Seleção natural: Princípios

No início de sua pesquisa, Darwin percebeu que a seleção natural era a chave para a evolução. Com a ajuda das ideias de Malthus, ele viu como a seleção na natureza poderia ser explicada. Na luta pela existência, aqueles indivíduos com variações favoráveis

sobreviveriam e se reproduziriam, mas aqueles com variações desfavoráveis não. Para Darwin, a explicação da evolução era simples. Os processos básicos, como ele entendeu

eles, são os seguintes:

1. Todas as espécies são capazes de produzir descendentes em um ritmo mais rápido do que o aumento dos suprimentos de comida.

2. Existe variação biológica dentro de todas as espécies.

3. Em cada geração, mais descendentes são produzidos do que sobrevivem e, devido aos recursos limitados, há competição entre os indivíduos.

4. Indivíduos que possuem variações ou características favoráveis (por exemplo, velocidade, resistência a doenças, coloração protetora) têm uma vantagem sobre aqueles que não os têm. Em outras palavras, eles têm maior aptidão porque características favoráveis aumentam a probabilidade de sobreviverem até a idade adulta e se reproduzirem.

5. O contexto ambiental determina se uma característica é benéfica ou não. O que é favorável em um cenário pode ser uma desvantagem em outro. Consequentemente, as características que se tornam mais vantajosas são o resultado de um processo natural.

6. As características são herdadas e passadas para a próxima geração. Como os indivíduos que possuem características favoráveis contribuem com mais descendentes para a próxima geração do que os outros, com o tempo essas características favoráveis tornam-se mais comuns na população. Características menos favoráveis não são transmitidas com tanta frequência, então se tornam menos comuns com o tempo e são 'eliminadas'. Indivíduos que produzem mais descendentes em comparação com outros têm maior sucesso reprodutivo ou melhor

7. Durante longos períodos de tempo, variações bem-sucedidas se acumulam em uma população, de modo que as gerações posteriores podem ser distintas de seus ancestrais. Assim, com o tempo, uma nova espécie pode aparecer.

8. O isolamento geográfico também contribui para a formação de novas espécies. À medida que as populações de uma espécie ficam geograficamente isoladas umas das outras, por qualquer motivo (por exemplo, distância ou barreiras naturais como cordilheiras e oceanos), elas começam a se adaptar a diferentes ambientes. Com o tempo, conforme as populações continuam a responder a diferentes pressões seletivas (ou seja, diferentes circunstâncias ecológicas), elas podem se tornar espécies distintas.

 

Tentilhão das Galapagos

O tentilhão de solo médio das Ilhas Galápagos fornece outro exemplo de seleção natural. Em 1977, a seca matou muitas das plantas que produziam as sementes menores e mais macias preferidas por essas aves. Isso forçou uma população de tentilhões em uma das ilhas a se alimentar de sementes maiores e mais duras. Mesmo antes de 1977, alguns pássaros tinham bicos menores e menos robustos do que outros (ou seja, havia variação). Durante a seca, por serem menos capazes de processar as sementes maiores, morreram mais pássaros de bico menor do que pássaros de bico maior. Portanto, embora o tamanho da população geral tenha diminuído, a espessura média do bico dos sobreviventes e de seus descendentes aumentou, simplesmente porque os indivíduos de bico mais grosso estavam sobrevivendo em maior número e produzindo mais descendentes. Em outras palavras, eles tiveram maior sucesso reprodutivo. Mas durante chuvas fortes em 1982-1983, sementes menores tornaram-se mais abundantes e o padrão no tamanho do bico se inverteu, demonstrando novamente como o sucesso reprodutivo está relacionado às condições ambientais (Grant, 1986; Ridley, 1993). A melhor ilustração de seleção natural, entretanto, e certamente com consequências potencialmente graves para os humanos, é o aumento de cepas resistentes de microorganismos causadores de doenças. Quando os antibióticos foram introduzidos pela primeira vez na década de 1940, eles eram vistos como a cura para doenças bacterianas. No entanto, essa visão otimista não levou em consideração que as bactérias, como outros organismos, possuem variação genética. Consequentemente, embora um antibiótico mate a maioria das bactérias em uma pessoa infectada, qualquer bactéria com resistência hereditária a esse tratamento específico sobreviverá. Por sua vez, os sobreviventes se reproduzem e passam sua resistência aos medicamentos para as gerações futuras, de modo que, eventualmente, a população é composta principalmente por bactérias que não respondem ao tratamento. Além do mais, como as bactérias produzem novas gerações a cada poucas horas, cepas resistentes a antibióticos estão aparecendo continuamente. Como resultado, muitos tipos de infecção não respondem mais ao tratamento. Por exemplo, a tuberculose já foi considerada bem controlada, mas tem havido um ressurgimento da tuberculose nos últimos anos porque algumas cepas da bactéria que a causa são resistentes à maioria dos antibióticos usados ??para tratá-la. Esses exemplos (mariposas, tentilhões e bactérias) fornecem os seguintes pontos sobre os fundamentos da mudança evolutiva produzida pela seleção natural:

1. Uma característica deve ser herdada para que a seleção natural aja sobre ela. Uma característica que não é hereditária (como uma mudança temporária na cor do cabelo produzida pelo cabeleireiro) não será passada para a prole. Em tentilhões, por exemplo, o tamanho do bico é uma característica hereditária.

2. A seleção natural não pode ocorrer sem variação populacional nas características herdadas. Se, por exemplo, todas as mariposas salpicadas inicialmente fossem cinza claro e as árvores tivessem se tornado mais escuras, a sobrevivência e a reprodução das mariposas poderiam ter sido tão baixas que a população poderia ter se extinguido. A seleção pode funcionar apenas com variação que já existe.

 3. A aptidão é uma medida relativa que muda conforme o ambiente muda. A aptidão é simplesmente um sucesso reprodutivo líquido diferencial. No estágio inicial, as mariposas mais leves estavam mais aptas porque produziram mais descendentes. Mas, à medida que o ambiente mudou, as mariposas cinza-escuras tornaram-se mais adequadas. Mais tarde, uma nova mudança reverteu o padrão novamente. Da mesma forma, a maioria dos tentilhões de Galápagos terá bicos maiores ou menores, dependendo das condições externas. Portanto, deve ser óbvio que afirmações sobre o “mais adequado” não significam nada sem referência a ambientes específicos.

4. A seleção natural pode agir apenas em características que afetam a reprodução. Se uma característica não é expressa até mais tarde na vida, depois que os organismos se reproduzem, a seleção natural não pode influenciá-la. Isso ocorre porque os componentes herdados da característica já foram passados para a prole. Muitas formas de câncer e doenças cardiovasculares são influenciadas por fatores hereditários, mas como essas doenças geralmente afetam as pessoas depois de terem filhos, a seleção natural não pode agir contra elas. Da mesma forma, se uma condição geralmente mata ou compromete o indivíduo antes que ele se reproduza, a seleção natural é capaz de agir contra ela porque a característica não será transmitida. Seleção natural e sucesso reprodutivo Até agora, nossos exemplos mostraram como diferentes taxas de mortalidade influenciam a seleção natural (por exemplo, mariposas ou tentilhões que morrem cedo deixam menos descendentes). Mas a mortalidade é apenas parte do quadro. Outro aspecto importante da seleção natural é a fertilidade, porque um animal que dá à luz mais filhotes contribui com mais genes para a próxima geração do que um animal que produz menos descendentes. Mas a fertilidade também não é tudo, porque o elemento crucial é o número de jovens criados com sucesso até o ponto em que eles próprios se reproduzem. Chamamos isso de sucesso reprodutivo líquido diferencial. A forma como esse mecanismo funciona pode ser demonstrada por meio de outro exemplo. Em andorinhões (pequenos pássaros que se parecem com andorinhas), os dados mostram que produzir mais descendentes não garante necessariamente que mais jovens serão criados com sucesso.

O número de ovos eclodidos em uma estação de reprodução é uma medida de fertilidade. O número de pássaros que amadurecem e podem eventualmente deixar o ninho é uma medida do sucesso reprodutivo líquido, ou da prole criada com sucesso. A tabela a seguir mostra a correlação entre o número de ovos eclodidos (fertilidade) e o número de filhotes que deixam o ninho (sucesso reprodutivo), em média ao longo de quatro estações reprodutivas (Lack, 1966)

Restrições à Teoria Evolucionista do Século XIX

Darwin defendeu o conceito de evolução em geral e o papel da seleção natural em particular. Mas ele não entendia os mecanismos exactos de mudança evolutiva. Como já vimos, a seleção natural atua na variação dentro das espécies, mas o que Darwin não entendeu foi de onde veio a variação. No século XIX, essa questão permanecia sem resposta, e ninguém entendia como os filhos herdavam os traços de seus pais. Quase sem exceção, os cientistas do século XIX acreditavam que a herança era um processo de combinação no qual as características dos pais são misturadas para produzir expressões intermediárias na prole. Dada essa noção, podemos ver por que a verdadeira natureza dos genes era inimaginável; e sem nenhuma explicação alternativa, Darwin aceitou a teoria da herança da combinação. Acontece que um contemporâneo de Darwin havia realmente elaborado as regras da hereditariedade. No entanto, o trabalho deste monge agostiniano chamado Gregor Mendel não foi reconhecido até o início do século XX. As primeiras três décadas do século XX viram a fusão da teoria da seleção natural e as descobertas de Mendel. Este foi um desenvolvimento crucial porque, até então, os cientistas pensavam que esses conceitos não estavam relacionados. Então, em 1953, a estrutura do DNA foi descoberta. Essa conquista histórica foi seguida por avanços ainda mais surpreendentes no campo da genética. O genoma humano foi sequenciado em 2003, seguido pelo genoma do chimpanzé em 2005. Os genomas de muitas outras espécies também foram sequenciados. Ao comparar os genomas de espécies diferentes (um campo chamado genômica comparativa), os cientistas podem examinar o quão geneticamente semelhantes (ou diferentes) eles são. Isso pode explicar muitos aspectos de como essas espécies evoluíram. Além disso, desde o início de 1990, vários cientistas fundiram os campos da biologia evolutiva e do desenvolvimento em um novo campo chamado evolução do desenvolvimento, ou simplesmente “evo-devo”. Essa abordagem, que compara as ações de diferentes genes do desenvolvimento e os fatores que os regulam, está tornando possível explicar a evolução de maneiras que eram impossíveis até 15 anos atrás. Os cientistas estão realmente prestes a revelar muitos segredos do processo evolutivo. Se ao menos Darwin pudesse saber o que sabemos agora!

Oposição à evolução hoje

Mais de um século e meio após a publicação de Sobre a origem das espécies, o debate sobre a evolução está longe de terminar, especialmente nos Estados Unidos e cada vez mais em vários países muçulmanos. Entre a comunidade biológica, a evolução é indiscutível. As evidências genéticas são sólidas e se acumulam diariamente. Quem aprecia e entende os mecanismos genéticos não pode evitar a conclusão de que as populações e espécies evoluem. Além do mais, a maioria dos cristãos não acredita que as representações bíblicas devam ser interpretadas literalmente. Mas, ao mesmo tempo, algumas pesquisas mostram que cerca de metade de todos os americanos não acredita que a evolução ocorra. Uma pesquisa Gallup recente, de fato, mostrou que 42 por cento dos americanos acreditam no criacionismo bíblico (Newport, 2014). Existem várias razões para isso. Os mecanismos de evolução são complexos e não se prestam a explicações simples. Entendê-los requer alguma familiaridade com genética e biologia, uma familiaridade que a maioria das pessoas não tem, a menos que tenham feito cursos relacionados na escola. Além disso, muitas pessoas querem respostas definitivas e claras para perguntas complexas. Mas, a ciência nem sempre fornece respostas definitivas às perguntas; por design, não estabelece verdades absolutas; e não prova fatos. Outra coisa a considerar é que, independentemente de sua cultura, a maioria das pessoas é criada em sistemas de crenças que não enfatizam a continuidade biológica entre as espécies ou oferecem explicações científicas para fenômenos naturais. A relação entre ciência e religião nunca foi fácil (lembre-se de Galileu), embora ambas sirvam, a sua maneira, para explicar fenômenos naturais. As explicações científicas são baseadas na análise de dados, teste de hipóteses e interpretação. A religião, por sua vez, é um sistema de crenças baseadas na fé. A principal diferença entre ciência e religião é que as crenças e explicações religiosas não são passíveis de testes científicos. Religião e ciência dizem respeito a diferentes aspectos da experiência humana, mas não são abordagens inerentemente mutuamente exclusivas. Ou seja, a crença em Deus não exclui a possibilidade de evolução biológica; e o reconhecimento dos processos evolutivos não exclui a existência de Deus. Além do mais, as teorias evolucionárias não são rejeitadas por todas as religiões ou pela maioria das formas de cristianismo. Há alguns anos, o Vaticano sediou uma conferência internacional sobre a evolução humana; em 1996, o Papa João Paulo II emitiu uma declaração de que “novos conhecimentos levam ao reconhecimento da teoria da evolução como mais do que apenas uma hipótese”. Hoje, a posição oficial da Igreja Católica é que os processos evolutivos ocorrem, mas que a alma humana é de criação divina e não está sujeita a processos evolutivos. Da mesma forma, os protestantes convencionais geralmente não vêem um conflito. Infelizmente, aqueles que acreditam em uma interpretação absolutamente literal da Bíblia (chamados de fundamentalistas) não aceitam concessões.

 

 

ÁFRICA E A SUA DESIGNAÇÃO

 

Faltam documentos que nos asseverem falar-se da África anteriormente ao séc. V a. C. Para os Gregos, África era a Líbia <Libue). Depois» a parte qualificou o todo e o todo tornou-se uma parte. A Líbia ficou a denominar sòmente uma parte do rebordo setentrional do continente negro.

Para os Romanos, África designava o território correspondente mais ou menos à Tunísia de hoje, região que os árabes apelidavam de Ifrikiya, Ao território compreendido entre a margem esquerda do Nilo e o Oceano Atlântico chamavam estes Maghríb («Ocidente»),

Com efeito, quando, em 140 a. C., Roma tomou e destruiu Cartago, criou em derredor dela a Provinda África, a província dos Afri (plural de Afer), como chamavam os Romanos aos indígenas da região. Afer teria sido, segundo alguns, neto de Abraão e filho ou companheiro do Hércules Líbico.

Ifrikiya virá de faraka, termo que significa «separou». Sobre este étimo duas opiniões existem: uma que se baseia no facto de este continente estar separado da Europa e de uma parte da Ásia pelo Mediterrâneo; outra que faz derivar a palavra de Ifrieos, rei da Arábia Feliz (Iémen), o qual, vencido pelos reis da Assíria e não podendo regressar ao seu reino, atravessou o Nilo e foi fixar-se nas bandas de Cartago.

Pretendem outros que África seja oriunda do termo berbere ifri (ou afri) (plural: ifran), que significa «gruta»; outros, de Af-rui-ka, que em egípcio antigo queria dizer «o povo negro do interior».

Para Sérvio, a expressão África era idêntica às de apricus («exposto ao Sol») e apricari («aquecer-se ao Sol»).

Mesmo assim, mantém-se o problema de determinar a sua raiz, que parece ser ric fric, («fogo», «calor»), na sua semelhança com o harac («queimar») caldaico, com o baraq («relâmpago») hebraico, e com o grego sruktos; (o fricèus latino—«assado ao lume»).

 

Bergier, contudo, propõe que, a derivar África de afer («roxo», «queimado»), a sua raiz será phar, farf que serviu de base à formação do chafar (ruborizar-se», «envergonhar-se») hebraico, dos pur («fogo», «ardor») e porfura («purpura») gregos e de purpura e pyra latinos; Bochart, entretanto, defende o étimo hebraico pheriq («espiga») para África, em virtude da abundância de trigo que ali havia; autores houve que preferiram o termo afrike, sendo o elemento a significativo de privação, negação, e sinónimo de frio, tremura. Quer dizer: país aonde não se treme de frio

Ê difícil averiguar quem tem razão, ou melhor, quem tem mais razão De todas estas etimologias nos podemos socorrer para tentarmos explicar a origem da palavra. No entanto, menos verosímil nos parece o étimo proposto por Bochart, dado que também noutras províncias romanas o trigo crescia em abundância, nomeadamente na Sicília, que mereceu então a designação de celeiro do povo romano, as quais nunca foram apelidadas pelo povo de Roma por essa maneira ou expressão semelhante

For exclusão da opinião deste autor, a origem da expressão África parece girar em torno da ideia de calor, fogo, ausência de frio.

Todo esse portentoso continente, em função dos caracteres rácicos dos seus povos, se pode dividir em duas «Áfri-cas»: a África Branca, ao norte, e a África Negra, ao sul. A dividi-las, grosso modo, será hoje uma linha que, partindo de Saint-Louís até Bakel, ao longo do rio Senegal, de lá caminhe em direitura ao Níger, sensivelmente ao longo do paralelo de 15° lat. N., contorne este rio até Niamey, daqui até ao lago Tehad, num caminhar sinuoso, envolvendo os Montes Tibésti, depois seguindo para o Nilo, alcançando Assuão e passando-se para a outra margem, contornando o maciço da Abissínia, até perto do lago Rodolfo, e descaindo em direcção ao Quilimanjaro, até tocar o Indico.

 

 

A  AFRICA PRE-HISTORICA E O HOMEM

 

OS PERÍODOS PLUVIOSOS DA AFRICA ORIENTAL

Enquanto que a Pré-História europeia é relativamente bem conhecida/a da África vive ainda no domínio das hipóteses. Entre outras, várias causas têm no continente africano dificultado as investigações: o clima, o isolamento, a estratigrafia geralmente defeituosa, a erosão intensa, fazendo afio- rar à superfície as indústrias líticas, a lixiviação torrencial, deslocando, soterrando ou desnudando os objectos, o incompleto conhecimento dos solos, tudo isso torna difícil precisar a evolução das culturas pré-históricas africanas. Achados recentes de utensílios de pedra em aluviões do mais antigo dos períodos pluviosos que os antropólogos verificaram para a África Oriental convenceram até alguns autores de ser lá o berço da Humanidade,

Por volta de 1930 Leakey descobriu na ilha Rusinga, na margem oriental do lago Vitória, numa fractura de 100 metros de altura, a maxila inferior de um macaco precursor dos hominídeos, o Proconsul africanus, que fez remontar a 20 milhões de anos. Nas margens do mesmo lago encontrou, por essa altura, mais indivíduos, cerca de uma centena, daquela classe de primatas, aos quais atribuiu a idade de 30 milhões de anos. Em 1962 o mesmo Professor descobriu, perto de Kisumu, a nordeste do lago Vitória, uma maxila de outro desses longínquos antepassados, que ali viveu há 14 milhões de anos. Todos estes seres representam a transição mais típica de um ser não-hominídeo para o homem. Em 1963 foi a vez de outra grande descoberta de Leakey, o Homo habilis, em que viu uma nova espécie do género Homo.

Tudo isto levou o Prof. Leakey e outros autores à Meia de ser a África o berço do ramo hominídeo. Os achados da Uganda e do Quénia correspondem de facto a seres bem mais tardios na sucessão das glaciações europeias.

Os quatro grandes períodos pluviosos da África Oriental

receberam os nomes de Kaguerense, Kamassiense, Kanjerense e Gambliense. O primeiro corresponde ao Pleistoceno inferior ou à passagem entre o Plioceno e o Pleistoceno, e recebeu esta designação por via do rio Kaguera, afluente do lago Vitória, na Uganda, onde foi descoberto um depósito a uns 90 metros. Na mesma formação, no rio Kafu, veio a descobrir-se a indústria humana mais antiga, conhecida pelo nome de Kafuense, que, sendo pré-chelense, tem conduzido alguns investigadores a defenderem a teoria do homem africano autóctone. O Kamassiense recebeu o nome do lago Kamasia, no «Rift Valley», no Quénia, e corresponde ao Pleistoceno médio; o Kanjerense provém de Kanjera, lugar do golfo de Kavirondo; e o Gambliense, de uma granja situada nas cercanias do lago Elmenteita, propriedade de A. Gamble, correspondendo ao Pleistoceno superior.

Dois outros períodos se seguiram ainda ao Gambliense: os chamados Makaliemet do rio Makalia, do Quénia, e Nakurense, do lago Nakuro, também do Quénia.

Toda esta terminologia e esta sucessão das fases pluviais se tornaram clássicas depois do Congresso Pan-africano de Nairobi (Janeiro de 1947).

Para muitos autores, os quatro grandes pluviais africanos corresponderiam, numa cronologia paralela, às glaciações europeias de Gunz, Mindél, Riss e Wurm, embora tal correspondência esteja longe de poder ser demonstrada.

 

OS AUSTRALOPITECOS

Australopithecus africanus Dart

os australopitecos foram descobertos no Sul da África: o Australopithecus africanas, em 1924, na antiga Bechuanalândia, hoje Botswana, perto de Taungs; o Plesianthropus transvaalensis, em 1936, no Transvaal, na localidade de Sterkfontein; o Paranthropus robustus, em 1938, perto de Pretória, em Kromdraai; o Paranthropus crassidens: em 1949, em Swartkrans, perto de Krugersdorp, no Transval; o Australopithecus prometheus, na Jazida de Makapansgat, no Transval Central, descoberta em 1947 e explorada até 1949; e o Zinjanthropus Boisei., em 1959, na garganta de Oldoway (Tanganica).

Todos estes quatro géneros, Australopithecus, Plesianthmpus, Paranthropus e Zinjanthropus, constituem o grupo dos Australopitecos.

A princípio, os investigadores localizaram o Australopiteco no Plioceno superior; o Plesiantropo e o Parantropo no Quaternário inferior ou médio. Mais tarde, porém, alguns passaram o Plesiantropo para o Plioceno superior fazendo recuar o Australopiteco, correlativamente.

Os Australopitecos seriam «macacos-homens», mostrando apenas tendência morfológica em ordem a um aspecto hominoide. Pertencem sem dúvida a um grupo particular de Primatas diferente de todos os que até então eram conhecidos.

Em 1924 foram descobertas por De Brayn em Buxton, perto de Taungs, na antiga Bechuanalândia, uma mandíbula e a parte anterior de um crânio. No ano seguinte, estas peças foram estudadas por Dart, professor em Joanesburgo, que as considerou de uma forma intermédia entre antropoides e pré-hominóides, dando-lhes o nome de Australopithecus africanus.

Este australopiteco é o que mais caracteres hominides apresenta: capacidade craniana bastante acentuada, lugar do buraco occipital. Trata-se de uma parte de um crânio com uma moldagem endocraniana natural, de um indivíduo de poucos anos de idade. A falta quase total das arcadas supraciliares leva a pensar que se trata de uma fêmea.

«A face projectada num focinho saliente e a abertura nasal achatada são absolutamente comparáveis a um chimpanzé da mesma idade, mas com um prognatismo um pouco menos acentuado. Feia moldagem endocraniana pode-se calcular a capacidade cerebral à volta de 500 e. e., o que, correspondendo num adulto masculino a 600 ou 700 e. c,, o que é da ordem de grandeza da capacidade craniana dos grandes antropóides actuais (gorila), é notavelmente superior à do chimpanzé (450 c. c. máximo). A moldagem endocraniana revela estruturas relativamente avançadas: os lobos frontais e parietais, em especial, são mais desenvolvidos do que nos antropoides actuais, o que representa um nível mais elevado das faculdades intelectuais.» *

«O conjunto da dentição do Australopiteco, assim como a estrutura do entalhe dos seus dentes, mostra [...] o predomínio dos caracteres humanos associados a outros mais primitivos que lembram os Antropóides.»

Com efeito, a dentadura é completa e compreende os vinte dentes do leite. Os primeiros pré-molares de leite apresentam três cúspides no maxilar superior; os do maxilar inferior possuem quatro. Ora, o antropóide, no maxilar superior, tem duas cúspides e no maxilar inferior duas; o homem, no primeiro caso, possui geralmente três e no segundo quatro. Portanto, o traço fundamental da estrutura destes dentes é de tipo humano. Os caninos assemelham-se também mais aos do homem que aos dos Antropóides. Pelo contrário, os primeiros molares do Australopiteeo são maiores que os do homem ou do chimpanzé.

 

O Plesianthropus transvaalensis Broom e o Paranthropas robustos Broom

Em 1936 R Broom descobriu em Sterkfontein, perto de Joanesburgo, vestígios de três ou quatro indivíduos adultos, que denominou Plesianthropus transvaàlensis. Foram encontrados, primeiro, dentes isolados, seguidamente, dois fragmentos de maxilar, cada um com a sua série de dentes e, final- mente, mais dentes isolados e uma sínfise mandibular.

Em 1947-1948 Broom e J. T. Robinson empreenderam nova campanha de escavações na mesma jazida. Foram descobertos um crânio quase inteiro, duas calotes cranianas inteiras, uma outra incompleta, porções da face, maxilares, mandíbulas, numerosos dentes, vértebras, costelas, uma omoplata, um fragmento de húmero e outro de fémur. Todos estes restos se verificaram pertencerem à mesma espécie, ao Plesianthropus transmaíemis.

No ano de 1938 o estudante G. Terblanche encontrou em Kromdraai, perto de Krugersdorp (Transval), ura crânio, que ele prejudicou bastante ao retirar do rochedo, Broom, sabedor do facto, não tardou a apresentar-se lá e a fazer novas Investigações. Encontrou dentes que o estudante havia arrancado dos alvéolos e alguns outros restos, incluindo a maior parte da mandíbula ainda metida no rochedo* A este crânio deu o nome de Paranthropus tóbustus.

Novas escavações foram levadas a cabo no mesmo local, tendo conduzido à descoberta de algumas outras peças do esqueleto, todas elas da mesma espécie.

«A forma do crânio cerebral no Plesiantropo ê alongada e baixa e com um rebordo circum-orbital saliente, A capacidade cerebral é de cerca de 500 a 600 c. c., o que em relação com a estatura destes fósseis, que é quase de um chimpanzé, é bastante superior à [do Parantropo], que varia de 400 a 450 cc.

A morfologia exterior revela entre o crânio do Plesíantropo e o do Parantropo algumas diferenças de pormenor; a face é mais alongada no primeiro; no segundo a ligação do osso molar e do maxilar apresenta um rudimento ou antes uma indicação da fossa craniana. Em ambos, a sutura têm- poro-parietal é rectilínea e, por consequência, de tipo simiesco. Finalmente, no Parantropo, a abertura do conduto auditivo externo apresenta as mesmas relações com a raiz da apófise zigomáfeica do temporal com a fossa glenóide que apresenta no homem: tal como nestes últimos, a apófise glenôíde é reduzida e a cristã timpânica forma uma parte do bordo posterior da cavidade glenóide,» 5

 

O Paranthropus crassidens Broom et Robinson e a Zinjanthropus Bolsei Leakey

Em 1949 Broom e Robinson acharam em Swartkrans, também perto de Krugersdorp, vários crânios inteiros ou fragmentários, porções de maxilares, mandíbulas, muitos dentes isolados, uma extremidade de húmero e um osso de metacarpo* Estes restos, eles os classificaram de Paranthropus crassidens,

No dia 17 de Julho de 1959 o casal Leakey descobriu em Oldoway (Tanganica), na orla da estepe de Serengeti, um crânio fragmentado, que, apesar disso, pôde ser reconstituído. O seu aspecto geral de australopiteco, a cristã sagital e outros detalhes aproximam-no do Paranthropas crassidens Mas a sua forte dentição é de carácter homlnóide.

Recebeu o nome de Zinjanthropus Boisei, de Zinj nome dado pelos antigos geógrafos a esta região da África Oriental A sua capacidade craniana é de 530 c c Em 1961, pelo método potâssio-ârgon na Universidade da Califórnia, foi-lhe atribuída a idade de 1750 000 anos.

Representa uma das mais sensacionais descobertas destes últimos anos no que pode vir a valorizar os Australopitecos, trazendo novo argumento aos que crêem ser a África a pátria da Humanidade.

 

O Australopithecus prometeus Dart

Também em 1949 outro jazigo de australopitecos foi encontrado em Makapansgat, no centro do Transval, com fragmentos de crânios ou crânios inteiros, moldagens endocranianas, porções da face, mandíbulas, dentes e ossos da bacia, atribuídos a sete indivíduos, adolescentes uns, adultos e mesmo velhos outros.

A capacidade craniana é vizinha da do Parantropo, mas Dart deu-lhe outra classificação: Australopíthecus prometheus.

Admite este mesmo autor não ser impossível que este australopiteco seja a forma adulta do africanas. «No entanto, fez dele outra espécie,

a) porque a sutura entre o occipital e os parietais é mais complicada do que no africanas;

b) porque é de idade diferente [mais antigo];

c) porque se atrevia a caça mais [grossa];

d) porque tinha um regime alimentar mais variado; e finalmente,

e) porque proveio de jazigo diferente,»

A dentição destes fósseis revela uma mistura de caracteres tendentes para o sentido «hominóíde» e de caracteres «primitivos» dos antropóides do Mioceno médio até ao Plioceno, relacionados com o chimpanzé e, mais especialmente, com o gorila.

Em conclusão, poderá, pois, afirmar-se que os australopitecos, pela sua estrutura dentaria e craniana, colocados entre os Antropóides e os Pítecantropos do Quaternário inferior de Java, revelam já uma tendência morfológica para a hominização. Sehepers, colaborador de Dart, pretende que eles, possuindo centros de associação bastante desenvolvidos, eram dotados de base neural bastante para o desenvolvimento da linguagem articulada e de uma habilidade manual muito superior à dos Antropóides e até para o desenvolvimento de actividades psíquicas mais complexas, não obstante o aspecto simiesco muito acentuado, E fundamenta esta sua asserção sobretudo no facto de a região frontal primordial se ter desenvolvido em proporção diferente da do cérebro. Também Broom e Dart admitem que os Australopitecos teriam alcançado o nível psíquico humano. Outros e muitos autores põem sérias reservas a todas estas afirmações, considerando que, no estado actual da questão, estes australopitecos apenas podem ser considerados antropóides mais evoluídos.

FÔSSEIS HUMANOS DO QUATERNÁRIO

Quaternário antigo (Kaguerense-Kamassiense)

Meganthropus africanus Weinert

Em 1939 o Dr, Kohl Larsen descobriu em Lietoli, perto do lago Eyassi, no Tanganiea, um fragmento de maxilar, cujos dentes revelam uma mistura de caracteres simiescos e de caracteres hominóides. IL Weinert e A. Remane quiseram ver neste Meganthropus africanus um representante dos megantropos de Java, Kohl Larsen, antes, havia incluído este fragmento de maxilar no grupo dos Australopitecos.

Telalanthropus capensis Broom et Robinson

Em 1949 (?) R. Broom e J. T. Robinson, em Swartkrans, na mesma estação onde tinham achado o Paranthropus erassidens, descobriram uma mandíbula, um fragmento de maxilar superior, uma extremidade de rádio e pré-molares, fósseis que lhes permitiram criar um género novo: o Telanthropus capensís. A mandíbula e o maxilar apresentam características mais humanas que de australopitecos. Por este motivo também, há dúvida sobre se o Telanthropus capensis é do Quaternário inferior ou do Quaternário médio. J, T, Robinson considera-o um verdadeiro hominídeo, embora de um tipo mais primitivo, o mais próximo dos Australopitecos conhecido, apesar de apresentar traços neanderthalóides bem visíveis na mandíbula.

 

O Homem de Makapansgat

No ano de 1947, em Makapansgat, no Transvaal Central, R. Kitching encontrou a mandíbula de um indivíduo de perto de 12 anos, com afinidades neanderthalóides, R. A. Dart quis reconhecer-lhe parentesco com o Homem de Boskop, do Quaternário recente da África meridional.

Soube-se, assim, a partir de 1947, que no centro do Transval viveram seres de características do Homo neanderthalensis durante o período pluvial do Camassiense.

 

O Homem de Saldanha

Vários achados vieram comprovar depois este facto. Em Janeiro de 1953, em Saldanha, 150 km a noroeste do Cabo, foi achado um crânio, que pôde ser reconstituído com grande probabilidade de exactidão. Revelou-se neanderthalóide e muito vizinho do Homem de Broken Hill, com afinidades também com os Homem de Ngandong (Homo soloensis), de Java.

 

O Homem de Rabat

Em 1933 J. Marçais encontrou em Mifsud-Giudice, perto de Rabat (Marrocos), ura fragmento de mandíbula e de palato com a dentição, de um mesmo jovem do sexo masculino, revelando caracteres arcaicos e algumas características comuns com o Sinantropo de Pequim,

Por outro lado, apresenta também parecenças com a raça de Neanderthal.

 

O Atlanthropus mauritanicus Arambourg

Em Junho de 1954 o Prof. Camille Arambourg descobriu em Ternifine-Palikao, perto de Mascara (Argélia), duas mandíbulas humanas, na mesma jazida onde tinham sido recolhidas fauna pós-vilafranquense e indústrias chelense-acheu- lenses. Uma compreende a arcada dentária quase completa, com todos os molares e um incisivo; a outra, apenas uma divisão dentária, a metade esquerda, com sínfise completa e com cinco molares.

Arambourg comparou estas duas mandíbulas com o grupo asiático oriental do Pitecanthropus-Sinanthropus, Mas algumas ligeiras diferenças levaram-no a criar um género novo: o Atlanthropus mauritanicus

Posteriormente, Biberson encontrou na pedreira de Sídi Abd-er-Bahman (Casablanca) um fragmento de mandíbula que se julga pertencer a um atlantropo.

A morfologia dentária do Atlanthropus mauritanicus é mais evoluída que no telantropo e alguns dos seus caracteres aproximam-no um tanto dos Australopitecos.

 

Os Homens de Kanam e Kanjera.

 

Em 1932, nas margens do lago Vitória, no sopé do Homa Moutain, foi descoberta uma porção de mandíbula, que teria sido incluída nos depósitos de Kanam, do pluvial Ka- guerense. Nos restos de Kanjera, localizados também no golfo de Kavirondo do lago Vitória, em sítio vizinho de Kanam, foram encontrados fragmentos de quatro crânios e uma porção de fémur.

Foram justamente estes restos humanos que mais controvérsia suscitaram entre os antropólogos, os quais foram unânimes em considerá-los de Homo sapiens. E isto levantava o problema de reivindicar para África a mais antiga morfologia sapiens até hoje encontrada. Mas as investigações do geólogo inglês P. G. H. Boswell no terreno não puderam precisar os estratos de onde as ossadas haviam sido retiradas, e houve dúvidas, por isso, na atribuição cronológica dos restos de Kanam e Kanjera

 

Quaternário recente (Gambliense e fases húmidas pre-gamblienses)

Gambliense

Primeira fase de Gambliense

O homem de Diré-Daoua (Etiópia)

Datando do pluvial Gambliense e das fases húmidas pre-gamblienses (Makaliense e Nakuriense), foram encontrados numerosos restos humana em África,

A primeira fase do Gambliense da África Orientai, associados às indústrias de tipo musteriense e capsiense, parecem pertencer o Homem de Diré-Daoua (Etiópia), o Africanthropus Mfarmensis, o Homem de Broken HM (Rodésia do Norte, hoje Zâmbia) e o Homo Neanderthalensis de Tânger (Marrocos) ,

Em 1923 H, Breuil e P. Wemert descobriram da Gruta do Porco Espinho, em Diré-Daoua, na Etiópia, uma mandíbula humana, muito robusta, sem queixo, com dentes grandes. É uma forma neanderthalóide.

 

Africanthropus njarasensis Weiuert

Em 1935, L, Kohl Larsen, na margem leste do lago Eyassi, ou Njarasa, na África Oriental, fez um achado que chamou logo as atenções do mundo científico: 230 pequenos fragmentos de dois ou três crânios muito mineralizados. H, Weinert reconstituiu parcialmente um e mostrou as suas afinidades com o Pitecantropo de Java e com o Sinantropo de Pequim: «crânio dolicocéfalo multo abatido; tórus eireum-orbital fortemente saliente; perfil frontal achatado, fugidio; região occipital formando uma protuberância saliente em carrapíto fraca capacidade cerebral, inferior a 1000 c. c. Da dentição só se conhece um molar isolado, assim como um canino e o primeiro pré-molar, situados num fragmento de maxilar que tem, além disso, os alvéolos de dois incisivos. Estes vestígios indicam analogias com a dentição do Sinantropo; por outro lado, o canino é relativamente mais forte do que nos homens, mas não há diastema entre estes e os incisivos.»

 

Para Weidenreich, o Âfricanthropus njarasensis não seria mais antigo do que os homens de NeanderthaL Dataria do Pleistoceno médio ou superior.

 

Homo rhodesiensis Woodvvard

O Homem de Broken Hill foi reconstituído a partir de um crânio e fragmentos vários descobertos entre 1921 e 1925 numa caverna soterrada por uma exploração de minérios de zinco e de chumbo numa colina doiomítica. Á primeira descoberta foi de um crânio, em 1921, por um operário. Depois A, s, Armstrong (1921) e A. Hrdlicka (1925) encontraram fragmentos de um segundo crânio, um húmero, restos de ba- cia, de fémur e de tíbia.

O primeiro crânio foi classificado do tipo de Homo rhodesiensis Woodward. Apresenta caracteres evoluídos (dentição e posição do buraco occipital) e caracteres arcaicos (prognatismo acentuado, tórus círcum-orbital muito saliente, 1280 c. c. de capacidade craniana l fronte fugidia, face alongada com nariz largo). É dolicocéfalo. Apresenta, pois, características do Homo neanderthalemis, com persistências morfológicas simiescas. Ê, assim, da raça de Neanderthal, mas com caracteres mais rudimentares que os dos espécimes europeus.

Os ossos dos membros encontrados em Broken Hill estão muito próximo dos do homem moderno, mas pensa-se que pertenceram ao Homo rhodesiensis.

Os achados de Broken Hill, pelas más condições de jazida, que a exploração mineira profundamente alterou, não puderam ser datados. Contudo, admite-se que os depósitos donde eles foram retirados sejam relatívamente recentes, dado que a fauna ali encontrada provinha quase inteira- mente de espécies ainda vivas. Por isso se deve concluir que se trata de uma manifestação tardia da raça neanderthalense, de um grupo que teria encontrado refúgio no Sul da África. De resto, está averiguado o papel conservador desempenhado pela África na distribuição de certos animais. As formas já fósseis na Europa desde os meados do Terciário persistiram no continente africano até muito tarde.

E de tudo isto se extraem duas conclusões: que a área de distribuição dos hominídeos neanderthalóides se estendeu à África, à África do Sul e à África do Norte, como aqui provaram as estações descobertas, e que eles ainda viviam neste continente muito depois da extinção dos Neanderthaienses da Europa.

 

O Homo neanderthalensís de Tânger

Com efeito, em 1939, em saibros provenientes de uma das grutas de Hércules, na margem atlântica da zona internacional de Tânger, 8 km ao sul do cabo Espartel, foi encontrado também um fragmento de maxilar de uma criança dos seus 9 anos. Revelou o mesmo tipo morfológico do Homo neanãerthalensis.

última fase de Gambliense

Os Homens do Capsiense do Quénia

À última fase do Gamblíense pertencem os Homens ão Çapsiense do Quénia, e os Homens ão Ibero-Maurusieme e do Capsiense ão Maghreb.

O primeiro grupo compreende o Homem de Oldoway, o Homem de Naivacha e os Homens de Gamble"s Cave,

 

O Homem de Oldoway

Em 1913 H. Reck exumou o esqueleto completo de um homem nas gargantas de Oldoway. O seu exame revelou que se tratava de tipo Homo sapiens. Surgiram dúvidas sobre a sua antiguidade, motivadas pelo facto de os ossos do esqueleto se encontrarem mais fortemente fossilizados do que os dos mamíferos achadas na mesma jazida. A posição dobrada do esqueleto e este facto convenceram que teria havido inumação, ligada a ritos funerários. E não foi possível, por isso, atribuir-lhe a antiguidade do depósito que o encerrava.

O crânio é muito dolicocéfalo, a face comprida e estreita, o nariz demasiado estreita, as órbitas muito altas, o palato longo e estreito, o queixo saliente. Há um ligeiro prognatismo alveolar». Tem os incisivos limados. Todo o esqueleto se aproxima dos tipos modernos e especialmente dos Massais, povo semicamita da Áfriea Oriental.

 

O Homem de Naivacha

O Homem de Naivacha foi descoberto em 1940 nas margens do lago deste nome. Encontrava-se associado a uma indústria do Gamblíense superior, O seu esqueleto mostra caracteres afins com os dos homens de Cro-Magnon, mais próximos do Homem de Combe-Capelle (Dordonha).

Entre 1927 e 1929 Leakey, mima gruta perto da granja pertencente a A. Gamble (Gamble’s Cave), chamada esta Mitimíngi Elmenteita, na região do Rift Valley, achou restos de cinco esqueletos, inumados em posições forçadas e cobertos de argila vermelha. Estavam associados a ossadas de mamíferos da fauna aetual. Parecem-se com o Homem ãe Naivacha e com o Homem de Oldoway, «de estatura elevada (1,80 m), muito dolicocéfalos, de face alongada e nariz estreito» I2, com um certo prognatismo maxilar, de órbitas angulosas mas altas. Não apresentam, porém, qualquer parentesco negróide, mas afinidades com as populações camitas e semi-cainitas do vale do Nilo e com a raça de Combe-Capelle.

 

Os Homens do Ibero-Maurusiense e do Capsiense do Maghreb

Os Homens do Ibem-Maurusíense e do Capsiense do Maghreb, todos do tipo Homo Sapiens, pertencem à última fase do Gambliense. Os Homens do Íberó-Maumsiense receberam esta designação por Barbin e Pallary quererem vincar as afinidades da cultura verificada na estação de Mouillah, perto de Mamia (Orão), com a Espanha do Sul. Breuil, E. Gobert c R. Vaufrey, porém, propuseram antes o termo de Oranieme; Reygasse preferiu o de MouUheme.

Agrupam os Homens do Ibero-Maurusiense, o Homem de Mechta el Arbi.

O primeiro foi descoberto entre os anos de 1927 e 1928 em Mechta el Arbi, entre Sétlf e Constantina; o segundo, em 1928, na gruta de Afalou-bou-Rhummel, perto de Bugia, por Arambourg. Ambos apresentam estatura elevada (1,72 m em média), ombros largos e alongamento do antebraço e das pernas. Caracteres do tipo Homo sapiens são «o grau de desenvolvimento cerebral, a abóbada craniana elevada, sem tendência para o achatamento, as órbitas rectangulares». De significação ritual, é a mutilação dos dentes incisivos. Revelam, pois, parentesco com a raça de Cro-Magnon, mas mais rudes que ela.

Ao Capsiense (de Gapsa) do Maghreb pertencem o esqueleto de Ain Metherchem (Tunísia) e o crânio de Kefum Tuiza (Constantina), Estes homens, embora mal conhecidos, parecem mais evoluídos do que os Homem do Ibero-Mtmm- siense.

Todos eles, os Homens ão Ibero-Maurusiense e do Capsiense do Maghreb, os Homem do Oldoway, de Naivacha e de Gamble's Cavef sendo do tipo Homo sapiens, mas sem caracteres negróides, não permitem íalar da existência de negros verdadeiros no Paleolítico superior africana. Só o Capsiense do Maghreb parece anunciar timidamente tipos negróides, O seu aparecimento em África, ou por imigração ou por diferenciação tardia a expensas de um «stock» comum primitivo, só se dá a partir do Neolítico.

 

Fases húmidas pregambliensis

Os Homens meso-neoliticos do Egipto

 

Todos os restos humanos datados das fases húmidas pós-gamblienses são do tipo Homo sapiens e alguns revelam caracteres tipicamente negróides.

Durante o Neolítico, os Homens de Mechta continuaram a existir na África do Norte, desde Batua até Orio, e indubitàvelmente em Marrocos apesar de o povoamento étnico do Maghreb não ser ainda absolutamente conhecido.

No Baixo Egipto (Merindé-Béni-Salame) e no Alto Egipto (El Ornar e Mostagedda), fósseis do Neolítico foram igualmente descobertos.

 

O Homem de Asselar

 

Em 1927, na estação de Asselar, a uns 400 km a noroeste de Tombuetu, na baeia de Tilensi, Besnard e Th. Monod encontraram um esqueleto humano quase Inteiro.

Estudado por Bouie e H. Vallois, revelou caracteres que o aproximam simultâneamente dos negróides de Grimaldi, dos homens de Cro-Magnon e dos actuaís Boximanes, Hoten- totes e Bantos. «O conjunto das suas comuns disposições ca- racteriza as raças melanodérmicas: dolicocefalia, hípsicefa- 11a, largura do nariz, prognatismo mais ou menos acentuado. [Possui], além disso, certos traços existentes também nos homens de Cro-Magnon: abaixamento considerável da face (e daí a desarmonia crânio-facial), fraca altura das órbitas, alongamento extremamente acentuado dos segmentos distais dos membros, antebraços e perna. Tem-se a impressão de que se trata de um grupo de formas provenientes de um fundo comum

.

Os Homens do Sudão

 

Em 1924 W, R. G. Bond descobriu em Singa e Abu Hugar, no Sudão, uma calote craniana. Em 1944-1945 A. J. Arkell e F. Debono fizeram inumações em Khartum, que liaram ao Mesolítico. Todas apresentavam caracteres negróides.

A calote craniana de Bond, talvez mais antiga do que os esqueletos de Khartum, não revelava afinidades nem com as populações actuaís do Maghreb, nem com as da África Oriental. Somente tinha semelhanças com o Homem de Bos- kop (da África do Sul).

 

Os Homens de Quénia

No Quénia foram encontrados entre 1918 e 1927 esqueletos inumados nas proximidades do lago Nakuro, no distrito de Elmenteita. Sensivelmente da mesma época devem ser os esqueletos de Nyrax Hill e de Njoro e os kjokkenmôããings das margens do lago Tanganíca. Todos eles mostram caracteres negróides mais acentuados do que os fósseis humanos anteriores.

 

Os Homens do Sul da África

A Raça de Florisbad

A África Austral forneceu um número assaz importante de fosseis humanos pós-gamblienses. Fundamentalmente, eles agrupam-se em duas raças: a raça ãe Florisbad e a raça de Boskop. Todavia, nem uma nem outra são tipicamente negróides. Os Homens ãa Late Stone AgeJ também sul-africanos e sensivelmente destas mesmas épocas, apresentam uma mistura de caracteres boxi- manóides, mongolóídes e australóides.

Em 1932, T. F. Dreyer descobriu um crânio, muito incompleto, em Florisbad, umas 30 milhas a noroeste de Bloem- fontein (Orange). Estudado ele por vários investigadores, uns afastaram a raça de Florisbad dos Neanderthalenses, ligando-a ao tipo australóide sul-africano; outros quiseram reconhecer nela caracteres neanderthalenses; outros viram nela parentesco com a raça de Boskop, e com os Australianos, e com o Homem ãe Broken Hill Á maioria, contudo, parece inclinar-se para a ideia de crânio australóide, como o são os dos esqueletos de Cape Flats (perto do Cabo), de Borãer Cave (distrito de Ingwavuma, Natal), de Bayville e de Mistkraal (perto de Fort-Elisabeth), Homo do Maghreb, os Homem do Oldoway, de Naivacha e de Gamble's Cavef sendo do tipo Homo sapiens, mas sem caracteres negróides, não permitem íalar da existência de negros verdadeiros no Paleolítico superior africana. Só o Capsiense do Maghreb parece anunciar timidamente tipos negróides, O seu aparecimento em África, ou por imigração ou por diferenciação tardia a expensas de um «stock» comum primitivo, só se dá a partir do Neolítico.

 

Fases húmidas pregambliense

Os Homens meso-neoliticos do Egipto

 

Todos os restos humanos datados das fases húmidas pós-gamblienses são do tipo Homo sapiens e alguns revelam caracteres tipicamente negróides.

Durante o Neolítico, os Homens de Mechta continuaram a existir na África do Norte, desde Batua até Orio, e indu- bitàvelmente em Marrocos apesar de o povoamento étnico do Maghreb não ser ainda absolutamente conhecido.

No Baixo Egipto (Merindé-Béni-Salame) e no Alto Egipto (El Ornar e Mostagedda), fósseis do Neolítico foram igualmente descobertos.

 

O Homem de Asselar

 

Em 1927, na estação de Asselar, a uns 400 km a noroeste de Tombuetu, na baeia de Tilensi, Besnard e Th. Monod encontraram um esqueleto humano quase Inteiro.

Estudado por Bouie e H. Vallois, revelou caracteres que o aproximam simultâneamente dos negróides de Grimaldi, dos homens de Cro-Magnon e dos actuaís Boximanes, Hoten- totes e Bantos. «O conjunto das suas comuns disposições ca- racteriza as raças melanodérmicas: dolicocefalia, hípsicefalia, largura do nariz, prognatismo mais ou menos acentuado. [Possui], além disso, certos traços existentes também nos homens de Cro-Magnon: abaixamento considerável da face (e daí a desarmonia crânio-facial), fraca altura das órbitas, alongamento extremamente acentuado dos segmentos distais dos membros, antebraços e perna. Tem-se a impressão de que se trata de um grupo de formas provenientes de um fundo comum.

 

Os Homens do Sudão

 

Em 1924 W, R. G. Bond descobriu em Singa e Abu Hugar, no Sudão, uma calote craniana. Em 1944-1945 A. J. Arkell e F. Debono fizeram inumações em Khartum, que liaram ao Mesolítico. Todas apresentavam caracteres negróides.

A calote craniana de Bond, talvez mais antiga do que os esqueletos de Khartum, não revelava afinidades nem com as populações actuaís do Maghreb, nem com as da África Oriental. Somente tinha semelhanças com o Homem de Bos- kop (da África do Sul).

 

Homens de Quénia

No Quénia foram encontrados entre 1918 e 1927 esqueletos inumados nas proximidades do lago Nakuro, no distrito de Elmenteita. Sensivelmente da mesma época devem ser os esqueletos de Nyrax Hill e de Njoro e os kjokkenmôããings das margens do lago Tanganíca. Todos eles mostram caracteres negróides mais acentuados do que os fósseis humanos anteriores.

 

Os Homens do Sul da África

A Raça de Florisbad

A África Austral forneceu um número assaz importante de fosseis humanos pós-gamblienses. Fundamentalmente, eles agrupam-se em duas raças: a raça ãe Florisbad e a raça de Boskop. Todavia, nem uma nem outra são tipicamente negróides. Os Homens ãa Late Stone AgeJ também sul-africanos e sensivelmente destas mesmas épocas, apresentam uma mistura de caracteres boxi- manóides, mongolóídes e australóides.

Em 1932, T. F. Dreyer descobriu um crânio, muito incompleto, em Florisbad, umas 30 milhas a noroeste de Bloem- fontein (Orange). Estudado ele por vários investigadores, uns afastaram a raça de Florisbad dos Neanderthalenses, ligando-a ao tipo australóide sul-africano; outros quiseram reconhecer nela caracteres neanderthalenses; outros viram nela parentesco com a raça de Boskop, e com os Australianos, e com o Homem ãe Broken Hill Á maioria, contudo, parece inclinar-se para a ideia de crânio australóide, como o são os dos esqueletos de Cape Flats (perto do Cabo), de Borãer Cave (distrito de Ingwavuma, Natal), de Bayville e de Mistkraal (perto de Fort-Elisabeth),

 

A Raça de Boskop

À raça de boskop foi descoberta em 1913 por F. W. Fitz- simons em Boskop, nas margens do rio Mooi, no Transval. Outros restos humanos pertencentes a este grupo foram encontrados em Springbok Flats (Transval), em Matjes River (arredores de Port-Elisabeth, província do Cabo), em Fish Hoek (perto do Cabo) e Tsitzikama (junto de Port-Elisabeth).

Apresenta relações com a raça europeia de Cro-Magnon e com os actuais Boximanes. Houve quem visse nela proto- boximanes de origem cró-magnóide.

 

Os Homens da Late Stone Age

Finalmente, referidos à Late Stone Aget foram achados numerosos restos humanos na Rodésia [Mumbwa (Wiltoniano) e Nachikufo (Naehikufense)], em Orange (Modder River), na província do Cabo (Keurbooms River, Oakhurts)... Todos os esqueletos revelam caracteres boximanóides, mongoloides e australóides.

Seriam os Homem da Late Stone Age os antepassados directos dos Boximanes actuais, A raça de Florisbad deixou em África menos representantes; segundo R, Broom, seriam seus últimos sobreviventes os povos hotentotes de Korana,

 

CONCLUSÃO

Não obstante todas estas descobertas, ficam em aberto apaíxonantes problemas. Um deles é o de averiguar se os australopitecos eram já homens; se eram, temos de aceitar para África ser ela o berço da Humanidade. O Proconsul africanus, do Mioceno do lago Vitória, pode militar na tese a favor desta hipótese. Mas tem de haver prudência em tais asserções, que carecem ainda de melhor comprovação.

Outro problema ainda insolúvel, é o dos possíveis pre-sapíentes da região do Quénia: se também o Homo sapiens teria surgido no continente negro. «As investigações recentes desmentem tais suposições, deixando sempre a possibilidade de que esta variante humana seja em África tão velha como na Ásia ou na Europa

Outros, como estes problemas, continuam insolúveis.

Seja ou não certo que a África tenha sido a pátria da Humanidade, e prós e contras há para dizer sim e para dizer não, a verdade é que, no estado actual dos nossos conhecimentos, os Negros apareceram lã tardiamente, só durante as fases húmidas que se seguiram ao último pluvial, só a partir do Neolítico.

Os fósseis humanos encontrados na África Tropical e Equatorial apresentam parentesco somente com a raça negróide de Grimaldi e com os Boximanes e Hotentotes actuais do Bui da África.

Ao longo do Pós-Gambliense a África continuou a ser ocupada por raças não-negróides, pelas raças de Florisbad e de Boskop, nenhuma das quais é tipicamente negróíde. A raça ãe Florisbad tem afinidades australóides, votada à extinção; a raça ãe Boskop revela afinidades predominantemente boximanóides.

Relativamente às populações actuais africanas, as etnias capsienses deveriam ter dado origem às populações medíterrânicas do Maghreb; o Homem de Asselar teria sido o antepassado dos Nigrieianos, dos Nilôticos e dos Congoleses do Camarão, Angola e África Ocidental; o Bomo sapiens das regiões habitadas pelos Camitas teria dado origem a esta raça de pele castanha e de morfologia de Brancos; os Homens da Late Stone Age, a raça de Boskop e o Homem ãe Asselar seriam os ascendentes dos actuais Boximanes e Hotentotes.