenar agrupando elementos análogos, para depois fazer comparações e estabelecer as relações existentes entre as várias séries traçadas. Dessa forma, segundo ele, é possível ter uma compreensão geral do mundo, da cultura, da história, sem cair na tentação do fracasso de uma compreensão global das coisas.

Aqui está como ele distingue 'geral' e 'global':

o projeto de uma história global é aquele que tenta reconstruir como um todo a forma de uma civilização, o princípio, material ou espiritual, de uma sociedade, o sentido comum de todos os fenómenos de um período, a lei que explica sua coesão , o que é metaforicamente chamado de 'rosto' de uma era. [... Se problematizarmos] as séries, as varreduras, os limites, as diferenças de altura, as diferenças, as especificidades cronológicas, as formas estranhas de persistência, os tipos de relações possíveis [...] o problema que se abre é o de determinar que forma de relação pode ser legitimamente descrita entre essas diferentes séries: que sistema vertical elas podem vir a formar; qual é o mecanismo de correlações e dominâncias entre um e outro; que efeito podem ter as lacunas, as diferentes temporalidades, as diferentes persistências; em que conjuntos distintos, certos elementos podem aparecer simultaneamente; em suma, não apenas quais séries, mas quais 'séries de séries' - ou, em outras palavras, quais 'quadros elétricos' - podem ser estabelecidas. Uma descrição global abrange todos os fenómenos em torno de um único centro, princípio, significado, espírito, visão de mundo, forma do todo; uma história geral deveria antes mostrar todo o espaço de uma dispersão (Foucault 1969, pp. 14-15).

Esta indicação de Foucault parece-nos de capital importância.

«Da mobilidade política às lentidões próprias da “civilização material”, os níveis de análises se multiplicaram: cada um tem suas rupturas específicas, cada um permite um corte que só a ele pertence; e, à medida que se desce para bases mais profundas, as escansões se tornam cada vez maiores. Por trás da história desordenada dos governos, das guerras e da fome, desenham-se histórias, quase imóveis ao olhar» (Foucault 1987:3)

A historia das descobertas de Diogo Cão em Angola, dos caminhos marítimos para aqui chegar, do Preste João que atraía  os descobridores, das mudanças culturais instauradas pelos colonos a historia que marca a nossa economia angolana parece-nos de capital importância.

Mas agora o problema que se põe é quantos metros de distanciamento temos que colocar entre mim e os outros, enfim uma serie de acontecimentos que mudaram profundamente a nossa história. O historiador preocupa-se com épocas, séculos, períodos mas se calhar lhe escapamos fenómenos de ruptura e de continuidade dos sistemas de pensamento que se instauraram em Angola. Há que considerar os fundamentos epistemológicos da semiótica como algo que luta apaixonadamente para continuar a existir hoje no nosso mundo sob a forma de disciplina e de actividade teórica não foi sentido dum acumulo eterno de conhecimentos ensacados, mas introduzindo um tempo novo, um novo tipo de considerar as coisas reformulando seu sistema simbólico, sua incidência, a historia não se conta sempre da mesma maneira. Pois os desafios que a sociedade nos coloca são sempre mais provocadores. Lá está, o saber desligar de um passado ideologicamente pesado para ver qual é a alma do presente e não basta a análise sociológica nem aquela filosófica devemos ter em conta o momento presente como aquele que fundamenta a capacidade semiótica de sistematizar e interpretar a cultura no dia de hoje a sua estrutura o seu significado a sua preponderante capacidade de recriar-se indefinidamente sem sucumbir na estandardização. Portanto podem ser sim os grupos, as estratificações sociais, as escolas teóricas, que já não aparecem. Poderiam ser sim os movimentos sociais que premem para um renovamento total da sociedade angolana ou autores que continuam a emergir no jogo eterno da actualidade que se tornou parâmetro fundamental de  análise sócio-cultural. Há quem se esconde atrás do  insignificante aparecer, como se tudo se consumasse num eterno teatro onde os autores se escondem mascarados para não dar a entender que são eles que mexem. E tudo continua a acontecer . Então para nós que nos encontramos  a estudar o significado simbólico que assume a cultura qual deveria ser o principio sobre o qual construir a nossa análise semiótica ? Continuidade com a tradição do passado? Ruptura total? Mudança de todos os parâmetros básicos? Transformar sistemas na procura de realidades utópicas? Mas afinal o que é o significado? Quais são os signos sobre os quais refletir? Em que forma estrutura-los? Como diversificar os níveis para penetrar o sentido profundo dos acontecimentos? Num mundo de inconsistência teórica tudo é feito passar como se fosse já mas a procurá-lo não se encontra. A própria constatação torna-se frustrante para a pesquisa pois  commumente todos alinham numa oficialidade feita de aparências, então aonde se encontra a verdade dos factos se tudo e sempre é conveniência? Este dilema está sempre presente em quem hoje quer pesquisar sobre o significado dos acontecimentos culturais hodiernos. Enfim a historia do presente está em plena contradição com a historia daquilo que se queria fazer passar no passado. Tanto era exacerbada a ideologia do passado onde tudo era formatado segundo moldes maximalistas tanto é inconsistente hoje a situação onde cada um é naufrago dum navio que afunda, a procura de tábuas que o possa salvar. Então ha como concluir com Clifford que os frutos puros que na nossa tradição eram referenciais e identitários hoje enlouqueceram por falta de capacidade de significar. E com estas premissas deveríamos nós começar a estudar a semiótica da cultura actual. Em que termos? Com que bases? Pois os acontecimentos irromperam numa realidade histórica sem continuidade, estamos em balia duma revolução silenciosa e consistente onde tudo passa na constatação da incapacidade de afirmar algo que seja certo. É como se a mulher tivesse que espreitar sempre pela janela para perceber aquilo que acontece dentro casa. Mas a cultura angolana se baseia em realidades fortes, presentes, são factores identitários indiscutíveis, o Redinha já no tempo colonial o tinha constado e com riqueza valorizado.

Mas hoje fomos reduzidos a tantos Diogenes que procuram com o candeeiro: onde está a cultura? Qual é seu significado? Será que este símbolo ainda tem significado? A estas perguntas nos propomos de responder com este curso.

Estudo semiótica da cultura

O estudo da cultura angolana (incluindo o estudo semiótico da cultura) não pode ser feito a prescindir do seu significado;  não pode se pensar de estudar a cultura actual num continuo esforço de delimitar factos e pessoas dentro dum horizonte que já não existe, como se todos se comportassem ao mesmo modo solicitados pelo alcance dos mesmos fins.

«A semiótica da cultura só pode lidar com esses textos individuais se os enxergar em uma perspectiva geral, ou seja, pela série de relações que esses objetos singulares têm com os demais objetos da série a que pertencem » (Lorusso, 2010, p.11). Analisamos por exemplo o comportamento e o sentimento de amizade dos soldados na última  guerra que se travou em Angola. Dum lado ordens totalizantes, doutro o bom senso de quem sabe que está a matar seu irmão e destruir estruturas básicas para viver. Na última fase havia a capacidade de discernir sem cair em formas de totalitarismo massificante e massacrante. Chegados a nós não nos podemos relacionar explicando uma cultura de forma totalizante. Os significados contidos nos signos não acabam; não são somados em uma soma global, e não se acontentam de ser descritos etnograficamente, numa descrição que inclui tudo.

A cultura angolana está dispersa, como lemos em Foucault, e o antropólogo se deve dar conta dessa dispersão, apontando à lógicas, regras e espaços.

Não muito diferente é a pergunta de Omar Calabrese , em um estudo quase ante litteram da semiótica da cultura.

No primeiro capítulo de seu ensaio A era neobarroca, Calabrese começa por se perguntar se é possível identificar (como costumava acontecer até então) 'um personagem, uma qualidade, uma marca geral' para definir uma época. Em suma, existe uma cultura? Em sua opinião, é questionável a ideia de que diferentes fenómenos podem ser facilmente agrupados em uma única chave explicativa ou em um único rótulo. Antes mesmo de comparar e agrupar os fenómenos, porém, não é de todo óbvio como estabelecer a relevância dos elementos a serem levados em consideração (aqueles que me dizem que o secularismo é um valor relevante hoje, e não é mais significativo ecologismo?) e, conseqüentemente,

Bibliografia

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           2ª aula 17 de Outubro semiótica do empirismo

 

 

Gottfried Wilhelm Leibniz

Antes de passar a Locke e o empirismo britânico, è necessário ao menos mencionar mais um tema e alguns filósofos semióticos desse período que, apesar de importantes na história da semiótica, não podem ser discutidos em detalhes neste rápido panorama da semiótica. Na modernidade, que vai do final do século XVI ao final do século XIX, uma virada semiótica, um dos grandes temas da reflexão sobre a linguagem se dá pela evidência da diversidade linguística. Leibniz levanta o problema da relação entre sinais, linguagem e conhecimento. Ele está bem ciente do fato de que a diversidade das línguas lembra de alguma forma a evolução da linguagem, o fato de que as línguas mudaram ao longo do tempo a partir de uma língua primitiva. A linguagem da ciência deve ser precisa, não pode suscitar dúvidas e deve ser absolutamente clara. propõe uma ferramenta de comunicação universal mediada por simbolismo artificial. É o que ele chama de recurso universal ou mesmo arte combinatória. Ou seja, um sistema de símbolos estritamente definidos e, portanto, que não dão origem a mal-entendidos usados ​​para se referir aos elementos simples dos objetos de uma ciência. é uma proposta que foca mais do que o nível da semântica, da diversidade semântica, do significado entre as línguas, do nível da sintaxeTais filósofos são G. W. Leibniz (1646-1716) e Francis Bacon (1561-1626) e o tema é a procura de uma língua universal por George Dalgamo e John Wilkins, entre outros. Leibniz não só estudou uma grande variedade de signos e assuntos semióticos, mas sobretudo as regras para combiná-los tendo em vista um sistema racional de signos. Leibniz pensa a um sistema de signos não só para representar o inteiro conhecimento, e se constrói uma espécie de alfabeto dos pensamentos humanos também para gerar novos conhecimentos e assim elabora uma forma mecânica de apurar a validade dos conceitos. Na origem das palavras há sempre experiências sensíveis o uso das palavras é que determina a sua utilidade. Os campos onde os signos se usam são na actividade giuridica , na matemática, na criptografia, na cartografi, nos hieroglíficos, na linguagem animal, na araldica, na numismática, na etimologia e na linguistica comparativa. A função do sistema dos signos é:

1) cognitiva: dar coerência ao conhecimento e constituir o mundo possível que é uma realidade virtual sustentada por uma lógica coerente.

2)comunicativa: permitir a expressão humana.

Gottfried Wilhelm Leibniz está diretamente relacionado a Locke, tanto por razões históricas e por razões filosóficas (constitui a resposta racionalista às propostas empiristas de Locke). O problema semiótico leibniziano deve ser enquadrado dentro dos limites rigorosos de toda a sua abordagem teórica. De fato, se por um lado encontramos a necessidade racionalista de construção de uma linguagem universal, por outro também encontramos a de uma análise empírica das linguagens históricas. Mas essa aparente ambiguidade é resolvida inteiramente no contexto da nova lógica de Leibniz, fundada isto é, na combinatória. Com Leibniz, de facto, saímos da lógica semântica tradicional que necessariamente teve que incluir problemas de interpretação de signos, para entrar na lógica sintática, independente da gramática e da linguagem articulada, que pode assim ser fundada empiricamente. Em outras palavras: Leibniz pensa em um sistema de signos não só para representar todo o conhecimento, construindo uma espécie de 'alfabeto' do pensamento humano, mas também para gerar novos conhecimentos, a fim de obter uma forma mecânica de verificar a validade. conceitos. O sistema leibniziano de signos toma forma como notação matemática, constituindo assim a primeira lógica entendida como sistema formal e simbólico. No que diz respeito aos problemas semióticos modernos, Leibniz se questiona sobre a definição do signo e o entende como algo que percebemos em um determinado momento, e que então consideramos como conectado a outra coisa, em virtude de uma experiência anterior, nossa ou de outros. Dito isso, é mais fácil mergulhar nas teorias da linguagem de Leibniz, em sua maioria resumidas no terceiro livro dos Novos Ensaios.

O primeiro tema tratado é o tradicional da arbitrariedade do signo: E reconhece-se que não é porque haja alguma conexão natural entre certos sons articulados e certas ideias (pois, neste caso, haveria apenas uma língua entre os homens), embora para uma instituição arbitrária, em virtude da qual uma determinada palavra foi deliberadamente tomada como o sinal de uma certa ideia.1 Mas este princípio não é totalmente aceito: Eu sei que, nas escolas e em toda parte, é dito que os significados algumas palavras são arbitrárias (ex instituto), e é verdade que não foram de forma alguma determinadas por uma necessidade natural; eles eram, por outro lado, e por razões naturais, em que a escolha entra. E talvez existam línguas artificiais totalmente escolhidas e totalmente arbitrárias, como se acredita o chinês. Mas as línguas, que sabemos ter sido tiradas de línguas conhecidas, são por escolha e, ao mesmo tempo, misturadas com o que é a natureza e o acaso nas línguas que elas pressupõem.  Leibniz, portanto, se inclina para uma tripartição de signos a dependendo da sua relação de motivação com os seus significados. As ligações de sinal podem ser determinadas

1) por escolha (e, portanto, arbitrariedade),

2) por acaso (e, portanto, arbitrariedade inconsciente, acordo tácito) e

3) pela natureza (motivação).

No entanto, esta tripartição não é absoluta, tem um valor muito relativo, porque o próprio Leibniz, argumenta que na origem das palavras existem sempre experiências sensíveis, que então em certos casos com o uso eles não seriam mais sentidos como tais, e em outros ainda o seriam. O problema da arbitrariedade é, portanto, transferido para outro nível, não o da questão da representatividade das coisas pelos signos, mas o da metodologia de definição dos termos. A função metalinguística das definições permite a eliminação da realidade empírica. Com base nisso, Leibniz tende à fundação de uma ciência universal por meio da articulação de um sistema lógico-semiótico. Os campos em que Leibniz examina o uso dos signos são diversos: o ordenamento jurídico, no qual, desde os primeiros trabalhos, propõe o uso de símbolos especiais para a regularização do direito; matemática, em que a ideia de characteristica universalis se desenvolve; e depois a criptografia, a cartografia, o estudo dos hieróglifos, a linguagem animal, a heráldica, a numismática, a etimologia, a linguística comparada e até os sistemas educacionais. Também de interesse semiótico é a distinção funcional dos sistemas de signos, que para Leibniz podem ter uma função cognitiva (dar coerência aos modos de conhecer) ou comunicativa (permitir a expressão entre os homens). Do ponto de vista cognitivo, é importante sublinhar que, por meio da combinatória, é possível aumentar o conhecimento e, portanto, pode-se dizer que os signos são constitutivos do pensamento. Por fim, por meio dos signos, é possível construir o que Leibniz chama de mundo possível, e que é uma hipótese de realidade virtual, desde que apoiada em uma lógica de coerência (um dos mundos possíveis é também o mundo real, que o filósofo prussiano considera o melhor de todos do ponto de vista ético). Estabelece-se assim uma das regras para se chegar à verdade necessária, que é obviamente de ordem lógica e não ontológica, pois consiste precisamente na coerência das relações de signos concretizadas.

Francis Bacon, um cético semiótico, estudou os meios linguísticos de "falsificar" as coisas no seu tratado Idols oft he marketplace (Novum organum I, 43).

Christian Wolff (1679–1754)

Em paralelo, no mesmo século, surgiu o termo semiótica para designar a teoria geral dos signos. A partir dessa tradição, ampliaram-se, nos séculos XVII e XVIII, os domínios da semiótica para uma ciência geral do conhecimento da natureza humana, denominada como semiótica moralis. Uma síntese dessa tradição da semiótica pode ser encontrada na obra de Christian Wolff (1679–1754).

Deve-se constituir uma linguagem  real de signos que supere as ambiguidades e dificuldades da linguagem comum. Um sistema de signos deve

1) atribuir a cada signo um conceito

2) relacionar as distinções entre signos e conceitos

3) relacionar signos e conceitos

Primeiramente os signos se referem às coisas, só num segundo momento se referem aos conceitos.

O modelo desta linguagem ideal é a álgebra

 John Locke

Em 1690, John Locke, em seu Essay concerning human understanding, definiu a semiótica, sob o nome de semeiotikh, como um dos três grandes ramos dos estudos do conhecimento humano ao lado da física e da ética. Semiótica, para Locke, era um sinônimo da lógica; a semiótica deveria tratar principalmente das palavras, por serem os signos mais relevantes. John Locke é a principal figura da história da semiótica de sua época. Já o consideramos no contexto da história terminológica da semiótica e no contexto da relação entre a semiótica e as demais ciências. Porém, apesar da enorme importância das suas ideias, o aspecto inovador da sua obra não é tão grande quanto poderia parecer. Locke  descreveu os signos como “grandes instrumentos de conhecimento" e distingue duas classes de signos: as ideias e as palavras. As ideias são os signos que representam as coisas na mente do contemplador; as palavras não representam nada "senão as ideias na mente da pessoa que as utiliza". Palavras, portanto, são os signos das ideias do emissor. Porém, se as palavras fossem apenas signos de ideias e as ideias fossem apenas signos de coisas, a comunicação humana não seria realmente possível. Locke, entretanto, não admitiu que as palavras são também signos "das ideias na mente das outras pessoas com as quais nos comunicamos". Como ideias são signos- e palavras são signos de ideias - , palavras, na definição de Locke, são signos de signos, ou, como diríamos hoje, metasignos.

A separação categórica entre dois níveis semióticos – ideias e palavras - implica problemas sérios do ponto de vista da semiótica geral : Hoje sabemos que as ideias - ou significados ligados às palavras - em muitos aspectos não são independentes das palavras que as designam. A significação das palavras não vem (ou não vem apenas) da percepção das coisas, como Locke sugeriu, mas também do sistema da linguagem que gera as diferenças entre as palavras. Esta ideia é central para a semiótica linguística desde Saussure. A imagem que Saussure (1916:131) usou para descrever a relação entre palavra e ideia foi a imagem da relação indissociável entre o recto e o verso de uma folha de papel; no recto temos o significante de Saussure ou a palavra de Locke, no verso temos o significado ou a ideia. Não se pode separar o recto do verso de uma folha sem que se perca o conjunto. Uma metáfora que corresponderia ao modelo de Locke seria o símile de um sanduíche: a fatia de baixo é a ideia, que permanece mesmo se a fatia de cima - a palavra-for retirada (Noth 1994:45).

Bacon (1561-1626)

Com Francisco Bacon, começa, do lado empirista, uma profunda reconsideração dos problemas linguísticos que levará à verdadeira fundação consciente da semiótica com John Locke. As motivações para as análises semióticas do empirismo (mais tarde desenvolvidas em quase todo o século XVII inglês) surgem de um interesse renovado pela ciência em todos os seus ramos. Isso naturalmente leva os cientistas-filósofos a refletir sobre o fato linguístico em seu modo simples de funcionamento, a partir da observação. Outra é a consideração básica do ceticismo herdado do século XVI em relação à linguagem como uma ferramenta eficaz para conhecer e comunicar os dados da realidade. No De dignitate et augmentis scìentiarum, Bacon parte do exame dos órgãos, do método e De comunicação. Em primeiro lugar, os nomes aristotélicos são interpretados como rótulos impostos às coisas para actuar como mediação entre o homem e a realidade. Tomando o problema da linguagem em termos empiristas, Bacon pode, portanto, prosseguir em sua análise do ponto de vista da comunicação. E segue-se que as palavras são examinadas em primeiro lugar como signos. Tanto é assim que o autor passa a diferenciar signos puramente arbitrários, como palavras, de signos analógicos (chamados de símbolos, mas se assemelham a ícones peircianos): no entanto, em outros lugares ele mostra ser um Convencionalista, especialmente no que diz respeito ao debate renovado entre, natureza e convenção, de origem antiga. A querelle tradicional se concretiza em duas questões: a origem da linguagem e a relação entre nomes e coisas. Bacon confirma a Sua posição convencionalista se mostra cética quanto à reconstrução da linguagem edênica, a suposta linguagem como original e natural: não sendo possível reconstruí-la, é preciso deter-se nas linguagens como são, constituídas por elementos convencionais que não são intrinsecamente racionais (tanto que são portadores de um ídolo) A congruência dos signos com as coisas depende, no mínimo, apenas de sua função como instrumento capaz de distinguir as coisas. Também em Bacon, a ênfase no caráter funcional da comunicação é fundamental, até porque ela independe da substância em que ocorre. O convencionalismo da relação entre palavras e coisas fica então claramente expresso na proposta de estabelecimento de uma gramática filosófica, diferente da literária, 'que examina o poder e a natureza das palavras, enquanto traços e marcas da razão. Devem ser destacados dois aspectos fundamentais do pensamento semiótico de Bacon. A primeira é que o filósofo inglês se torna o proponente de uma metodologia da ciência baseada no raciocínio indutivo. Mas isso o leva a pensar na linguagem como o próprio instrumento de indução. O signo, de fato, torna-se uma forma de fixar a observação dos fenómenos, e é a sanção de um raciocínio já realizado. A proposição, então, com seu caráter inferencial, é o próprio tipo de indução.

Ao contrário de outras grandes 'defesas' da indução ocorridas na antiguidade, a de Bacon inclui também as formas de erro do raciocínio indutivo, pois introduz a noção de subjetividade. No pensamento como na linguagem, a subjetividade produz mal-entendidos, falsidades, erros. Bacon aponta quatro tipos de erros: os ídolos da tribo, que dependem das atitudes biológicas da espécie humana; Os ídolos da caverna, que são constituídos das deficiências dos indivíduos; Ídolos de mercado, que são causados ​​por percepções distorcidas de socialização em grupos étnicos; Os ídolos do teatro, devido aos hábitos e atuações dos grupos sociais na cena coletiva.

No entanto, é a primeira vez que surge uma reflexão sobre o papel subjetivo e não eminentemente objetivo da linguagem. E pode-se dizer também que, por meio dessa reflexão, nasce um sociosemiótico muito tímido.

Hobbes (1588-1679)

Thomas Hobbes elaborou uma definição diádica e materialista do signo verbal ao escrever que "os nomes são signos das nossas concepções e não das coisas mesmas". Se os signos não podem-se referir ao mundo, mas apenas a outros conceitos dele derivados, o processo de semiose irá se desenvolver numa rede de tramas mentais, que Peirce, mais tarde, denominaria “semiose ilimitada". Hobbes evidenciou ainda um modelo associacionista bastante unilinear de semiose ao salientar que, na associação dum acontecimento antecedente com um evento consequente, um è signo do outro.

Hobbes definição do signo

«o evidente antecedente do consequente, e ao contrário, o consequente do antecedente, quando as mesmas consequências foram observadas antes; e quantas mais vezes foram observadas, menos incerto é o signo».

O signo é um gesto emitido com a intenção de comunicar, ou seja, para transferir uma representação própria ou um estado interno para um outro ser. Naturalmente, presume-se que, para que a transferência tenha êxito, uma determinada regra (um código) habilite tanto o emissor quanto o receptor para entender a manifestação do mesmo modo.

Neste sentido, são reconhecidos como signos as bandeiras e os sinais de trânsito, as insígnias, os marcos, as etiquetas, os emblemas, as cores heráldicas, as letras do alfabeto. Neste ponto, os dicionários e a linguagem culta. Nos  países de língua inglesa, o termo signo leva logo a pensar na gesticulação dos surdos-mudos (chamada de sign language) e não nas manifestações verbais (Noth 1994:43).

Berkeley  (1685-1753)

George Berkeley radicalizou a teoria diádica do signo no quadro do seu nominalismo e idealismo ontológico. A matéria do mundo, para ele, não participa do processo de semiose; as nossas sensações do mundo são "ideias impressas nos sentidos" e não existem a não ser na mente de quem as percebe. O "ser" delas è o ser percebido: Esse est percipi (Berkeley, 1710: 3).

Uma das consequências dessa visão tão radical do mundo está no fato de que todos os processos que se desenvolvem no mundo são interpretados como processos de semiose. Em vez de promover relações entre causas e efeitos, Berkeley vê apenas  relações entre "signos" e "coisas significadas”. Assim, o barulho que ouvimos não é causado pelo movimento dos carros na rua mas é somente um signo deles. Dessa forma, todo o mundo natural aparece permeado de signos, tal como diria Peirce mais tarde (Noth 1994:44).

Alexander G. Baumgarten

Também na Metaphysica  (1739) de Alexander G. Baumgarten encontram-se os conceitos de semiotica e semiologia philosophica. O filósofo e fundador da estética moderna entende esses conceitos como o campo de estudo dos sistemas de signos da língua, da escrita, dos hieróglifos, da heráldica e da numismática, entre outros.

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           3ª aula 24 de Outubro Semiótica do Iluminismo

 

 

Alexander Gottlieb Baumgarten

Também na Metaphysica  (1739) de Alexander G. Baumgarten encontram-se os conceitos de semiotica e semiologia philosophica. O filósofo e fundador da estética moderna entende esses conceitos como o campo de estudo dos sistemas de signos da língua, da escrita, dos hieróglifos, da heráldica e da numismática, entre outros.

Os grandes temas semióticos do século XVIlI foram discutidos nas áreas da epistemologia, da hermenêutica e de uma nova ciência que, junto com a semiótica, começou apenas nesse século a estabelecer-se explicitamente, a estética.

O tema principal da epistemologia semiótica foi o papel dos signos nos processos da percepção e a génese dos signos. A hermenêutica - arte geral da interpretação - enfatizou o papel dos, signos no processo de compreensão dos textos. A estética teve como temática principal o papel dos signos naturais e artificiais ou arbitrários na percepção do belo.

A estética foi primeiramente estabelecida por Alexander Gottlieb Baumgarten num livro de 1750.

0 termo grego aisthsis, do qual estética è derivado significa "percepção dos sentidos". De acordo com esse sentido, Baumgarten definiu a estética como a ciência da cognição perceptiva (scientia cognitionis sensitivae), em contraposição à lógica, definida como "ciência do conhecimento racional". É interessante ver que a especialização da ciência geral da percepção inaugurada por Baumgarten ligava-se diretamente a um ramo da lógica que ele denominava "semiótica". Na sua definição, essa semiótica devia tratar de signis pulchrae cogitatorum et dispositorum: dos signos belos na cognição e na disposição (Noth 1994:46).

 

Giambattista Vico (1668-1774)

Antes de começarmos a tratar dos protagonistas da filosofia semiótica da Idade das Luzes, é necessário introduzir brevemente algumas informações sobre um pensador do século XVIII, cuja obra constituiu uma significativa contribuição para o passado e o futuro da semiótica, embora suas ideias não mantivessem a essência do programa principal dos iluministas: a confiança no progresso e na razão, desafiando a autoridade e a tradição

O que o napolitano Giambattista Viço, em sua obra Nuova Scienza de 1725, tem em comum com os iluministas da segunda metade desse século é a base evolucionista e não-cartesiana dessas ideias. Mesmo para Giovan Battista Vico, um dos maiores filósofos italianos, surge o problema da diversidade das línguas. Rejeitando a ideia de que as línguas são simplesmente convencionais e que, portanto, a diversidade das línguas deriva de diferentes convenções que os vários grupos humanos estabeleceram na relação entre o signo e seu conteúdo. As diferenças residem não apenas nos métodos estremamente especulativos, mas também na sua simpatia pelos ritos e mitos arcaicos, assunto que só viria a despertar interesses maiores nos séculos XIX e XX.

Os temas de maior relevo semiótico na Nuova Scienza são a

Vico acreditava em uma "história ideal e eterna", na qual a humanidade teria passado por três fases de desenvolvimento:

Essas três fases ocorrem em ciclos que podem resultar em fases de retrocesso a estágios anteriores do desenvolvimento (Noth 1994:47).

Era divina

Para Vico, durante a era divina, os homens acreditavam que tudo fosse deus ou criado por um deus. Seria, pois, a época da semiose ritual, marcada por «atos religiosos mudos ou cerimónias divinas». Antes de desenvolvera linguagem articulada, os homens se comunicavam por meio de hieroglíficos, ou expressavam-se por meio de gestos ou objetos físicos que tivessem relações naturais com as ideias. A linguagem falada ter-se-ia se desenvolvido, então, a partir da onomatopeia e das interjeições; era "uma linguagem com significações naturais".

Era heroica

Durante a época heróica, o modo dominante de comunicação deu-se por meio de emblemas visuais, brasões, insígnias e outros signos de posse material. Ideias abstractas foram expressas  na forma antropomórfica de heróis míticos. O significado de herói, por exemplo, era expresso pelo herói mítico Aquiles. Ambas as eras foram períodos de sabedoria poética e as pessoas que nelas viveram foram autênticos poetas. Para Vico, portanto, poesia, metáfora e mito são formas arcaicas de pensamento.

Era dos homens

 A terceira era - a era dos homens - foi também a idade da razão e da civilização. Os signos, agora arbitrários, literais e abstractos, fazem com que entrem em declínio a poesia e a imaginação.

Porém, seria erróneo pensar que somente essa era teve acesso à verdade. Vico postulou que as mitologias antigas não são meras ficções ou mesmo distorções da realidade, mas expressões poéticas precoces das sabedoria humana. A consequência é que a primeira ciência a ser aprendida deveria ser a mitologia ou a interpretação das fábulas, pois[...] todas as histórias dos gentios tiveram seu começo em fábulas.

 

Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780) e o sensualismo francês

Na Idade das Luzes os filósofos franceses desenvolveram uma outra forma de empirismo conhecido pelo nome de sensualismo.

Um novo elemento, na semiótica dessa época, foi a tentativa de interpretação genética do processo da semiose. O sensualista Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780), por exemplo, foi o autor de Essai sur l’origine des connaissances humaines, obra em que descreve a semiose como um processo genético que começa em níveis primitivos e chega até níveis mais complexos. 0 mais primitivo deles, o ponto de partida para o conhecimento, é a sensação, a experiência sensual imediata; os níveis seguintes, pela ordem, são percepção, consciência, atenção, reminiscência, imaginação, interpretação, memória e reflexão.

O fundamento básico dessa interpretação psicogenética da cognição está na convicção de que "o uso dos signos é o princípio que revela a fonte de todas as nossas ideias" Condillac distinguiu também três categorias de signos:

Na génese da cognição, considerando a escala que vai das sensações ás reflexões, o signo só aparece ao nível da reminiscência apenas nesse estágio que começam a surgir os signos causais (ou acidentais) e naturais. Antes de se chegar à reminiscência a cognição se processa pré-semioticamente. Tal divisão è uma das primeiras tentativas de se estabelecer, na história da semiotica  o limiar dos signos, como reconhecerá U. Eco, mais tarde, no âmbito das pesquisas de uma semiótica genética.

A divisão entre signos naturais e institucionais constituirá, também o limiar entre a semiótica animal e a semiose humana. Alem dessas questões, a semiótica sensualista discutiu, sobretudo, a origem da língua e as fases do seu desenvolvimento (Noth 1994:48).

 

Diderot: a comunicação não-verbal e estética

Nos estudos genéticos da semiose humana surgiram ideias sobre a diferença entre a comunicação verbal e não verbal.

O enciclopedista Diderot (1713-1784) tratou desse assunto nas suas obras Lettre sur les aveugles (1749) e Lettre sur les sourds et le muets (1751).

As ideias que desenvolveu foram revolucionárias se comparadas com aquelas desenvolvidas pelo racionalismo cartesiano Diderot afirmou que a linguagem dos gestos não é só mais expressiva como também mais lógica que a linguagem verbal. A razão desse argumento surpreendente prende-se à linearidade temporal dos fonemas na expressão verbal, que acarreta uma estrutura unidimensional. Já a linguagem dos gestos é tridimensional, como a realidade do mundo.

Diderot concluiu que a representação tridimensional corresponde necessariamente mais à realidade do que as demais representações unidimensionais, como a linguagem. Portanto, podemos concluir que, para Diderot, a linguagem provoca uma distorção da realidade.

O argumento da superioridade da comunicação não-verbal insere-se numa teoria semiótica mais geralmente desenvolvida no âmbito da estética do século XVIII: a teoria da mimese, da representação por signos icônicos, mais próximos ao mundo representado.

Argumentava-se, nessa época, que os signos icônicos e os signos naturais são meios de representação semiótica e esteticamente superiores aos signos arbitrários. Assim, o mais icônico e natural dos signos é também o mais belo (Noth 1994:49-50).

 

A semiótica genética da «Sociedade dos Observadores do homem»

Outras ideias semióticas do século das luzes vieram de um grupo de filósofos da época da Revolução Francesa chamado os ideólogos. O programa desses filósofos, porém, não foi nada ideológico, no sentido que hoje atribuímos a esse termo. Ideologia, para eles, era "o estudo das origens das ideias", constituindo uma ciência sem preconceitos metafísicos e religiosos.

Em 1795, o Instituto Nacional da França promoveu um concurso entre os intelectuais da época sobre o tema A influência dos signos na faculdade de pensar (Noth 1994:50).

O ideólogo Marie-Josef De Gérando (1772-1842)

Escreve que um apontamento para os observadores que viajam no hemisfério austral é útil viajar a fim de aprender sobre os estágios da humanidade. Concebe a Etnologia com os ideólogos da Sociedade dos Observateurs como estudo e compreensão da diferença é este o momento em que se define a noção de povo selvagem

1 - ir a viver entre eles

2 - residir entre eles por períodos prolungados

3 - comparar os seus costumes a fim de melhor compreender o Homem

4 - conhecer as fases da história humana 

De Gerando foi premiado com o seu tratado Des signes et de l’art de penser. Nessa obra, Ele desenvolveu a semiótica sensualista propondo um modelo semiogenético que distingue dois limiares semióticos entre três níveis no processo da semiose.

No nível mais baixo aparecem apenas as sensações, que ainda não são reconhecidas come signos mas como condição prévia a existência das representações. O limiar entre as sensações, que ainda não são signos e aquelas que pertencem ao primeiro nível dos signos. corresponde a um estado de conexão da sensação com a ideia. Há signos em dois níveis de semiose: signos prelingúísticos e sígnos linguísticos. Entre os primeiros e os segundos, como passagem temos os signos indicativos e naturais. Assim, o cheiro de uma rosa(sensacão pura) evoca a ideia da sua cor e da sua forma. Degérando afirmava que os signos nesse nível ainda não são capazes de comunicar e usa a metáfora dos "signos mudos" para deixar claro que tais signos são causados por factores externos.

A diferença entre os níveis está no facto de que os signos paralingúísticos e naturais chamam a nossa atenção para eles mesmos quando evocam ideias, ao passo que os signos linguísticos desviam a atenção para as ideias que evocam. Tal referência à atenção para o signo contém os rudimentos de uma distinção mais profundamente elaborada pela teoria fenomenológica dos signos elaborada por Husserl que, posteriormente, influenciaria Jakobson e a semiótica da escola de Praga no século XX (Noth 1994:50-51).

Def. De signo

Um signo é, portanto segundo De Gerando «qualquer sensação que acarreta uma ideia em nós por causa da associação que existe entre elas» 

1 Diferentes signos

 

Há signos chamados 'símbolos' que representam objetos e relações abstratas, como as fórmulas lógicas, químicas, algébricas, os diagramas.

Há signos onde existem correspondências ponto por ponto entre expressão e conteúdo. Os  signos de terceira categoria, mesmo sendo emitidos por seres humanos e com a intenção de comunicar, parecem obedecer ao modelo dos signos de primeira categoria: p q. Não são naturais como os primeiros, mas são chamados de 'icônicos' ou 'analógicos'.

2 Desenhos

O signo (e a fala comum permite chamá-lo de 'desenho') « qualquer procedimento visual que reproduz os objetos concretos, como o desenho de um animal, para comunicar o objeto ou o conceito correspondente ».

O  diagrama corresponde a regras precisas e codificadas de produção, enquanto o desenho parece mais 'espontâneo'; e o fato de que o diagrama reproduz um objeto abstrato, enquanto um desenho reproduz um objeto concreto (Noth 1994:35).

3 Emblemas

O uso comum, todavia, chama de signos também aqueles desenhos que reproduzem algo, mas de forma estilizada, de modo que não importa tanto reconhecer a coisa representada, quanto um 'outro' conteúdo pelo qual a coisa estilizada está. A cruz, a meia-lua, a foice e o martelo estão pelo cristianismo, islamismo, comunismo.

Significação.

Produzir factos físicos - ou ter a capacidade de produzir classes de factos físicos - que estão em substituição de outros factos ou entidades, físicas ou não, que os humanos não são capazes de produzir no acto da significação.

Alguns afirmam que o termo 'signo' condiz com as entidades linguísticas convencionadas, emitidas ou emissíveis intencionalmente com o fim de comunicar, e organizadas num sistema descritível segundo categorias precisas.

Por exemplo, chamam-se de 'símbolo' todo elemento que representa uma outra coisa.

O termo 'signo' «para as unidades que, como os signos da linguagem, são duplamente articuladas e que devem a sua existência a um acto de significação »

 

Wolff  e o iluminismo alemão

A semiótica do iluminismo alemão começou com a teoria dos signos de         (1679-1754), elaborada num capítulo intitulado De Signo, parte de sua obra Philosophia prima, do 1720. A sua definição e tipologia do signo, entretanto, têm mais ligação com o passado do que com o futuro da semiótica (Noth 1994:51).

 

Johann Heinrich Lambert (1728-1777)

Em 1764, Johann Heinrich Lambert publicou a sua obra Semiótica ou a doutrina da designação das idéias e das coisas, como o segundo volume de seu Novo organon .

Na obra de Johann Heinrich Lambert (1728-1777), autor do primeiro tratado de teoria geral do signo intitulado Semiótica (1746), encontramos também um esclarecimento sobre as fronteiras entre o pré-semiótico e o semiótico: abaixo desse limiar há sensações que não podem ser repetidas voluntariamente; acima, há produção de signos com cognição simbólica, único estágio que permite a reiteração das sensações necessárias para atingir clareza na cognição. Sem a reiteração, as sensações ficam irremediavelmente obscuras e indistintas. Esse é um tema típico da semiótica do iluminismo: o papel dos signos na clarificação das ideias obscuras. Para resolver a questão, Lambert indicou a cognição simbólica como "instrumento indispensável do pensamento". Na sua investigação semiótica, Lambert distinguia quatro tipos de signos:

1) naturais,

2) arbitrários,

3) meras imitações e

4) representações.

"Representações", para ele, são signos que representam por variados graus de similitude ou, como diríamos hoje, "iconicidade".

Nas várias línguas, signos arbitrários e naturais fundem-se com mais uma categoria semiótica, que Lambert denominou "signos necessários". Lambert explorou nada menos do que 19 sistemas sígnicos: de notas musicais, gestos, hieróglifos até signos químicos, astrológicos, heráldicos, sociais e naturais. Os critérios de investigação usados por ele são

1) arbitrariedade,

2) a motivação,

3) a necessidade,

4) a sistematicidade e

5) a autenticidade dos signos.

Sob essas diretrizes, os sistemas sígnicos alcançam graus diferenciados de aproximação à realidade. O grau mais alto coincide com os signos científicos, que não só representam conceitos, mas também indicam relações de tamanha afinidade a ponto de assegurar que "a teoria das coisas e a teoria dos signos são permutáveis". Com base nessa ideia otimista de homologia entre signos científicos e coisas está o ideal perseguido por Leibniz e outros pensadores desde o século precedente: a possibilidade de uma linguagem científica e universal, pela representação isomórfica das coisas do mundo. No desenvolvimento desse ideal, Lambert postulou que os signos científicos deveriam estar fundamentados numa teoria semiótica sem signos arbitrários, pois os signos são mais perfeitos na medida em que contêm sinais de seu próprio sentido. A arbitrariedade deveria, pois, ser banida de uma linguagem científica universal ou os signos arbitrários deveriam ser aproximados aos naturais e necessários (Noth 1994:51-52).

 

Ciência e Arte Gottfried Herder (1744-1803)

Nesse ponto, a época iluminista da semiótica nos leva a uma constatação surpreendente: a iconicidade - a correspondência entre sígno e mundo - era o critério semiótico principal para duas fases de expressão cultural tantas vezes consideradas contrárias, a ciência e a arte. Em ambos os setores os iluministas viram a possibilidade de se atingirem níveis mais altos de perfeição por meio de signos que representem coisas por aproximação icônica (Noth 1994:53-54).

Esse ponto de vista aproxima arte e a ciência como irmãs gémeas. Para concluir a apresentação da semiótica iluminista, não se pode deixar de fazer uma referência ao filósofo alemão Gottfried Herder (1744-1803), que explicitamente enfatizou as afinidades entre poesia e linguagem científica ideal. Numa passagem de 1768, Herder esboçou uma visão do futuro da semiótica que faz pressentir o período romântico e que é, em si mesma, um exemplo da aplicação da «linguagem poética ao discurso científico, sem necessidade de mais comentários:

«Existe um simbolismo comum para toda a humanidade - um grande tesouro no qual o conhecimento que pertence a toda a humanidade está guardado. A maneira autêntica de falar, da qual ainda não tenho conhecimento, é a chave para esse tesouro escondido. Quando a chave for conhecida, vai abrir o tesouro e trazer luzes para dentro dele, mostrando-nos, assim, os seus valores, isto seria a semiótica que, agora, só podemos entender nos registros das nossas enciclopédias filosóficas: o deciframento da alma humana através da linguagem» (Herder, 1768:13).

Bibliografia

. Baumgarten, A. G. (1763). Metaphisica. Carol Herman Hemmerde.

. Baumgarten, A. G. (1993). Estética. Petrópolis: Vozes.

. Vico, G. (2013). La scienza nuova ed altri scritti. Novara: De Agostini.

. Condillac, E. B. de. (1976). Saggio sull’origine delle conoscenze umane. In Opere di Etienne Bonnot de Condillac (pp. 77–336). Torino: UTET.

. Diderot, D. (1963). Lettera sui ciechi ad uso di coloro che vedono. In Opere filosofiche di Denis Diderot (pp. 66–115). Milano: Feltrinelli.

. Gérando, J.-M. de. (1799). Des signes et de l’art de penser considérés dans leurs rapports mutuels. Paris: Goujon, Fuchs, Henrichs.

. Wolff, C. (1726). Oratio de sinarum philosophia practica. Francoforte: John B. Andreae.

. Lambert, J. H. (1977). Nuovo Organo. Bari: Laterza.

. Herder, J. G. (2006). Selected Writings on Aesthetics. (G. Moore, Ed.). Princeton: University Press.

 

Semiotica moderna 

 

 

Gottfried Wilhelm Leibniz

está diretamente relacionado a Locke, tanto por razões históricas e por razões filosóficas (constitui a resposta racionalista às propostas empiristas de Locke). O problema semiótico leibniziano deve ser enquadrado dentro dos limites rigorosos de toda a sua abordagem teórica. De fato, se por um lado encontramos a necessidade racionalista de construção de uma linguagem universal, por outro também encontramos a de uma análise empírica das linguagens históricas. Mas essa aparente ambiguidade é resolvida inteiramente no contexto da nova lógica de Leibniz, fundada isto é, na combinatória. Com Leibniz, de facto, saímos da lógica semântica tradicional que necessariamente teve que incluir problemas de interpretação de signos, para entrar na lógica sintática, independente da gramática e da linguagem articulada, que pode assim ser fundada empiricamente. Em outras palavras: Leibniz pensa em um sistema de signos não só para representar todo o conhecimento, construindo uma espécie de 'alfabeto' do pensamento humano, mas também para gerar novos conhecimentos, a fim de obter uma forma mecânica de verificar a validade. conceitos. O sistema leibniziano de signos toma forma como notação matemática, constituindo assim a primeira lógica entendida como sistema formal e simbólico. No que diz respeito aos problemas semióticos modernos, Leibniz se questiona sobre a definição do signo e o entende como algo que percebemos em um determinado momento, e que então consideramos como conectado a outra coisa, em virtude de uma experiência anterior, nossa ou de outros. Dito isso, é mais fácil mergulhar nas teorias da linguagem de Leibniz, em sua maioria resumidas no terceiro livro dos Novos Ensaios.

O primeiro tema tratado é o tradicional da arbitrariedade do signo: E reconhece-se que não é porque haja alguma conexão natural entre certos sons articulados e certas ideias (pois, neste caso, haveria apenas uma língua entre os homens), embora para uma instituição arbitrária, em virtude da qual uma determinada palavra foi deliberadamente tomada como o sinal de uma certa ideia.1 Mas este princípio não é totalmente aceito: “Eu sei que, nas escolas e em toda parte, é dito que os significados algumas palavras são arbitrárias (ex instituto), e é verdade que não foram de forma alguma determinadas por uma necessidade natural; eles eram, por outro lado, e por razões naturais, em que a escolha entra. E talvez existam línguas artificiais totalmente escolhidas e totalmente arbitrárias, como se acredita o chinês. Mas as línguas, que sabemos ter sido tiradas de línguas conhecidas, são por escolha e, ao mesmo tempo, misturadas com o que é a natureza e o acaso nas línguas que elas pressupõem”.  Leibniz, portanto, se inclina para uma tripartição de signos a dependendo da sua relação de motivação com os seus significados. As ligações de sinal podem ser determinadas

1) por escolha (e, portanto, arbitrariedade),

2) por acaso (e, portanto, arbitrariedade inconsciente, acordo tácito) e

3) pela natureza (motivação).

No entanto, esta tripartição não é absoluta, tem um valor muito relativo, porque o próprio Leibniz, argumenta que na origem das palavras existem sempre experiências sensíveis, que então em certos casos com o uso eles não seriam mais sentidos como tais, e em outros ainda o seriam. Com base nisso, Leibniz tende à fundação de uma ciência universal por meio da articulação de um sistema lógico-semiótico. Os campos em que Leibniz examina o uso dos signos são diversos: o ordenamento jurídico, no qual, desde os primeiros trabalhos, propõe o uso de símbolos especiais para a regularização do direito; matemática, em que a ideia de characteristica universalis se desenvolve; e depois a criptografia, a cartografia, o estudo dos hieróglifos, a linguagem animal, a heráldica, a numismática, a etimologia, a linguística comparada e até os sistemas educacionais. Também de interesse semiótico é a distinção funcional dos sistemas de signos, que para Leibniz podem ter uma função cognitiva (dar coerência aos modos de conhecer) ou comunicativa (permitir a expressão entre os homens). Do ponto de vista cognitivo, é importante sublinhar que, por meio da combinatória, é possível aumentar o conhecimento e, portanto, pode-se dizer que os signos são constitutivos do pensamento. Por fim, por meio dos signos, é possível construir o que Leibniz chama de mundo possível, e que é uma hipótese de realidade virtual, desde que apoiada em uma lógica de coerência (um dos mundos possíveis é também o mundo real, que o filósofo prussiano considera o melhor de todos do ponto de vista ético). Estabelece-se assim uma das regras para se chegar à verdade necessária, que é obviamente de ordem lógica e não ontológica, pois consiste precisamente na coerência das relações de signos concretizadas.

 

Pragmatismo Americano

Bernard Bolzano

A tradição que assim se funda para estabelecer uma ciência semiótica, reconhecida como ciência filosófica, tem sua continuidade no século IX na obra de Bernard Bolzano. Em sua Teoria da ciência  de 1837, o autor desenvolve mais uma teoria original do signo, sob o título Semiótica. No final desse século, em 1890, o filósofo e fenomenólogo Edmund Husserl, publicou uma das suas obras principais sob o título Sobre a lógica dos signos (semiótica).

Há duas pedras angulares do pensamento lógico de Bolzano que descendem de suas concepções filosóficas gerais:

1) A distinção entre proposição, em quanto concebida pela mente de um ser pensante ou expressa linguisticamente, e proposições como entidades abstratas, independentes de uma mente que as concebe e de sua expressão linguística.

2) A suposição da existência de uma certa ordem dedutiva entre proposições verdadeiras entendidas nesse sentido abstrato, mais especificamente de uma hierarquia de todas as proposições verdadeiras baseada na relação fundamento-consequência.

Bolzano significa qualquer afirmação de que algo é ou não é, independentemente de ser verdadeiro ou falso, se alguém o expressou em palavras ou mesmo pensou. Ao contrário das proposições concebidas pela mente ou expressas linguisticamente, que têm uma existência concreta (respectivamente, na mente ou no espaço-tempo), as proposições em si não são dotadas de nenhum tipo de existência. Portanto, seria tão absurdo dizer que uma proposição em si mesma tem uma existência eterna quanto dizer que ela se originou em um momento e terminou em outro. Bolzano declara ter intenção por proposta

Afirmação em si qualquer coisa que

(a) é verdadeiro ou falso, e

(b) não é nada existente.

Uma verdade  em si mesma ou verdade objetiva, é uma proposição em si mesma verdadeira, isto é, qualquer afirmação que afirme que algo é (como é), independentemente de alguém tê-lo expressado em palavras ou mesmo pensado que é.

Ferdinand de Saussure (1857-1913).

Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra em 26 de novembro de 1857. Após ter feito estudos de física e química na Universidade de Genebra, foi para a Alemanha para se dedicar exclusivamente aos estudos linguísticos, na Universidade de Leipzig e por um período também na a Universidade de Berlim. Aos 21 anos escreveu Mémoire sur le système primitíf des voyelles dans les langues indo-européennes em 1878), um livro de linguística histórica que lhe rendeu um muito precoce fama. Mais tarde foi a Paris para seguir as aulas de Michel Bréal e, aos 24 anos, foi-lhe confiado por Bréal o curso de linguística germânica na École des Hautes Études. Saussure permaneceu para ensinar em Paris até 1890. Em 1891, ele foi chamado de volta à Universidade de Genebra, onde permaneceu até sua morte. Aqui, entre 1907 e 1911, realizou três cursos de Linguística Geral, nos quais resumiu as principais linhas de sua teoria linguística. Nos anos de Genebra, Saussure levou uma existência solitária e escreveu muito pouco. Ele morreu em 22 de fevereiro de 1913 em Vufflens-le-Château.

A peculiaridade de Saussure é que nos anos de atividade ele não escreve um texto que organize e apresente sua teoria geral da linguagem. Além disso, até o fim Saussure continua a pensar que suas ideias ainda não assumiram a estrutura definitiva que justifica sua apresentação em livro. Após sua morte, dois de seus ex-alunos dos cursos parisienses, Charles Bally e Albert Sechehaye, se reúnem as notas manuscritas não publicadas de Saussure e vários cadernos de notas de alunos que haviam seguido os três cursos de Genebra de 1907, 1908-1909 e 1910-1911. Com base nesses materiais, e com a ajuda de outro aluno assíduo de Saussure, Albert Riedlinger, Bally e Sechehaye construíram o Cours de linguistique générale [a partir de agora CLG] em dois anos e publicaram-no em 1916., confessando no prefácio toda a sua apreensão em apresentar à comunidade linguística esta ambiciosa tentativa de reconstrução orgânica de um pensamento que só pode ser obtido através de notas, notas e fragmentos. Com algumas pequenas alterações, o texto foi republicado em uma segunda edição em 1922.

Entre os anos 30 e 50, o CLG se espalhou na comunidade científica internacional, mas ao mesmo tempo, dúvidas cada vez mais detalhadas surgiram sobre a fidelidade do CLG à doutrina de Saussure. Na primeira metade da década de 1950, o estudioso Robert Godei assumiu e reanalisou os materiais com os quais o CLG foi construído, materiais que estavam depositados na Biblioteca da Universidade de Genebra: os cadernos dos alunos dos três cursos de linguística geral, alguns notas de Saussure que permaneceram não publicadas e outros documentos. Desta obra Godei extrai um livro de grande significado que revela como os primeiros editores usaram essas fontes apenas parcialmente e nem sempre de forma adequada. Mais tarde, com base nesta obra fundamental de Godei, elas foram reconstruídas individualmente - de uma forma muito mais analítica - os três cursos de Saussure, 3 e o estudioso Rudolf Engler completaram um trabalho monumental no qual ele correlacionou cada uma das sentenças individuais do CLG aos materiais manuscritos de Saussure e dos alunos.

O Curso de Lingüística Geral influenciou a história da linguística moderna, mas não se deve esquecer - na verdade - que nasceu como uma montagem póstuma de materiais diversos e, portanto, não reproduz a ordem geral da doutrina de Saussure, que - como nós temos disse - foi o assunto de investigações filológicas e críticas adicionais e muito precisas. Aqui, seguiremos amplamente a ordem do CLG, relatando algumas observações críticas e filológicas de Tullio De Mauro e outros especialistas.

O objecto da linguística

Definição de linguagem

Qual é o objeto integral e concreto da linguística? A questão é especialmente difícil; mais tarde veremos porquê; neste ponto, gostaria apenas de chamar a atenção para a dificuldade.

 dependendo se a palavra é considerada como um som, como a expressão de uma ideia, como o equivalente do latim nudum, etc. o fenômeno linguístico sempre tem dois lados relacionados, cada um derivando seus valores do outro. Por exemplo:

1 As sílabas articuladas são impressões acústicas percebidas pelo ouvido, mas os sons não existiriam sem os órgãos vocais;  não podemos reduzir a linguagem ao som ou separar o som da articulação oral; reciprocamente, não podemos definir os movimentos dos órgãos vocais sem levar em conta a impressão acústica.

2 Mas suponha que o som fosse uma coisa simples: ele constituiria fala?

Semiótica moderna: O sistema e estruturas

O nascimento da semiótica como disciplina contemporânea está ligado às obras de Charles Sanders Peirce (1839-1914) e Ferdinand de Saussure (1857-1913).

Porque 'o trabalho de um linguista deve ser tomado como o fundamento teórico da semiótica' (Fabbri, Marrone, 2000 , p. 58). Os motivos indicados são, em primeiro lugar, os três:

a) porque Saussure preferia a análise da linguagem ao estudo da linguagem ·,

b) porque entendeu o signo, não mais como referência referencial (externa à linguagem) entre palavra e coisa, mas como relação de significação (interna a ela) entre uma imagem acústica e um conceito;

c) porque descobriu que o valor do signo não reside tanto nesta relação de significação entre seus dois elementos constituintes, mas nas relações que mantém com outros signos dentro de um sistema.

Devemos a introdução do termo 'sistema' ao fundador da linguística Ferdinand de Saussure no contexto da definição de uma nova linguística que marca a transição da linguística entendida como ciência histórico-comparativa para uma orientação sincrônica. Saussure define o conceito de linguagem como um sistema de signos, um todo coerente e inter-relacionado. As relações são de tipo diferencial e de oposição: “Cada termo de um paradigma é, portanto, definido negativamente como tudo o que o não é, contrapondo-se ao conjunto de outros termos, enquanto o suporte de semelhanças, aquilo que reúne todos os termos de um paradigma, é um traço diferencial pelo qual o paradigma como um todo se opõe a outro paradigma ”(Greimas, Courtés, 1986, trad., p. 333).

Saussure define o sistema linguístico em seu General Linguistics Course (1916) como uma série de diferenças de sons combinadas com uma série de diferenças de ideias. Fabbri e Marrone lembram que a comparação com a economia sob este ponto de vista é particularmente interessante, porque se posso trocar moedas por bens ou serviços é porque têm igual valor: “da mesma forma se posso trocar um som (significante ) Com uma 'ideia (sentido) é porque tanto esse som como essa ideia têm valor próprio a partir dos sistemas de sons e ideias dentro dos quais se configuram, ou seja, tornam-se reconhecíveis e articulados '(Fabbri, Marrone , 2000, p. 58).

Nesse quadro teórico em que a linguagem é definida como um sistema de signos, o signo é constituído por um sentido e um significante que constituem os dois níveis da linguagem, cuja união no ato da linguagem produz a significação.

Embora possamos recordar várias definições de signo já da antiguidade, é com Saussure que a definição adquire, pela primeira vez, um uso no contexto teórico contemporâneo. A partir da investigação da natureza do signo e da linguagem como sistema de signos, desenvolve-se uma teoria dos sistemas e processos de significação, conceito-chave no centro da investigação semiótica. No Dicionário editado por Greimas e Courtés atribuímos a este termo os diferentes valores do 'fazer' (significação como processo) e do estado (o que é significado) em uma equivalência final de 'produção de sentido' ou 'produzido significado 'dependendo se uma concepção dinâmica ou estática da teoria básica é favorecida. A significação é também o 'sentido articulado', que é o sentido que vem depois da produção semiótica. Para uma definição final Greimas e Courtés referem-se finalmente à 'diferença' que define, segundo Ferdinand de Saussure, a própria natureza da linguagem. A significação, portanto, é entendida como concretização de relações e se insere como um 'sentido articulado' na dicotomia sentido / significação.

No plano empírico, a significação só pode ser apreendida no momento de sua manipulação, no momento em que, questionando-se sobre ela em uma dada linguagem e texto, o enunciador é levado a transpor, traduzir de um texto a outro, de um nível de idioma para outro, isto é, de um idioma para outro idioma. Da mesma forma, Greimas lembra como esta paráfrase

Charles Sanders Peirce (1839-1914)

Dedicou a sua vida inteira aos estudos semióticos, nunca usou o conceito de semiologia e não se refere à semiótica com o termo moderno inglês de semiotics. Com respeito à tradição da semeiotiké de John Locke, Peirce prefere os termos no singular, semioticsemeiotic ou até semeotic. No plural, de vez em quando, Peirce usa o conceito de semeiotics, mas jamais a forma latinizada de semiotics. O semioticista americano Charles Morris (1901-1979) preferia a designação teoria dos signos, mas na sua obra encontra-se também a forma singular, semiotic.

A filosofia da linguagem e o estudo de sinais

No quadro geral da semiótica ou teoria dos signos, e em particular o pragmatismo americano ou o utilitarismo receberam a contribuição de Charles Sanders Peirce (1839-1914). Peirce (1988) def. classifica sinais como uma representação que indica um objecto atribuída convencionalmente a um símbolo. O signo é algo que substitui um objecto e que permanece ligado a ele numa relação de causa e efeito. Um sinal é um signo que usa-se quando há em jogo uma relação sensorial. A única forma de comunicar uma ideia é através de um sinal. Quando não há uma relação dinâmica entre objecto e sinal representado o sinal indica somente que as ideias ou pensamentos implicam um objeto para a interpretação, um intérprete do objeto e a interpretação propriamente dita. Da mesma forma como os pensamentos apresentam-se triadicamente, todos os signos podem ser divididos em três espécies principais: ícones, índices e símbolos.

Para Peirce, existem três diferentes espécies de coisas ou fenómenos, constituindo três categorias que designa pelas expressões "primeiridade", "segundidade" e "terceiridade".

Essa fenomenologia, que reduz tudo às três categorias, ligou-se, no pensamento de Peirce, a uma visão evolucionista do cosmo. Na ordem cosmológica,

Semiótica, é uma filosofia científica da linguagem, cujo objetivo é a análise da ação e da actividade dos signos

.
a) Princípios e conceitos essenciais que fundamentam a Semiótica,


b) conceito de signo e de semiose, e as relações entre os elementos que compõem signo; princípios que dão status de ciência à semiótica e as características de seu objeto de análise;

 
c) teorias que descrevem as relações entre os correlatos do signo como responsáveis pelo crescimento e evolução dos processos semióticos.

A TEORIA DO SIGNO, SEMIOSE E SIGNIFICAÇÃO
Em fins do século XVII, a palavra grega semeiotiké foi introduzida na filosofia por John Locke (1632-1704) filósofo empirista inglês, como a designação para a doutrina dos signos em geral; doutrina postulada em seu Essay on Human Understanding, datado de 1690. No início do século XX, o filósofo-lógico-matemático Charles Sanders Peirce (1839-1914) retoma este termo com seu sentido original a partir da Lógica concebida como uma filosofia científica da linguagem, e dedicou toda a sua vida a fundamentar as teorias deste conceito, ou seja, a elaboração da Semiótica, a ciência dos signos.


Definição de signo: composto dos três elementos sígnicos:


a)o significante,

 
b)o objecto e o


c) interpretante.

Um signo, ou significante, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei fundamento do significante.
A semiose é usualmente definida como um processo de actividade característico da capacidade inata humana de produção e entendimento de signos das mais diversas naturezas. Os signos dependerem dum sistema fisiológico que revela a alta complexidade de estruturação simbólica com a capacidade humana de abstração. O homem descobre uma maneira de adaptação ao meio, transformando toda a vida humana. Esta capacidade de abstração, responsável pela formalização de todo um universo simbólico, representa uma capacidade exclusiva do homem. A actividade sígnica foi chamada por Charles Sanders Peirce de semiose. Portanto enquanto a atenção que De Saussure punha na sua teoria dos signos era a comunicabilidade, por Pierce a semiose se organiza num método onde a atenção é posta no significar por alguém. 
Peirce teorizou um conceito de signo que priorizasse o processo dinâmico e evolutivo do significado. Evidencia-se, a faneroskopia, fenomenologia, cujo objetivo era a observação do faneron, dos fenômenos que são apreendidos na consciência. A semiótica a de Pierce estabelece uma relação trinaria que envolve a cooperação entre:

1) signo,

2) objecto  e

3) interpretante.

A semiose é o processo, que caracteriza-se, na relação de interdependência entre os três elementos da cadeia semiótica: o fundamento do signo (significante), o objecto e o interpretante. A ação sígnica é uma actividade onde um signo transforma-se em outro signo em um processo de relações lógicas. O interpretante, terceiro elemento da cadeia semiótica, realiza o processo de interpretação.
O que deve ser observado é que a relação entre o signo, ou melhor, o fundamento do signo e o objecto que representa, emerge de alguma qualidade desse próprio objecto representado. O fundamento do signo vincula-se ao objecto representado. O interpretante, como terceiro elemento da tríade semiótica, completa o processo lógico de geração do significado com as influências sociais e psicológicas da mente interpretadora.
Charles Sanders Peirce, possibilita o uso de uma complexa fundamentação teórica na análise e investigação dos sistemas de significação. No pensamento de Peirce tudo o que é apreendido pela mente, é apreendido com o carácter do signo, sendo, nesse sentido, o próprio pensamento constituído numa corrente de signos que permite o entendimento dos processos de significação, representação e interpretação, na linguagem.

A classificação tipológica

É a parte mais complexa e pouco compreensível da teoria de Pierce. Um ícone é um signo que possui alguma semelhança com o seu objecto. Os signos mais fáceis de entender nesta relação são os desenhos e as pinturas que estabelecem uma certa relação com a realidade: arvore, mesa, pessoa. Porem não é necessário que o objecto exista na realidade, basta simplesmente estabelecer uma regra para sua existência por exemplo: o Pai Natal, a banda desenhada, a ponteira cor de rosa. Ainda falando do ícone o relacionamento com a realidade pode ser:

1) ilustrativo (quando existe uma partilha maior com a realidade),

2) diagramatico

3) metafórico (onde se partilha uma qualidade da realidade). Portanto ha três tipos específicos de relacionamento com a realidade:

a) ícone, 

b) índice e

c) símbolo

O filósofo Ernst Cassirer (1977)

Define o homem como um animal simbólico. A semiose enquanto um processo, se inicia com a transformação do mundo físico, ou seja, da realidade apreendida. O fenómeno que é apreendido, percebido, transforma-se num mundo mental, psicológico, transportado para uma realidade reflectida; assim fica caracterizada sua característica eminentemente simbólica.
Mas o vaticínio lançado funcionou também como provocação científica e a partir daí toda uma escola semiológica, com identidades, diferenças, harmonias e disputas foi se consolidando na Europa e disseminando-se pelo mundo pela ação de intelectuais, estudiosos e grandes referências internacionais como o linguista Roman Jakobson, o antropólogo Claude Levi-Strauss, a teórica da literatura Julia Kristeva, o semanticista e semiólogo Algirdas Julien Greimas, o ensaísta Roland Barthes, entre muitos outros que fizeram ou seguiram escolas de semiologia, lá, aqui, onde quer que se falasse de sentido, significação, signos e significância.

 Pragmatismo

A outra vertente da moderna semiologia, designada mais especificamente pelo termo semiótica, tem, como dissemos, suas origens mais contemporâneas, na vasta obra do lógico e filósofo americano Charles Sanders Peirce.

 Preocupado em estabelecer uma relação necessária entre ciência e filosofia, formula o método pragmático, buscando, assim, propor um método científico para a filosofia. Quer dizer, um método capaz de conferir significado às ideias filosóficas em termos experimentais. As opiniões e o estabelecimento de sua verdade constitui o objetivo fundamental do método científico. Ao pragmatismo cabe responder pela determinação experimental do significado das idéias ou conceitos intelectuais.

 O pragmatismo, proposto, assim, como um método científico para determinar o significado de conceitos intelectuais, é também a negação do intuicionismo cartesiano e da idéia de que o pensamento possa interpretar-se a si mesmo. É só em termos de signo que ele se efetua e, desse modo, é visto como complexamente estruturado numa relação triádica: significa alguma coisa para alguém de alguma maneira.

Segundo Peirce, “um signo, ou representamen, é algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido.”

Ao signo assim criado Peirce denomina interpretante do primeiro signo. 

Sendo relacional o pensamento, a tarefa do pragmatismo é estabelecer a natureza dessa relação, isto é, determinar o significado dos signos.

Daí a afirmação de Peirce de que “a lógica, em sentido geral, é (...) apenas outra designação da semiótica, a quase necessária ou formal doutrina dos signos.”

A partir do caráter triádico do signo, Peirce divide a semiótica em três ramos: o da gramática especulativa, segundo a denominação de Duns Scotus, na idade média, ou da gramática pura, como ele próprio a chama, que tem como objetivo “determinar o que deve ser verdadeiro a propósito do representamen utilizado por toda inteligência científica para que possa incorporar um “significado”; o da lógica, propriamente dita, isto é, da “ciência formal das condições de verdade das representações”; o da retórica pura, cujo objetivo é “determinar as leis em obediência das quais, em toda inteligência científica, um signo dá surgimento a outro e, especialmente, um pensamento provoca outro.”

Nesse sentido, a semiótica é sinónima não só da lógica, mas também da teoria lingüística e a tripartição acima apontada equivale aos níveis de análise, consagrados metodologicamente, da sintaxe, da semântica e da pragmática.

Peirce propõe uma série de classificações para o signo, sendo a mais conhecida a que o considera em sua relação com o objeto e o caracteriza como ícone, índice ou como símbolo.

Em Peirce, tudo é múltiplo de 3, assim como para Saussure e para os estruturalistas que vieram depois dele os sistemas de signos são binários e se organizam em posições dicotômicas.

Na linha da semiótica de inspiração lógica é preciso lembrar a forte influência exercida por Frege, em particular sua distinção entre sentido e significado, os trabalhos de Russel e de Carnap e a sistematização que a ela deu outro lógico e filósofo americano nos anos 1930, Charles Morris.

Seguindo essa mesma orientação, mas incorporando o conteúdo dos estudos etológicos desenvolvidos nos EUA e na Europa, a semiótica voltou-se também para a vida animal – a zoosemiótica – e teve em Thomas Sebeok um ativo e profícuo militante intelectual.

Outros grandes nomes marcaram o desenvolvimento da semiótica e da semiologia, entre eles Ernst Cassirer, Karl Bühler e Eric Buyssens.

Língua, literatura, moda, culinária, comportamento animal, música, pintura, jogos, rituais, regras sociais, parentesco, tudo, enfim, que, por algum modo, passou a ser percebido como sendo em si significante e sendo o que não é, isto é, sendo, simultaneamente outra coisa que si mesmo, tendo, pois, um significado, passou também à categoria de objeto semiológico ou semiótico.

A confirmação do mundo desgarrado em símbolos, eles próprios do mundo desgarrados, vagando em imagens de omnipotente simultaneidade, confirmou também à semiologia um papel crucial no desenvolvimento crítico dos nossos simulacros de realidade, vale dizer, de suas representações e das múltiplas formas de apresentação dessas representações.

O presságio de Saussure concretizou-se e se a semiologia não se constituiu em ciência, no sentido estrito do termo, produziu, contudo, um conjunto sistemático de estudos sobre o homem, suas ações e seus significados que não é possível não levar em conta quando se pretende, senão responder, ao menos formular com alguma consistência as perguntas, não metafísicas, mas pragmáticas, sobre os sentidos da vida, suas direções e as constantes sistemáticas de suas variações históricas, culturais e mesmo biológicas.

Charles Sanders Peirce e Umberto Eco influenciaram a semiótica do século XX, Sua visão do signo e do simbólico parte de seu papel no processo de conhecimento, que nunca é intuitivo, mas sempre mediado. O processo é do tipo inferencial, e entre os tipos tradicionais de inferência (indutiva e dedutiva) Peirce acrescenta a abdutiva, que é a única que aumenta o conhecimento de forma rigorosa por meio de hipóteses verificáveis. A abdução é a primeira etapa do processo indutivo, aquele em que uma hipótese é escolhida. O processo de conhecimento é sempre interpretativo e hipotético. o sinal não é simplesmente algo que representa outra coisa; é algo que significa ALGUEM (INTERPRETADOR) em vez de outra coisa SOB ALGUM RESPEITO OU HABILIDADE. Desta forma, uma visão pragmática do processo de signos é definida. Se a semiótica saussuriana era diádica (langue-parole, significante-significante, relações sintagmáticas e associativas no sistema), a de Peirce é triádica:

objeto –

signo –

interpretando.

Peirce distingue diferentes tipos de signos recorrendo ao conceito de iconicidade.Para Peirce, os signos se distinguem em índices, ícones e símbolos baseados no grau de iconicidade que os caracterizam. Nos índices, há uma conexão real entre signo e objeto; nos ícones existe uma relação de semelhança; os símbolos manifestam uma conexão convencional ou formal - toda a ideia de Peirce começa com a rejeição do intuicionismo cartesiano; toda a ideia de Peirce começa com a rejeição do intuicionismo cartesiano. Para Peirce, a única forma de pensamento possível é aquela que se funda por meio de signos: não há pensamento senão nos signos; uma vez que o conhecimento é, portanto, fundado no conceito de signo, é o conhecimento que é sempre mediado. Isso significa que não pode haver uma relação direta com a realidade, mas que a conhecemos por meio da entidade que a medeia, e essas entidades são linguagens e signos em geral; Se o homem não pode fazer uso de intuições imediatas que permitem o conhecimento da realidade, então ele é forçado a fazer raciocínios, inferências.Peirce modela o pensamento humano, o raciocínio e parte da explicação de inferências. É uma inferência? De uma forma geral, é um raciocínio. é um processo que se baseia em três componentes: um caso, uma regra, um resultado. O acaso é uma ocorrência à qual se aplica uma regra geral, o resultado é a consequência previsível.

esses três modos diferentes de raciocínio / interferência são:

1- Dedução

2- Indução

3- Abdução

1. DEDUÇÃO,

o que é? Começa com uma regra, aplica-se a um caso para chegar a um resultado Exemplo: Regra: Todos os feijões deste saco são brancos Caixa: Estes feijões vêm deste saco Resultado: Estes feijões são brancos (definitivamente) Segundo Peirce, a dedução é um tipo de conhecimento seguro, não envolve nenhum risco, mas é um tipo de dinâmica que não aumenta muito o nosso conhecimento geral.

2. INDUÇÃO

A indução nos permite generalizar e descobrir novas regras. No entanto, nunca é um raciocínio certo e, portanto, envolve um risco. Somente por meio de uma verificação experimental é possível confirmar isso. Este tipo de conhecimento começa com um caso, aplica-se a um caso e abstrai a regra Exemplo: Caso: Estes grãos vêm deste saco Resultado: Estes grãos são brancos Regra: Todos os grãos neste saco são brancos (talvez) Não é uma certeza , há um talvez, tento extrair uma regra, mas não tenho certeza, sempre preciso de verificação experimental para comparar a indução

3. A ABDUÇÃO

 parte de um resultado e de uma regra e reconstitui o caso que determinou o resultado, procedimento que está na base de qualquer tipo de investigação. O elemento-chave da abdução é a regra escolhida; mas mesmo que a regra explique o resultado, essa regra não é necessariamente a única explicação possível. Aqui também devemos recorrer à verificação experimental. Exemplo: RESULTADO: Estes feijões são brancos REGRA: todos os feijões desta bolsa são brancos CASO: Estes feijões vêm desta bolsa

PEIRCE E A SEMIÓTICA

Para Peirce a semiótica é o estudo da semiose, o que é é semiose? É o processo de criação e formação de sentido, ou seja, como funciona a dinâmica em que se move o sentido, ou seja, como funciona a dinâmica em que se move o sentido, em que as coisas significam. Um processo que envolve 3 elementos:

1) um signo,

2) um objeto e

3) um interpretante.

O ponto de partida da semiose (isto é, do processo de criação, da formação do significado) é a realidade externa: o Objeto Dinâmico. Da realidade externa, diz Peirce, mas o fulcro da semiose em si é o signo, sem signo não pode haver semiose e não pode haver conhecimento da realidade externa. Para Peirce, o signo é, no entanto, uma entidade bilateral:

O signo é composto por um Rapresentamen (significante) e um plano do conteúdo, ou seja, o objeto imediato. Peirce distingue entre

A semiose ilimitada de Peirce é esta: isto é, eu conheço a realidade por meio de um signo, mas para compreender o significado, minha mente relembra outros signos que me explicam essa relação entre expressão e conteúdo. Os signos são um entrelaçamento de relações: entre representação e objeto imediato, entre um signo e os intérpretes. E nisso vemos outro elemento de conexão com Saussure e as relações associativas paradigmáticas no sistema. Visto que o objeto imediato é o conjunto de todos os interpretantes de um certo signo, segue-se que apenas o conhecimento parcial é possível, no sentido de que podemos nos aproximar do significado, mas sem nunca apreender sua essência geral. É por isso que a semiose é, por definição, ilimitada. A classificação dos signos é baseada na consideração do signo em relação ao seu objeto (à realidade externa).

Todos os sinais podem ser atribuídos a 3 tipos:

1. Icon

2. O índice

3. O símbolo

1. O ícone

O ícone está relacionado ao seu objeto em virtude de um caractere de semelhança. A relação icônica ocorre quando há um motivo de semelhança entre o signo e o objeto. Um primeiro relacionamento / relacionamento que pode ser estabelecido é o de ícone. O sinal se parece com algo. foca no que é o relacionamento, tipos de relacionamento de qualidade. Em primeiro lugar: semelhança, signo e objeto dinâmico. Outros exemplos de sinais icônicos: o sinal de trânsito triangular significa pare ou dê passagem não é uma relação icônica. Triângulo de montanha, sim Desenho de uma casa sim. Os sons onomatopaicos podem ser vistos como signos icônicos porque fundamentam sua relação em uma relação de semelhança, como vimos em Saussure

2. O índice

O índice é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude do fato de ser realmente determinado por esse objeto. Nesse caso, a motivação é pela CONTIGUIDADE FÍSICA. O índice é, portanto, um signo fisicamente ou causalmente conectado ao seu objeto. Dois exemplos de índice: a impressão digital ou o galo que indica a direção do vento. Não há semelhança quanto ao ícone, há uma contiguidade física. O exemplo mais fácil é a fumaça do fogo.

3. O símbolo

O símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei. O símbolo é um signo desmotivado, portanto arbitrário, isto é, arbitrário a uma lei que os homens se dão; a uma relação construída através de um elemento de arbitrariedade. Exemplos de símbolos: -Linguagens - O código da estrada

Charles Morris

O modelo de Pierce pouco claro e as vezes contraditório nos pormenores, ficou desconhecido durante muitos anos e só começou a ser estudado no fim dos anos 30 do século XIX. Foi quando Morris integrando-se das teorias já em esquecimento de Pierce lançou uma serie de livros desenvolvendo a teoria entre 1938-1945. È exactamente nesta altura que em America surge uma ciência chamada semiótica. O que aconteceu com Morris segundo as suas próprias palavras, ele começou a elaborar uma teoria dos signos desconhecendo aquela do seu antecessor Pierce. Até certo ponto isto pode ter sido como verosímil por quanto os fundamentos teórico-intelectuais de Morris fossem totalmente distintos (Morris 1985:14). Pierce desejava uma ciência absoluta rigorosa e quase matemática, sem elementos psicológicos embora não seja possível evitar o facto de estarmos co campo de processos mentais.

Ponto de partida

O ponto de partida de Morris é diferente ele é relacionado à linguistica americana cujo centro é a Universidade de Yale nos anos 30-40. Pois o ponto de vista de arranque para Morris é:

1 - Observacional

2 - Empirista

Ao contrario de Pierce que ambicionava uma espécie de filosofia fundamental onde derivar a teoria do conhecimento fundamental, Morris é influenciado pela filosofia europeia e concretamente pelo positivismo, elabora um instrumento cientifico fundamental chamado semiótica. Todas as ciências baseiam-se em signos, a semiótica para Morris é uma ciência que tem fundamento lógico e conceptual organizada e caracterizada pelo signo. A diferença básica com Pierce consiste no facto deste ultimo define o homem como um animal que usa signos e símbolos (Morris 1985:23).

A semiótica de Morris tornou-se famosa através do conceito de semiose articulado em quatro factores,

1 - o veículo do signo,

2 - o designatum,

3 - o intérpretante e

4 - o intérprete;

Nesta senda a semiótica se sub-divide em três ramos,

a) sintaxe,

b) semântica e

c) pragmática;

e é entendida em duas maneiras: como uma disciplina autônoma que estuda os signos ou como um instrumento das ciências.

Semiose

O processo no qual algo funciona como signo pode ser denominado semióse (Morris 1985:27). Commumente, em uma tradição que remonta aos gregos, esse processo foi considerado como envolvendo três (ou quatro) factores:

1 - o que actua como um signo,

2 - aquilo ao qual o signo alude e

3 - o efeito que produz em um determinado intérprete em virtude do qual a coisa em questão é um sinal para ele. Esses três componentes da semiose podem ser chamados, respectivamente,

1 - de veículo do signo,

2 - designatum e

3 - interpretante;

4 - O intérprete pode ser considerado um quarto fator.

Esses termos explicitam os factores envolvidos na afirmação comum de que um signo alude a algo para alguém.  Portanto, na semiose algo leva em consideração outro algo mediatamente, ou seja, por meio de um terceiro algo. A semiose é, portanto, uma consideração mediada. Os mediadores são veículos de sinalização; As considerações são interpretativas; Os agentes do processo são os intérpretes; O que é levado em consideração são os designata. Vários comentários devem ser feitos sobre esta formulação. Deve ficar claro que os termos 'signo', 'designatum', 'interpretante' e 'intérprete' estão mutuamente implicados, uma vez que são apenas formas de se referir a aspectos do processo de semiose. Os objetos não precisam ser referenciados por sinais, mas não há designata a menos que essa referência ocorra; Algo é um signo se, e somente se, algum intérprete o considerar um signo de algo; A consideração de algo é um interpretante apenas na medida em que é evocado por algo que funciona como um signo; Um objeto é um intérprete apenas se leva algo em consideração. As propriedades envolvidas em ser um signo, um designatum, um intérprete ou um intérpretante são propriedades relacionais que as coisas assumem quando participam do processo funcional de semiose. A semiótica, portanto, não se preocupa com o estudo de um tipo particular de objeto, mas com o estudo de objetos comuns na medida em que (e apenas na medida em que) participam da semiose.

Os signos diferenciam-se pelo comportamento que estipulam no destinatário. Esta classificação deve-se sobretudo a Charles Morris e  sua acepção behaviorista da semiótica. Morris faz a distinção entre signos identificadores,

1) designadores,

2) apreciadores,

3) prescritores e formadores.

Os signos identificadores são similares aos índices de Peirce, os designadores são os signos que significam as características de uma situação espáço-temporal. Os apreciadores significam algo dotado de um estado preferencial em relação ao comportamento a ter. Os prescritores comandam um comportamento e, finalmente, os formadores são os signos que, aparentemente privados de significado, servem para conectores aos signos complexos. Tradicionalmente são conhecidos por sincategoremáticos.

Wittgenstein

No signo agostiniano as categorias de fusão verbal e não verbal. resolve verbum in signum, a palavra é um signo. Cada palavra é um sinal e, portanto, cada palavra tem um significado para decifrar quais instruções são necessárias. Mas como você aprende essas instruções? Eles são aprendidos no uso, na imitação dos modelos comportamentais dos outros. Primeiro elemento da modernidade: uma visão atenta à dimensão pragmática e funcional da linguagem. Para Wittgenstein, essa concepção agostiniana ainda é uma concepção primitiva, pois para ele essa concepção parte da ideia de que a linguagem é uma nomenclatura, um conjunto de signos que se ligam por convenção a outra coisa.

Leslie White (1900-1975)

O livro de Leslie A. White, antropólogo americano nascido em janeiro de 1900 e falecido em março de 1975, é dividido em oito partes . O primeiro dos sub-capítulos intitula-se

«A base da cultura: o símbolo”, proposição que deve permear todo o texto (White 1949:22). Dela deriva o termo simbolizar, que o autor define como “a capacidade de originar, definir e atribuir significados, de forma livre e arbitrária a coisas e a acontecimentos no mundo externo, bem como de compreender significados»

O homem torna-se humano, e se diferencia dos demais animais, pela capacidade de simbolizar. Essa capacidade humana, é pré requisito para a existência da cultura. Devemos portanto entender o símbolo como unidade básica do comportamento humano. A civilização existe somente em razão do comportamento simbólico característico do homem.

O homem é fruto de uma evolução e de uma revolução: sua transformação em animal simbolizador lhe facultou o domínio sobre o mundo tendo como instrumento o discurso articulado. E a capacidade de conceituar, verbalizar, classificar que abre a possibilidade de uma variação quase infinita de organização e de desenvolvimento. Enquanto a organização animal é pouco elástica, o homem se distingue pela capacidade de organização de um sistema cultural que compreende aspectos ideológicos, sociológicos e tecnológicos. Diante dos dados anatómicos percebeu-se que a caixa craniana do homem era maior, por esta razão o seu cérebro também o era. Desta forma o pensamento humano o raciocínio a compreensão etc. estavam vinculados a um maior poder de associação de ideias derivado das faculdades mentais humanas.

No entanto Lesley constatou que a diferença entre os homens e os animais era qualitativa e não quantitativa. Isto quer dizer que o homem usa do símbolo para existir mas que estes símbolos são criados e inventados e idealizados pelos próprios humanos e não ha outros seres intermediários ao homem e animal que tenha esta faculdade.

O símbolo portanto é uma coisa cujo valor é atribuído pelos seus usuários, este valor nunca é determinado pelas características físicas do objecto em questão. Sendo sempre algo arbitrário que se torna convencional. Leslie também estabelece a distinção entre símbolo e signo.

Símbolo é criação que da valor a algo

Signo é a indicação que algo criado possui um valor.

Trata-se de uma forma física cuja função é aquela de de indicar que algo, uma outra coisa possui qualidade.  O sentido de um signo pode ser inseparável da sua forma física. Como se fosse um termómetro com uma coluna de mercúrio que indica a quantidade de valor que uma coisa possui. São notáveis as experiências que Leslie acompanhou criando um bebe de um primata. Ficou claro que por quanto semelhante seja à educação dos humano a uma certa altura a criança desenvolve a fala, a reflexão, a superação e construção de exercícios que supera o animal nem consegue sequer problematizar.

Tulio De Mauro

Tulio De Mauro foi um dos principais intelectuais da segunda metade do século XX e teve uma gama de interesses muito ampla, como a de Umberto Eco. Mas comparado a Eco, sua atenção às questões linguísticas era maior, De Mauro nasceu como um filólogo, como um linguista geral e se tornou um teórico da semiologia, da semiologia. Ele delineia os elementos em um modelo teórico comparando 3 personalidades do ' 900:

O modelo de De Mauro:

Por que tomamos o modelo semiótico de De Mauro como ponto de referência? Porque nos parece que nos conectamos continuamente tanto com o ponto de inflexão de Saussure quanto com o ponto de inflexão de Peirce. O que é que atinge De Mauro? Que objetivo ele quer alcançar? Ele quer construir uma teoria geral da linguagem, de cada linguagem. Aquela defendida por Saussure com sua semiologia, aquela fundada por Peirce com sua semiótica, quais devem ser os traços fortes dessa teoria geral?

1. A recusa do referencialismo, a recusa da ideia, que teve o antecedente em Aristóteles, de que a linguagem nasceu como um conjunto de signos que se unem a coisas pré-existentes, coisas que podem ser chamadas de 'referentes' ou 'denotadas', 'o denotado por '.

2. Esse modelo teórico geral da linguagem então tem que se chocar com uma dessas linguagens, que em todo caso tem uma posição muito particular, e é uma linguagem feita de palavras. E então a necessidade de Saussure e Peirce de classificar as várias línguas - em Saussure referindo-se ao Princípio do grau de arbitrariedade do signo ou da linearidade ou não do significante - bem, essa necessidade de classificação em De Mauro é a partir do reconhecimento do grau de imprecisão e indeterminação dos significados dos signos. De Mauro vê que na linguagem verbal a solicitação da máxima vagueza e indeterminação dos significados se dá ao mesmo tempo, em paralelo a uma forte exigência de regularidade, precisão. Ele então tenta uma classificação das línguas não apenas assumindo a arbitrariedade e a linearidade como um critério, mas também o grau de lógica da linguagem e o grau de imprecisão, de indeterminação da linguagem (em particular no que diz respeito ao plano de significados).

3 Incalculabilidade de suas modificações. Algumas linguagens podem ser modificadas de acordo com seu projeto, é possível calcular / prever as formas de suas modificações, por exemplo em linguagens formais, linguagens convencionais. Em outras línguas, isso não é possível. E, sobretudo, não é possível na linguagem que aparece central no universo da semiótica, a linguagem feita de palavras, a linguagem histórico-natural. Tudo pode ser dito sobre um estado de linguagem, pouco ou nada pode ser dito sobre como esse estado de linguagem mudará em cinco minutos ou cinquenta anos. Aqui, De Mauro entende por semântica uma ciência geral do significado, uma ciência geral da semiose.Estrutura da Semântica: Podemos vê-la organizada com base em quatro grandes núcleos de reflexão: Definir o objeto da semântica. Nesse primeiro núcleo de reflexão, ele não se preocupa em dizer o que significa semântica e quais são seus significados, mas na verdade, muito rapidamente, ele examina as grandes posições que aconteceram sobre essas questões nos anos 1900 e é uma reconstituição do que é o sucesso por Saussure e Peirce.

De Mauro propõe um modelo da teoria da semiose, isto é, da teoria da atividade de gestão dos signos. Teoria geral, relativa a todos os tipos de sinais e língua A classificação das línguas A linguagem verbal feita de palavras é proposta em uma condição muito particular e De Mauro vai ver como funciona a linguagem feita de palavras quando realmente nos comunicamos. ' Saussure e Peirce esta ciência percorreu dois caminhos distintos: - um caminho histórico-linguístico - um caminho lógico-matemático De Mauro reconhece que os lógicos, aqueles que trabalham com álgebras, tiveram um peso considerável na tentativa de compreender como funciona o sentido. Porque?

1. suas linguagens pressupõem uma certa relação com o mundo, com o referente, o denotado;

 2. eles têm um poder infinito dentro de certos limites;

3. têm uma capacidade de aplicação que se tornou vital para o nosso quotidiano.

O percurso histórico-linguístico percorreu dois caminhos: Um mais de tipo filológico-linguístico-glotológico, centrou-se no estudo das mudanças ao longo do tempo da linguística sinais e de seus significados Outro enfocou o estudo dos fenómenos gerais da linguagem verbal, aqueles que se aplicam a todas as línguas não apenas para o italiano em suas mudanças ao longo do tempo, para o francês em suas mudanças ao longo do tempo, é a ciência que deve fazer com que nós, humanos, entendamos como somos capazes de nos comunicar uns com os outros, e deve nos fazer entender como, quando e por que somos capazes de nos comunicar uns com os outros. - uma discussão / declaração deve ser autocorretiva, não pode ser dada como não sujeito a críticas, portanto, não pode ser dado como absoluto sempre e em qualquer caso - deve tornar os argumentos explícitos, deve formalizá-los. Dissemos anteriormente que implícito e explícito criam um continuum que é o da informalidade e da formalidade (o explícito é o formal). Portanto, uma ciência faz afirmações autocorretivas, explícita as razões dessas afirmações e propõe suas próprias afirmações em comparação com outros, em contradição. Aceite a comparação com as outras, e aceite que as afirmações são verdadeiras e que os teoremas não são falsificados. Portanto, uma teoria semântica é uma teoria crítica, então De Mauro propõe um modelo em que as afirmações são explicitadas nos fundamentos, sujeito a falsificação Em que suposições se baseia a abordagem demauriana? A seguir, são pressupostos destacados por Saussure e Peirce, pela virada semiótica:

1. A rejeição de uma ideia referencialista, puramente denominacional de signos. Os signos não são rótulos de coisas pré-existentes e pré-formadas no que diz respeito à ação das línguas e das línguas. De Mauro tematiza, dá amplo espaço ao traço da vagueza e indeterminação dos significados, principalmente da linguagem verbal, mas sem deixar de reconhecer o fato de que existem áreas de semiose, ou seja, as línguas, nas quais, ao invés, o caráter vago e indeterminado do significados NÃO são pertinentes. Surge então um problema de taxonomia do universo da semiose, qual era exatamente o problema que Peirce e Saussure colocaram. De Mauro está muito atento ao fato de que as modificações dos signos, as mudanças dos signos, nem sempre são calculáveis, principalmente na linguagem verbal; ou seja, os valores dos sinais em algumas línguas, entre as quais a mais poderosa das línguas, a linguagem verbal, nem sempre são calculáveis de acordo com um procedimento formal. O fato de que em alguns seja calculável leva De Mauro a identificar pelo menos duas grandes linhas de reflexão sobre este tema do século XX:

2) A linha lógico-semiótica

3) A linha de tipo linguístico-semiótica

4. O sujeito é central para a semiótica processo quem fala, expressando, age.

A actividade do sujeito é central, não apenas a estrutura formal do código que o sujeito tem disponível. São estes os elementos fortes do seu modelo que começa a expor na Semântica.O texto está organizado em 4 partes principais: 1. A primeira parte é de tipo epistemológico ou seja, uma reflexão sobre o retrocesso das várias linhas de pesquisa que interpretaram a semântica de maneiras diferentes, dando a esta palavra um significado diferente. Expõe uma teoria da semiose. O ensaio não é que trate da semântica, mas sim da semiótica. Um ensaio em que a semântica e a semiótica coincidem substancialmente. Nesta segunda parte, o modelo teórico da semiose é um modelo de conhecimento que mais uma vez parte de Aristóteles, sempre que falamos de signos, de processos de signos, na realidade estamos a falar de como o pensamento age.

De Mauro constrói uma teoria formal que lhe permite definir o conceito de 'código semiológico' e 'semiótica'. Os conceitos de 'signo', 'significante', 'significado' da ancestralidade saussuriana são retrabalhados em um sistema formal, rigoroso e coerente. A própria noção de 'sistema', tão importante no século XX estruturalista, assume uma definição estritamente ligada aos outros elementos do modelo: a criação de classes de entidades. O uso de um traço pertinente cria uma classe de entidades - aquelas, de fato, dotadas do traço - e ao mesmo tempo a classe complementar das entidades que não possuem esse traço. O sistema de pertinentização é constituído por aulas relacionadas de forma relacional. A visão saussuriana da langue como sistema de relações encontra-se no modelo demauriano, bem como na abordagem peirceana da semiose ilimitada, da rede ilimitada de relações que ligam os signos. A formalização dos elementos do processo simbólico também permite a De Mauro dar mais um passo: propor um modelo de classificação dos códigos semiológicos por meio de uma bateria de critérios, o primeiro dos quais é o da globalidade ou desarticulação, do sinal e do sentido. Arbitrariedade material Arbitrariedade formal, ou seja, na dialética entre a finitude do sujeito e a infinitude do mundo, surge o problema do que o sujeito faz quando tem que reconhecer aquele sinal como aquele sinal que é aquela porção do mundo, essa parte do evento. Como é que o emissor e como o sujeito receptor reconhece assim, aquele mesmo sinal e aquele mesmo sentido

 O sistema é um conjunto de classes que se relacionam com base na escolha e presença ou ausência das características constitutivas das aulas, ou seja, das características pertinentes. Uma vez que o sujeito é um sujeito finito, ele deve:

‛Essa proposta demauriana não foi bem-sucedida. O acto de comunicação é a concretização de um código que possuímos, esse código é abstrato, no sentido de que é um código feito de formas, ou seja, de elementos que são o resultado de um processo de escolha de traços relevantes e, portanto, de sua suposição sobre o nível de conhecimento, neste / com este plano administramos o plano de ação comunicativa concreta. Ao nível do conhecimento, a escolha de um traço pertinente, de vários traços pertinentes permite a construção de classes, classes de factos concretos, classes abstratas. Os factos concretos são infinitos, as classes abstratas acabam com fronteiras e nos permitem administrar o mundo da infinita variedade de identidades concretas. Os códigos são, portanto, realidades biplanares, em dois níveis, o plano / classes de significantes que permitem reconhecer, gerenciar os sinais e o plano de classe de significados que permite reconhecer, gerenciar e usar os sentidos. Relacionar esses dois níveis de classes nos permite criar signos, concretamente reconhecemos um sinal como um sinal porque, tendo / possuindo os códigos, trazemos aquele estado material particular de volta a uma classe que consideramos parte de um signo, a classe em o signo está ligado a outra classe que nos permite identificar o sentido ligado a esse sinal. [Cada signo (e cada código semiológico) pode ser considerado de acordo com quatro dimensões:

1) em relação aos emissores e receptores que estabelecem relações semióticas de acordo com aos signos do código: é a dimensão pragmática] o signo assume os seus valores antes de mais nada na dimensão da ação comunicativa, ou seja, na ação da dimensão pragmática. Não há valores em si, portanto estruturas de significados e significados em si, mas apenas em relação à ação, ou seja, ao uso que os sujeitos, emitindo e recebendo, fazem dos signos. Primeira dimensão: dimensão pragmática

2) em relação aos sinais que constituem os significantes: é a dimensão que podemos chamar de signage ', e que dizemos de vez em quando, dependendo dos canais físicos envolvidos na produção e ‛recepção dos sinais, fonéticos ', fonético-acústico', gráfico '(ou gráfico'), mimético ', etc.;] ‛ um código assume os seus valores específicos, pois os signos deste código assumem valores específicos, assumem uma capacidade de forma, pois estão envolvidos em processos de identidade não só de acordo com as ações dos utilizadores mas também de acordo com o material que levamos para produzir os sinais não são formas abstratas, são formas que se relacionam constantemente com o material, com o canal, de onde extraem os dados relevantes e graças a essa extração os reproduzem, projetam-nos em uma estrutura formal, portanto uma dimensão de sinalização.

3) em relação aos traços, elementos pertinentes que constituem e diferenciam os signos (que, necessariamente, são sempre pelo menos dois): é a dimensão combinatória 'ou cálculo' ou sintática ';]

 Dimensão que os signos assumem entre si e relações recíprocas, puramente formais dos signos.

1) Dimensão sintática em relação aos sentidos que realizam o significado dos signos: é a dimensão semântica ‛O signo pode ser estudado a partir de perspectivas completamente diferentes, desde o uso feito pelos falantes, até o de materiais que constituem a base da expressão, em relação ao modo como os signos se relacionam, depois às relações sintáticas e, por último, ao modo como os signos se relacionam com o conteúdo, com a matéria que gera, com a qual uma forma é dado no nível do conteúdo: a dimensão do significado, o semântico. Um código em sua classificação deve ter pelo menos um traço para pertencer a uma classe da classificação,

2) se pertence a uma, não deve pertencer a outra. De Mauro diz que usará quatro parâmetros: primeiro parâmetro: De Mauro diz que é possível organizar o universo das línguas escolhendo um primeiro traço, que é o traço-globalidade. Ou seja, podemos dividir o universo das línguas em duas classes: a classe à qual pertencem as línguas que possuem signos globais; e a classe à qual pertencem todas as outras línguas cujos signos não são globais. O que De Mauro entende por globalidade ou não articulação. [1. Critério de globalidade ou desarticulação ...] Grande distinção que ele vê no universo da semiose, no universo dos códigos: -Existem códigos em que os signos podem ser decompostos e cada parte do signo está ligada a uma parte do significante e do significado; - ou signos nos quais essa decomposição não pode ocorrer: signos nos quais significado e significante trabalham juntos globalmente. Assim a articulação, ou seja, os signos que não são globais, mas ARTICULADOS, podem ter relações pragmáticas, portanto relações e valores de sentido muito mais diferenciados. Este 1º critério permite-nos compreender, isto é, distinguir, entre códigos em que o significado é global e, portanto, as operações que devemos ter em conta para interpretar o signo são mais complexas e mais vagas em conjunto, em comparação com os outros tipos de códigos i cujos signos não são globais e, portanto, articuláveis. E, portanto, por um lado, são sinais que ajudam mais precisamente na interpretação; mas, por outro lado, requerem um conhecimento, uma partilha mais ampla e complexa do código.Assim, a categorização que De Mauro faz para classificar os vários códigos só nos confronta automaticamente com códigos mais fáceis ou mais difíceis de gerir. Simplesmente nos confronta com códigos que funcionam de maneira diferente e que exigem um compromisso diferente no nível pragmático de sinalização, sintático e substancialmente semântico. O exemplo de coçar é um critério global e o do semáforo é um critério articulado? Sim, porque não é que se coçarmos o queixo 2 ou 3 vezes o significado muda. Pode mudar, se eu passar meia hora coçando o queixo, pode significar que tenho fortes dúvidas; mas a maneira como a linguagem verbal articula, desarticula e recompõe o significado é de natureza completamente diferente: ela nos direciona muito mais sobre o significado. De Mauro delineia um universo semiótico em que as classes de línguas se relacionam de forma distinta e oposta.Os quatro parâmetros utilizados por De Mauro são os seguintes: - globalidade - finitude - sinonímia - metaforicidade. calcular o grau de legibilidade de um texto, especialmente informativo, correlacionando-o aos níveis de escolaridade necessários à sua compreensão.

Mas o termo que teve mais sucesso em linguística é 'o termo 'morfema', que foi desenvolvido particularmente na linguística norte-americana'. Ou seja, as partes que contribuem para o significado geral de um signo, cada uma contribuindo com uma parte desse significado, são hoje mais frequentemente chamadas de 'MORFESE.

3. O mais óbvio dos critérios: o facto de ser sempre possível aumentar um lugar, de uma unidade, uma sequência de elementos. Portanto, dado o número K dos lugares, dos elementos, o código que deseja ter a característica de ilimitado, de infinito deve sempre ser capaz de permitir a fórmula K + 1, ou seja, que seja possível expandir seus elementos ao infinito Ou seja, um cálculo não é criativo no sentido de que a lista de seu vocabulário e suas regras, essas duas listas devem ser fechadas. a conexão sintática das proposições do cálculo, todas necessariamente bem formadas de acordo com 1a e 1b e que é unicamente redutível a V pela aplicação de R; o que é conexão sintática? Um cálculo produz, aplicando regras aos elementos, produz textos, sinais, se eu apliquei bem as regras aos elementos, os sinais pertencem ao cálculo, caso contrário não, não podem pertencer ao cálculo, o cálculo já não funciona.

A eficácia dos procedimentos para formar propostas ou operações e sua redução inequívoca a V com base em R. Eficácia, ou seja, legalidade, consistência, rigor. Assim diz De Mauro: um cálculo, segundo os lógico-matemáticos, deve ser não criativo, seus elementos devem estar rigorosamente ligados no plano sintático, ou seja, o cálculo para ser tal deve produzir apenas elementos bem formados, o que é não bem formado não pertence ao cálculo e então os procedimentos devem ser rigorosos. E diz que todos esses três elementos são elementos que remontam a um único requisito de coesão formal, o que significa não criatividade no nível paradigmático, ou seja, no nível dos elementos possíveis que entram em jogo na frase. E em terceiro lugar, os procedimentos que estabelecem as conexões dos signos matemáticos devem ser válidos e rigorosos, este é um cálculo para o lógico-matemático. De Mauro diz que existem: [Ora, são vários os aspectos de toda linguagem histórico-natural conhecida, verdadeiros universais linguísticos, que nos impedem de atribuir às línguas os três requisitos acima mencionados] Vamos ver quais são essas características que não se assimilam uma linguagem para um cálculo. Oscilação individual e coletiva do vocabulário A linguagem é feita como um cálculo a partir de V, do vocabulário, de seus elementos. Num cálculo, este conjunto de elementos não pode ser alterado, deve ser sempre o mesmo, pelo que a abertura do Vocabulário não cumpre o requisito do cálculo. Um segundo recurso:

2. Coexistência de expressões aglutinadas e sintagmas homônimos desaglutinados. Que em um cálculo, a escolha de uma ou outra interpretação não pode ser deixada a fatores contextuais, mas deve ser dada por procedimentos internos ao próprio cálculo. [A escolha das duas interpretações não é confiada a procedimentos eficazes e a possível presença de expressões aglutinadas viola a não criatividade do vocabulário e das regras sintáticas. simplesmente dissolvido, referindo-se às regras sintáticas ou ao vocabulário da língua e, portanto, isso não pode acontecer em um cálculo. Contradição dentro da mesma proposição e entre proposições diferentes. [Um cálculo é baseado na natureza não contraditória de seus axiomas, a partir da qual decorre a natureza não contraditória de inferências corretamente dedutíveis. Dado um vocabulário e uma sintaxe, uma linguagem em vez disso admite mais tipos de afirmações contraditórias] Ou seja, em um cálculo não pode haver afirmações contraditórias produzidas pela aplicação das regras, em uma linguagem sim.

a) porque os predicados das mesmas são sujeito antônimo: Odi et amo

b) porque enunciados de uma forma linguisticamente significativa incluem proposições que contradizem outras presumidas como verdadeiras: Aquele George maluco diz que as rochas têm diabetes -E há discurso de ódio performativo, isto é, usado para implementar a função emocional do destinatário.Desde 1966, uma convenção internacional definiu o ódio racial como um crime a ser processado, mesmo legalmente. Em 2 de maio de 2018, nossa Câmara dos Deputados decidiu estender nossa primeira definição de discurso de ódio a outros alvos, outros tipos de crime de discurso. O facto é um meio de comunicação (social), por meio do qual o discurso do ódio se manifesta e circula

2. O fato da língua (léxico), o fato da língua, do italiano, do francês, do inglês, da língua histórico-natural, que diz respeito basicamente ao léxico. O fato da linguagem (pragmática), isto é, toda aquela série de manifestações, aspectos da atividade linguística que são objeto de estudo da pragmática, hostis atuais ou passados ​​que podem ser extraídos do vocabulário da língua italiana. Em primeiro lugar, diz De Mauro, existem grupos étnicos, ou seja, aqueles adjetivos ou substantivos que são ou podem ser usados ​​para ofender uma pessoa, ou que na experiência de usar a língua podem ser atestados como ofensas contra a sua contraparte étnica. . Palavras de vários tipos, tipos de uso, antiguidade ...

Marianna Boero

Marianna Boero nos fala das linguagens do consumo : quando falamos de consumo, não podemos deixar de considerar as práticas implementadas pelo consumidor para a escolha ou uso de um produto. E, portanto, um problema de delimitação da nossa emerge imediatamente

objeto de investigação; porque se analisar um comercial é relativamente simples, no caso do consumo, principalmente quando queremos focar nas práticas, a situação é mais complexa. Outro elemento problemático também está relacionado ao fato de que existem elementos dentro do consumo como objeto semiótico.

elementos dinâmicos. Portanto, não apenas elementos estáticos a considerar, mas também elementos dinâmicos ligados ao fato de estarmos falando de um espaço vivido, que é atravessado por corpos em movimento. a publicidade é o campo mais avançado da semiótica do consumo, se olharmos também para os anúncios de 20-30 anos atrás, perceberemos imediatamente como a publicidade não é apenas a promoção de um produto, mas é a história da sociedade de uma época. E, desse ponto de vista, também significa que é um testemunho da própria época. Então a publicidade nos conta histórias, dissemina valores, modelos de referência. relação bidirecional entre o discurso publicitário e a realidade, pois o discurso publicitário, no momento em que representa a realidade, também contribui para alimentar um imaginário do senso comum, que é continuamente questionado à medida que também ocorrem mudanças no tecido social. E, portanto, estamos falando de uma função construtiva, não apenas representacional, da linguagem publicitária. Portanto, a publicidade contribui para a construção do mundo.

Roland Barthes

Roland Barthes em Mitos de ho je (1957) explica muito bem essa distinção que deve existir entre natureza e cultura, que na realidade muitas vezes falta nos discursos dos meios de comunicação de massa. De fato, nas reflexões de Barthes há um sentimento de impaciência diante do natural, do qual a imprensa, a arte, o senso comum cobrem os acontecimentos da história cultural. Isso significa que a natureza e a cultura costumam se confundir. E, portanto, eventos, aspectos que são culturais nos discursos dos meios de comunicação de massa, tornam-se naturais. Assim, os meios de comunicação de massa espalham mensagens ideologizadas, comunicando como 'natural' algo que deriva da história e da cultura. Um exemplo é o pensador ou os brinquedos: que são reproduções em formato reduzido de objetos usados no mundo dos adultos. A comunicação estereotipada não diz respeito apenas à mulher, mas também afecta muito o homem. Não há tema de pesquisa menos percorrido, pois há uma série de questões que se levantam à convergência de interesses seja para as mulheres, como para homens. E isso desde os anos 80, porque até na publicidade, por exemplo da palanca negra, ou dos !Kung, o homem sempre foi associado ao selvagem que vive no mato, ou a dançarinos cujas danças mal reproduzem as tradicionais pois são bem envolvidas em motivos exóticos ... E assim a ligação do ser homem ao ser tradicionalmente autentico passa a ser automática. se pensarmos em comunicação…  é uma forma, um veículo para manter a própria etnia e identidade. Mesmo que pareça um pouco ultra-comercial, seu valor, como disse Saussure, não está nisso; é na identificação que esse objecto vem de um lugar onde a nossa mente está simbolicamente e gostaria de estar lá.

 

Escola semiologica francofona : Lacan

Ordem simbólica

Há uma função que emerge sempre e totalmente e que engloba todo o género humano: a função simbólica (Lacan 1991:38). Ela intervém em todos os momentos e em todos os graus da existência. A totalidade da ordem simbólica chama-se universo, ela portanto possui um caracter universal. Logo que chega um símbolo há um universo de símbolos que implicam a totalidade de tudo aquilo que é humano. A ordem do simbólico como se apresenta holísticamente forma um universo, ou seja algo que constitui um universo que portanto se diferencia do restante mundo que o rodeia. As instancias simbólicas funcionam na sociedade desde o momento onde apareceu o homem. Desde que a função simbólica funciona nós nos encontramos ao seu interno.

O registo do simbólico é um lugar fundamental da linguagem é a relação entre o sujeito e o Outro. O sujeito envolve os aspectos consciente e inconsciente.

O signo

Do entrelaçamento entre real, simbólico e imaginário, advém o signo, definido como efeito do simbólico no real. É o real, sob a forma de nada que antecede o aparecimento de toda a vida, que é recalcado (recalque original) para que haja a inscrição de um significante, dando origem ao signo é fazer laço entre o simbólico, o imaginário e o real, para que se estabeleça uma interligação entre eles (Coutinho 2005:31).

Os signos são os elementos da ordem simbólica. Signo e símbolo não são sinónimos todavia indicam a mesma coisa, mas de dois pontos de vista diferentes. O símbolo designa um elemento linguistico que se encontra imergido numa trama simbólica de ausência e de presença. O signo designa o mesmo elemento linguistico como acto em si. O signo é a composição de significante e significado. Foi Ferdinand de Saussure a descobrir-lo.Segundo ele o significante é o lado material do signo pois é o fonema ou grafam através do qual nós ouvimos ou vemos o signo. Mas o signo é também signo de algo, de um significado, ou melhor de um «conceito». Daí o esquema de De Saussure do signo: s/S, significado sobre significante. Sobre, ou seja em posição dominante, temos os pensamentos do sujeito falante, pensamentos feitos de «conceitos», de significados.

De baixo, em posição subordinada, temos expressões materiais destes conceitos, os significados através dos quais o falante manifesta seus pensamentos. Para Saussure, enfim, o mundo é ainda percorrido por uma dicotomia cartesiana: de um lado o pensamento, doutro lado a matéria. E o pensamento domina a matéria, a res cogitans domina a res extensa. Pela qual, o lado espiritual do signo, o significado, domina o lado material, o significante. Lacan porem ribalta  este esquema. Por ele, de facto, a psicanálise é a disciplina que nos obriga a admitir que, através do signo, e portanto a maior parte das vezes fala sem saber aquilo que se diz: isto quer dizer que fala, o inconscio fala nele. Portanto, o esquema saussuriano va ribalta: S/s. É o significante a dominar e a determinar o significado do signo . O significante,  não manifesta simplesmente o sentido ou o pensamento do sujeito, como pensava Saussure, mas produz o sentido. Mas de que maneira?

         Antes de tudo aclaramos os termos que ele usa: o sentido não é o significado. O sentido de uma frase inclui certamente o significado (das palavras), mas não  se resolve integralmente no significado das palavras. O sentido é algo a mais do significado. Mas é o que o significado duma palavra? Que ser dizer que o significante domina e determina o significado?, como Lacan afirma? Uma primeira resposta, a mais simples, é a seguinte:

O significado dum significante é. . . um outro significante.

Esta coisa se pode averiguar de duas maneiras. Tomamos um substantivo, Um nome. Como nos vem explicado o significado de um nome? Através um outro nome ou, um conjunto de outros nomes que são sinónimos daquele. Este é o eixo paradigmático da linguagem definido por Jakobson.

Estrutura da realidade

A única via de o real se inscrever na estrutura é através dos efeitos de sua própria impossibilidade. O real é o que ex-siste assim como o simbólico é o que insiste e o imaginário é o que faz consistência. O simbólico corresponde às relações entre inconsciente e linguagem. A realidade é constituída por uma trama simbólico-imaginária, feita portanto de palavras e de imagens, ao passo que o real é precisamente aquilo que não pode ser representado nem por palavras nem por imagens: ao real falta representação psíquica.

O real é o que está fora do simbólico, sendo por isso mesmo definido como “o impossível de ser simbolizado”. O imaginário é tudo o que diz respeito à imagem do corpo sem a mediação da palavra, reduzindo as relações humanas à especularidade, o que faz com que sejam anulados os limites e as diferenças entre o sujeito e o outro como semelhante. No imaginário reina a lei do transitivismo, onde o eu se torna sinónimo do outro.

O amor está situado na junção entre o simbólico e o imaginário. No amor, portanto, o real está elidido, o amor não admite a perda, a separação, “o amor é forte, é como a morte” e “as suas brasas, são brasas de fogo” que “as águas não poderiam apagar”, não é o que afirma o Cântico dos cânticos? O ódio está na junção entre o real e o imaginário. Nele falta o simbólico, ou seja, falta a palavra em sua função de mediação. No ódio, o embate entre o sentido e o não-sentido é mortífero, nele os tratados são rompidos, os pactos rasgados, surge a guerra; a diferença se torna incompatível, já que o simbólico não pode assegurá-la. Ingressamos no regime de ou um ou outro. A ignorância está na junção entre o real e o simbólico. Nela o imaginário está elidido, inviabilizando a produção de sentido (Coutinho 2005:36-37).

Bibliografia

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